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Contos-->Sim, existe vida nas palavras -- 18/06/2010 - 20:15 (Alfredo Domingos Faria da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Sim, existe vida nas palavras

Bromélia, ainda combalida pela dengue, gritou para o marido:
- Fanfarrão, apanhe o dinheiro na burjaca, que está pendurada na chave do armário. Ande rápido!
O marido, do alto do corpanzil e munido do espavento peculiar, respondeu:
- Tenha calma, não é assim, estou me livrando do Genocídio que subiu na cama.
- Se você não vier logo, perco a Pantomima, que está por passar. Preciso pagá-la, ainda que com atraso de dias – explicou a mulher.
Nesse instante, entrou Taciturno, filho mais novo, com a habitual mudez, mostrando em suas mãos uma brocha das grandes, interrompendo temporariamente a discussão. O jovem é colecionador arraigado de tudo o que é possível juntar: teteias; berloques; repiques; chaveiros; canetas; bonés; caixas de fósforos; cinzeiros; canecas; sapos em terrários; tan-tans; canários em gaiolas; etc. Enche-se consigo mesmo. Basta-se!
- Pronto, por sua causa perdi a passagem da Pantomima. Ela está indo lá, repleta de gestos característicos. Eta, moleza! Vou ter que esperar o Jazigo, que só virá amanhã, se vier, pois é um “pilha fraca”, quase morrendo – da janela, reclamou Bromélia, acotovelada, acrescentando com raiva:
- Quer saber? Não tenho mais paciência. É a velha história: sempre se atrasa, não vê e não se lembra de nada, estando alheio a tudo. Estou convencida de que você não tem jeito. Deve ser, até, minha culpa. Assumo! O tempo do nosso casamento é maior do que o seu tempo de solteiro. A sua mãe está fora disso, coitada!
Essa cena transcorreu na casa de praia, bairro de Alfajor, cidade de Sucumbida do Norte, nos raros momentos de descanso de hoje. Os velhos bons tempos foram passados ali. Quando os filhos eram menores, não havia férias, fins de semana e feriados em que todos não estivessem presentes.
A situação atual da família, porém, é outra, diante da escassez de recursos. A realidade não comporta excessos. Os prazeres são cada vez mais incomuns.
Os filhos são três: Taciturno, já apresentado pela sua intromissão, Ermitão e Brisa.
Ermitão deixou os estudos de “luthier”, abandonou os pinhos, e embrenhou-se pelo interior, até que deu com os costados em uma ermida, iniciando-se na ajuda ao sacerdote local. Na verdade, esforça-se para não ser um leguelhé, mas o contexto não lhe é favorável. Nos “antigamentes”, viajava muito, ficando ausente por períodos extensos, o que provocou o seu afastamento do convívio familiar, principalmente dos arroubos espalhafatosos de Fanfarrão.
Ao tentar analisar o último dos filhos, vale indicar que Brisa é indomável. Locomove-se sem ser percebida, é fugaz. Parece estar em vários lugares em um só instante. Surge brandamente, esbanja leveza em sua presença. Sabe ser receptiva e delicada. Merece o apelido que tem: Benfazeja.
Presentemente, com a perda do emprego na fábrica de gineceus, Fanfarrão ficou sem rumo, tendo que passar a dedicar-se ao artesanato de onomatopeias, o que lhe toma muito tempo consumindo-lhe, inclusive, os sábados e domingos, além de produzir intermitentes sons ao labutar. Dedicar-se ao lazer ficou difícil, não havendo oportunidade para os jogos de celeuma com os amigos. Menos mal, porque dava muita confusão!
Resta a ele, na reclusão do banheiro, cantarolar: “bulimia, aqui me tens de regresso; e arrogante te peço a minha nova refeição...”.
A mulher, que não trabalhara antes, colocou-se a fazer pilhérias e peripécias para aumentar a renda. A venda lhe impõe mirabolantes sacrifícios. É dureza! Ainda bem que conta no empreendimento com a prima Lambreta, para percursos de poucos quilômetros. Quando esta falta, a colaboração parte da velha amiga Lamborghini, de resistência muito maior, que propicia trajetos mais longos.
Tia Estrepitosa, escandalosa, mas caridosa e carinhosa (e tudo o mais positivo que tiver “osa”), amofinada com a penúria financeira dos queridos, resolveu doar, vindas do sítio, compotas de mandinga. Umas, para variar o gosto, levam pitadas de engodo. São obtidos uns bons trocados pela iguaria, felizmente!
É preciso superar os tempos difíceis. Uma das qualidades dos seres humanos é a adaptação, embora haja sempre resistência às mudanças. A união das particularidades de cada membro da família, contudo, é boa medida para a recuperação, para emergir dos momentos de agruras.
Fanfarrão insere alegria e simplicidade. Bromélia é bom exemplo de resistência, sabendo guardar para quando faltar. Taciturno introspectivo, reservado, pode revelar-se um pesquisador. Ermitão, com suas experiências de virar-se sozinho, pelo mundo afora, tem o que somar quando o empreendedorismo se fizer necessário. Finalmente, Brisa distribui frescor, inocência e pureza, elementos necessários ao desempenho dos demais.
Alfredo Domingos Faria da Costa

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