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Contos-->Minha amiguinha Nina -- 27/06/2010 - 16:28 (Ilário Iéteka) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Em meados de fevereiro de 2010, minha filha Juliana resolveu ajudar uma pessoa carente, a qual se encontrava muito doente. Quando estava voltando de um passeio com 3 amigos, um deles recebeu uma ligação, na qual a pessoa pedia ajuda porque estava sofrendo e precisava que fosse levado o mais rápido há um hospital. Os amigos resolveram ajudar e dividiram as despesas, um pagou a gasolina, minha filha usou seu carro, o outro comprou remédios para dor até que conseguissem o pronto atendimento para o homem.

Ao abrir a porta do carro para a pessoa entrar, Juliana avistou uma caixinha na mão dele. Dentro havia um pano preto, um pequeno pote com terra. Foi a única coisa que ele tinha nas mãos, nas costa uma pequena mochila velha com 3 peças de roupa e perguntou com todo o respeito se podia levar junto dele a caixa de papelão. Mostrava a preocupação do abandono porque era um amiguinho que a natureza havia entregado aos cuidados dele para não se sentir mais sozinho.

O homem foi internado no Hospital das Clínicas com muitas infecções, estava muito doente, febre, dores, tosse. Vimos nos seus olhos que seu desespero não era ficar num hospital, mas sim quem ficaria com aquela caixa que tanto zelava? O rapaz que estava junto disse que levaria, a moça disse que morava em apartamento e não tinha tempo para cuidar do tal amiguinho. Minha filha levou todos para casa, deixou a moça cuidando dos documentos do homem no hospital porque ela era da área de saúde e podia melhor orientar. De repente minha filha se viu sozinha no carro com aquela caixa e nem sabia o que era o tal amiguinho enviado pela Mãe Natureza, apenas lembrava da história que ele contou:
_ Cortaram uma árvore, daquele galho caiu um ninho. Tem poucos dias de vida, é um filhote de sabiá, não tem penas, somente penugens, apenas esta sobreviveu. Eu preciso achar alguém piedoso para cuidar dela, até que eu receba alta.

Por tantas mudanças neste mundo, apenas os pais sabem da preocupação que surge quando seus filhos começam a seguir caminhos que não temos mais controle. Juliana chega em torno de 23:00h da faculdade e naquele dia ligou dizendo que ia sair com amigos. Às cinco horas da manhã, chovendo e eu preocupado com a demora, ela resolve entrar pela porta dos fundos com uma caixa de papelão.

Lembrei-me de quando ela era criança, tinha mania de se preocupar com os animais moribundos nas ruas, nas valetas, principalmente filhote, trazia para casa, e minha esposa a acalmava quando o pequeno animal morria, explicando que Juliana não o deixou morrer sem assistência e carinho. Minha filha hoje adulta, olhou na caixa de papelão, viu uma bolinha cinza enrolada em uma touca preta. Ao tocar na caixa o bichinho abriu o bico pedindo para ser alimentada. Minha filha não teve dúvidas, o sentimento de criança chamou novamente e pensou: - Vou levar para o meu pai, ele saberá como cuidar. - Ela passou a mão na caixa que estava no carro. Vinha toda sorridente, sabia que a ave estaria em boas mãos. Em seus pensamentos lembrava que eu era cuidadoso, ajudava muitas aves no quintal de casa, dando-lhe frutas para a sobrevivência na cidade grande, e a certeza daquela velha assistência que dávamos aqueles animais quando ela ainda estava no ensino fundamental. Juliana tinha a convicção que eu ia salvar o amiguinho da morte.

Minha filha chegou toda entusiasmada, mesmo o dia amanhecendo, cansada e me vendo ainda sonolento, disse:
_ Pai adivinha o que eu te trouxe? Uma coisa para o senhor...

Eu notei que tinha nas mãos uma pequena caixa e trazia com delicadeza, fiquei pensando em que a menina estava aprontando, gritei:
_ Juliana! Não quero saber de gatos, nem de cachorros. Tenho duas cadelas, minhas galinhas no quintal, isto me basta!
Respondeu-me com tristeza e com o mesmo pedido de criança com animais que achava na rua:
_ Mas pai é um filhote de sabiá, a coitadinha ficou sem lar!

Contou-me uma história triste, cheia de melodramas. Ao certo parecida com aquela o senhor a comoveu e também não tive como recusar. No mesmo momento que colocamos a caixa sobre a pia da cozinha, eu dei inicio ao trabalho e limpei a caixa. Fiz papas de bananas e alimentei aquela criaturinha que não parava de abrir o bico. Em seguida, eu tive que ir procurar minhocas pelo quintal. Não era possível acreditar, o que esta ave comia, ela ia assustando a gente. A sabiázinha devorou quatro minhocas em segundos, depois ficou quietinha. Naquela madrugada, mesmo contra minha vontade, começou uma amizade que eu mesmo desconhecia o quanto seria importante para a família.

Todos os dias, minha jornada matinal era ir atrás do seu prato predileto, as minhocas! Era sua principal alimentação, além de frutas que a danada adorava. Em pouco tempo as penas começaram a nascer, achei por bem dar um nome, Nina foi o escolhido. Um mês depois estava toda empenada, pronta para voar, era hora de ganhar a liberdade porque sou contra o aprisionamento de aves. Nos fundos da minha residência, tenho um pequeno pomar, com várias árvores frutíferas. Seria um lugar ideal para sua vivência junto as suas conterrâneas. O caquizeiro cheio de frutas, goiabeira carregada de frutos maduros, uma cena ideal para primeira tentativa. Com a gaiola nas mãos fui até o local, antes de soltar a ave, eu e minha esposa ficamos emocionados, nossos olhos encheram de lágrimas, não sabíamos como ela iria se adaptar fora do seu antigo lar. Abrindo a gaiola, percebi que Nina não se atrevia sair do seu poleiro.

