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Contos-->Paixão de carnaval -- 21/06/2010 - 21:18 (Alfredo Domingos Faria da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Paixão de carnaval

A época era de quase carnaval, faltava pouco tempo. Soninha comparecia aos últimos ensaios da Escola de Samba do coração, que frequentava desde criança. Morena, com ar cheio de dengos, de formas corporais divinas. Mais que passista, é uma bailarina nata.
Acabara de conhecer Jorge numa roda de samba que rola toda sexta-feira no Planetário da Gávea, no Rio. O entendimento foi rápido, paixão fulminante, que redundou em namoro.
Havia diferenças claras de forma de vida. Ele desde cedo deixou os estudos para trabalhar duro, assumindo responsabilidades prematuras, o que lhe fez maduro demais para a pouca idade. Soninha, ao contrário, sempre foi mimada ao extremo pela família; alegre, espontânea, limitando-se a estudar e a entrar de cabeça no mundo do samba pelas mãos do pai.
A atração de ambos ficou óbvia. Os mundos distintos reuniram nuances interessantes. O sério se aliou ao lúdico.
Deve-se, contudo, valorizar o amor, que não discrimina, não faz opções racionais e futuristas, mas flui e arrebata as pessoas simplesmente, sem aviso prévio.
Encontravam-se todos os dias.
Jorge estava sempre junto. Trazia com ele a descoberta de um cenário recheado de novidades, onde o amor andava misturado à folia. Havia, até, uma ponta de ciúme daquela que transitava com tanta graça e arte pela quadra, sendo requisitada por muita gente.
A expectativa era enorme pelo dia do desfile tão esperado.
- Quero que ele desfile comigo. Sei que, como Diretor da Escola, você pode conseguir - pediu Soninha ao pai.
Havia um “clima” de desconfiança sobre aquele “grude” repentino e intenso. Os pais dela achavam que não deviam dar muita importância à relação, pois não havia condição de vingar.
- Desfilar ao seu lado não dá, de jeito maneira. Não vou provocar uma confusão, em cima da hora, para alguém que não é do ramo. Todas as alas já estão organizadas - disse o pai com desdém, colocando dificuldade.
O domingo da grande festa chegou.
Ali estava a Avenida. Era a artéria principal do corpo do Rio. A Sapucaí reunia as atenções com todos os seus sons, cores e luzes.
A Escola estava pronta, à beira de desembocar na passarela encantada, para contar uma história, onde todos são ilustres e têm igual valor.
O enredo abordava a fauna brasileira, destacando os nossos pássaros, o que permitiu ao carnavalesco, literalmente, dar “asas à imaginação”. Sua fértil inspiração produziu uma rica obra, onde coube referenciar a música “Passaredo”, de Francis Hime e Chico Buarque.
A bateria, com seus tucanos musicais, já fazia o “esquenta”, acompanhando velhos sucessos de outros carnavais.
Soninha surgiu linda, dentro de um biquíni de pedras coloridas, que davam luminosidade à moça-deusa. Como madrinha da ala podia mostrar o samba no pé com liberdade, ser uma estrela.
O pai, porém, não desprezou o pedido da filha. Refletindo, considerou que é impossível ignorar o desejo do coração. Preparou uma surpresa, que pode ter sido julgada, depois, de mau gosto.
- Pai, o Jorge quer desfilar, mas não sabe onde nem como. Ele me contou que você o chamou? Então você vai resolver, não vai? - rogou a querida com aflição.
A resposta foi afirmativa. Ele iria desfilar. Restava dizer como, pois não tinha fantasia, ala, nada.
- Sabe o nosso principal carro alegórico, o “Gaiola”? Será nele - indicou o pai como salvador da “pátria”.
- Eu não acredito que você vai pôr o menino em cima do carro – indignou-se a passista.
- Em cima, não. Atrás – houve o complemento.
Ainda, sentindo que não fora entendido, o pai explicou:
- Ele vai “no chão”, empurrando o carro, numa boa! Igual aos nossos. Já vestiu um camisolão branco e está pronto... Fique satisfeita, pois vai ter o moço à frente da sua ala, bem perto - concluiu, arrumando na cabeça o chapéu panamá, típico dos homens da diretoria.
O deslocamento dos componentes teve início, seguindo a evolução treinada. Tudo era alegria! Estava em formação uma bela revoada, contagiante. Um impulso tomou conta de todos para que, praticamente, alçassem voo.
Com o desfile começando, Soninha se foi.
A incômoda situação do namorado trouxe-lhe tristeza, pois foi impedida de contar com o parceiro, ao lado, na passagem triunfal.
Jorge, cumprindo a tarefa, desabafou para si:
- Meu Deus, em que aperto me meti! A minha mãe vai ter um “treco”, vendo pela televisão. Quer saber? Mesmo assim estou feliz! Não era como eu queria. Fazer o quê? Vou me deixar levar e curtir.
Assim, de olho na amada, mas desfrutando os preciosos momentos da Avenida, partiu para aproveitar, o que acabou sendo prazeroso, passando a jogar beijos para o público e a arriscar tímidos passos. Parecia um folião de verdade.
Nessa paixão de carnaval, a surpresa e a contradição estiveram presentes. O sonho maravilhoso acalentado por Soninha não se confirmou nem Jorge ficou desapontado. O imprevisível, normalmente, invade o “script” que apenas “tende” a se confirmar.
A partir daí, coube ao destino traçar o rumo para os dois. O que lhes sucedeu?!

Alfredo Domingos Faria da Costa
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