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cronicas-->Paulinho, o médium ligeiro -- 08/12/2000 - 21:13 (Luís Maximiliano Leal Telesca Mota) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Paulinho, o médium ligeiro


A explicação antes de qualquer coisa: os espíritas dizem que na infància muitas das crianças mantém um certo canal aberto com os espíritos. Isso se dá porque na tenra idade estamos mais próximos da vida passada e, portanto, um pouco ainda ligados a ela. Daí os bichos-papões, bruxas, gnomos e outros monstrinhos que nos levavam a termos medo do escuro. Todos eles, pois, espíritos de outras vidas.


Os pais, por sua vez, quando acontecem esse fenómenos, contribuem para a entrada na vida da pessoa que está se criando do que mais tarde vem a ser conhecido por ceticismo. Dizem que não é nada, que é da imaginação, que bicho-papão não existe etc. Assim, as crianças perdem o contato com o outro mundo, acreditam, como não poderia deixar de ser, nas palavras dos pais e deixam desamparados e frustrados os pobres espiritinhos que vão embora em busca de outras criancinhas para atazanarem.


Quando chega a adolescência, com a influência paterna diminuindo e, a exemplo do que ocorre na infància, coisas novas vão sendo descobertas, a cabeça da pessoa está aos turbilhões com todo o catatau de sentimentos, hormónios, (i) responsabilidades. Com isso, os amiguinhos do escuro voltam e começam de novo a perturbar a cabeça do adolescente. Aí é que entra o Paulinho.


O Paulinho, para quem não sabe, era aquele deficiente físico e mental que andava pelas ruas de Canguçu cavalgando um pangaré imaginário, falando com postes e tendo chiliques escandalosos que iam dos mais estridentes gritos acompanhados por espasmos, babas e, por fim, sons guturais.


Quando eu era criança tinha medo dele, depois fiquei seu amigo e, após conselhos do Roberto e do Pipino, virei seu protegido. É que o Paulinho, segundo a cultura oral de Canguçu, teria, na verdade, não um problema mental (físico ele tinha mesmo) mas um problema de mediunidade mal resolvida. Para nossa sorte, um terreiro de umbanda teria diagnosticado e resolvido o problema com sessões no candomblé. Mais tarde, com a pacificação de sua mente, veio a se descobrir que o Paulinho era um poderoso médium com poderes de vidência, desdobramento, premonições, enfim, um verdadeiro babalorixá.


No Paulinho eu encontrei o amparo que não tinha em casa, pois minha mãe, católica tradicional, não acreditava nas coisas que eu andava vendo. Muitas vezes em noites angustiantes e de grande medo, chamei mentalmente o meu protetor para afastar os espíritos que me obcecavam. Havia algum sucesso nessa reza, tanto é que o grupo de seguidores do nosso pai-de-santo aumentava a cada dia e, o que também impressionava, era o número de meninas assustadas que iam procurar o Paulinho.


Alguns de meus amigos mais próximos também faziam uso de tais serviços mediúnicos linha branca. Como citei, foi por causa deles que soube da existência dessa proteção espiritual. O Roberto, por exemplo, que já havia enfrentado a obsessão das almas penadas, foi auxiliado pelo Paulinho. O Pipino, que era chamado pelo original apelido de coisa-verde, não sei se tinha problemas com o além, ou se se aproximava devido a concentração de menininhas que orbitavam o médium.


O método do Paulinho consistia em, primeiramente, pedir uma fotografia para seus protegidos, principalmente para as meninas e, de preferência, de corpo inteiro e com pouca roupa. Em casa ou no terreiro ele fazia os trabalhos e depois abordava na rua o seu protegido perguntando se o havia chamado na noite anterior. Como naquela época eu andava "chamando" o Paulinho muita vezes, com frequência ele adivinhava a resposta. Nessa consulta informal, o Paulinho falava coisas vagas, de pessoas sem citar seus nomes, de entidades, situações comuns a todos e, com um índice razoavelmente alto de sucesso, acertava a previsão do futuro e os acontecimentos passados. Assim, sugestionando o interlocutor, o médium fazia crescer a legião de fãs e curiosos.


Ocorre que a reputação de Paulinho começou ruir quando ele iniciou a realizar suas proezas espirituais na Boate do Cruzeiro. Como naquela época vivíamos sempre meio fora do ar, aquela figura dando pinotes e gritando criava uma aura mística assustadora, mas depois começou a perder a graça.


Assim, apesar de cada vez mais frequentes os surtos psicóticos noturnos embalados por Morena de Angola, a moda Paulinho passou. Não me lembro ao certo o porquê de meu afastamento do Mestre, mas com certeza deve ter contribuído decisivamente para tanto o mau-hálito do médium que, nunca mais vi, assim como também não dei mais com vultos atravessando paredes.

LMT em 12/08/00
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