Estava com medo, parecia pedir socorro, se falasse, nos diria: - Por favor vocês não vão me abandonar? – Eu e minha esposa ficamos mais de uma hora observando, até que Nina arriscou e pulou em um galho. Toda sem prática de voar, foi subindo aos pulos de galho em galho, parou na parte alta do caquizeiro, lá permaneceu o resto do dia. Ao cair da noite veio a surpresa, chamei pelo seu nome, gritei: - Ninaaaaa...!!!! – Ela ligeiramente desceu com dificuldades, mas chegou onde queria, entrou em seu lar e estava com fome. Tranqüila, alimentava-se de bananas e minhocas. Apenas saiu novamente, dois dias depois. Agora sim ela estava pronta para novas aventuras, preferiu a liberdade e esqueceu do conceito que a gaiola era seu lar.

Ela vive paparicada, nossa amizade é conhecida por todos na família. Ela parece me entender, é só chamar Nina, que em questão de segundos está junto a mim. Hoje conhece até o lugar onde guardo suas minhocas. Ela sabe onde deixo a suas frutas.

Toda manhã corto folhas verdes para as galinhas, eu fico sentado na calçada de casa, ela fica ao longe mas basta a fome apertar lá vem ela a me beliscar. Então converso com minha parceira:
_ Sei que está com fome, está na hora de sua refeição?
Caso eu deixar de servir as suas minhocas, vem pulandinho pelos degraus, pula nas minhas mãos e belisca, voa até o balde que está os verdes e fica de olho dentro dele, aguardando-me a terminar o trabalho para as outras aves. Quando a ansiedade lhe bate, pula até uma tampa velha de panela e começa a bicar, para que o barulho me chame a atenção, parece que quer dizer: - cadê a minha sobremesa?

No jardim quando estou trabalhando, Nina é minha companheira, se ficar duas ou três horas, ela não arreda seus pés do meu lado. Ela fica catando toda espécie de bichinhos, é só indicar com o dedo que a danada sabe o que estou lhe dizendo, vai sem titubear e papa o inseto. Quando estamos dentro de casa, por exemplo na cozinha, se a porta está fechada, ela vai até a janela e fica fazendo um barulho, um piado e me procurando. Se a porta está aberta, parece inacreditável, mas ela vai pulando, sobe o degrauzinho, anda pela cozinha, sobe a mesa e muitas vezes pede seu arroz ali mesmo, e depois voa para fora. Se estou na sala assistindo televisão, ela voa até a grade e fica próximo as janelas, tenho a sensação que sabe até os locais aonde fico dentro da casa. Quando há no céu gaviões, ela vem rapidamente do quintal me avisar, fica em desespero e faz um barulho, e fica a me espionar. Tenho que pegar algo nas mãos e mostrar que estou brigando com os seus inimigos para Nina se acalmar. Ela é muito inteligente. Conquistou a todos, até as cadelas não correm e provocam Nina, que se tornou o animal de estimação da casa, ou melhor fora da casa.

Admiro esta ave, seu conhecimento acaba mostrando muitas estratégias de sobrevivência. Muitas vezes coloco uma pequena bacia sobre suas frutas, não quero que outras aves lhe roubem sua alimentação, se ela não estiver bem alimentada, começa a bicar no plástico, sei que quer comer um pouquinho mais. Pelo seu gracejo já interpreto a comunicação que temos, isto quer dizer “tire esta coisa daqui porque não saciei a minha fome ainda”.

Temos muitos momentos juntos pelo dia, e muitos deles eu fico conversando com a Nina, ela me escuta, arregala os olhos e vira o pescoço em minha direção, como olhasse nos meus olhos e prestasse atenção na minha expressão corporal. Ela chega pertinho, pula na minha mão sem medo, parece-me que tenta dizer obrigado por cuidar de mim e me ensinar a viver. Eu fico entretido, passo os minutos sem eu perceber, temos brincadeiras, eu digo para ela - Pula Nina, Pula...- e ela gosta de brincar pousando no meu dedo indicador, belisca-me, pula de um lado para outro fazendo a maior farra. Isto me faz tão bem.

Hoje a casa tem o ar de suas malandragens, sei que esta amizade será para sempre, porque as lições que aprendemos um com o outro, fez com que Nina faça parte da família. Eu me preocupo com ela , tenho medo que vá embora. Existem predadores naturais, os gatos que moram ao lado de minha casa, os gaviões-caranchos. Tudo é relativo para a Natureza. Dependendo da astúcia de Nina e do que eu possa fazer por ela, Deus protegerá a todos, e nada irá atrapalhar a nossa convivência, o homem e a natureza. Todos vivendo em harmonia, sou um privilegiado por esta convivência. A preocupação do homem que nem conheço que a recolheu nos primeiros dias e este pequeno gesto de minha filha ao trazer aquela caixa deu-me uma grande alegria. Não me sinto triste em comprar de sete á oito quilos de bananas por semana, para as outras aves que vivem no meu terreno também, compro mais vinte quilos de quirera para as rolinhas, pardais e chupins. Ao anoitecer gosto de ouvir, a algazarra das aves que escolheram minha casa como lar, sinto-me um são Francisco aqui no bairro das novas gerações. Mas demonstrar afeto e amizade, apenas uma única sabiázinha que possui o porte menor que todas, mas inteligência superior a um bando. A verdade é que somos companheiros leais, amigos para se guardar dentro do peito, o homem que tentou salvá-la tinha razão, Nina nasceu e a Natureza enviou para não deixar alguém sozinho, e o destino mostrou que não era aquele homem, mas simplesmente, eu e Nina..
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