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Contos-->Artimanhas da Dona Bárbara -- 28/06/2010 - 18:25 (Alfredo Domingos Faria da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Artimanhas da Dona Bárbara

- Como vai a Dona Bárbara?
- Minha mãe vai bem – respondi ao meu amigo Raul, iniciando a relatar a novidade que ela, agora, “apronta” nas festas para as quais é convidada.
Lá pelas tantas das reuniões, aniversários e outras festividades, sem nenhuma ciência ou saber, mas com muita arte, resolve fazer leitura das mãos daqueles que ali estão.
A sua sorte é que as pessoas encaram com humor a iniciativa, como uma diversão, além da curiosidade. Tem ocorrido de receber convites motivados pela pretendida atuação de animadora, o que lhe traz satisfação e orgulho, veja só... Exemplificando o prestígio alcançado, sábado passado, à noite, estava à porta um transporte, especialmente, contratado para levá-la a um “party”.
Seu aspecto físico é magrinho, de baixa estatura e cabelos longos. Seu aspecto físico é magrinho, de baixa estatura e cabelos longos. Não é ao acaso que não possuo mais de um metro e sessenta centímetros de altura. Tenho a quem sair.
Passa ela a encarnar o personagem, com maestria, sem antes se fazer de rogada, dizendo-se sem dotes para tal. Diante da insistência da “plateia”, finalmente, dá início à “performance”, que tem no vestuário um valioso coadjuvante, pois são misturados ares de cigana e de cartomante, com direito à saia rodada, estampada, blusa bufante e brincos de argolas.
O semblante é compenetrado, com a seriedade que o “ofício” impõe. Consegue criar suspense e mistério, prendendo a atenção dos ouvintes. Usa palavras difíceis e de duplo sentido, tornando a aventura interessante; e lança, para realce, o artifício de fechar, vez em quando, um dos olhos.
Pondo em prática a atividade, dirige-se a cada um que lhe dá a mão, em voz pausada, indicando seus traços de personalidade e fazendo previsões de futuro. Para tal, é claro, e não podia ser diferente, baseia-se nos conhecimentos que detém das pessoas, suas conhecidas, ainda que escassos, e nas observações “in loco”.
Solicita entre as “consultas”, para criar um “clima”, algo para beber, fazendo intervalos calculados, longos, o que faz as pessoas ficarem ansiosas pelo recomeço. Quando lhe oferecem bebida alcoólica, não aceita, confessando-se abstêmia e contrária ao vício, seja ele qual for. Essa postura é um dos artifícios empregados para dar credibilidade, porque em casa mantém ao lado da cama, sem falha, um copo de vinho tinto. Quem lhe priva da intimidade sabe.
Às vezes, porém, exagera na dose da falação e traz para si situações desagradáveis.
Segundo me contou, ao ler a mão de um senhor, já com seus setenta anos, sugeriu-lhe arranjar uma companhia para o final da vida, imaginando-o solitário e carente, pois não havia constatado no recinto uma acompanhante para o coitado. Aí, a situação complicou-se, devido à reação da própria esposa, muito mais nova, que surgiu de outro grupo, dizendo-se boa cuidadora do companheiro, acrescentando que ele não era sozinho e nem estava para morrer tão cedo. Para desfazer a confusão precisou de toda a sua lábia, alegando que a vista cansada pelos anos havia lhe traído na hora da leitura.
Certo dia, aconselhou a uma moça, que estava de casamento marcado, que desfizesse o compromisso, uma vez que suspeitava ser o cidadão um vigarista mulherengo. Escapou de uma sova graças à intervenção da dona da casa, que intercedeu, “abafando o caso”, alertando que a mesa estava servida para o jantar. A fome do pessoal teve mais força. Quando a interpelei sobre a maçada, respondeu que vira o noivo na varanda, minutos atrás, de paquera com uma jovem, todo derretido; e a intenção era prevenir.
O outro tropeço revelado, que parece ter sido o último, foi quando, após observar um rapaz tossindo junto à porta do banheiro, conseguiu lhe dizer, com auxílio do “além”, que tirasse uma chapa do pulmão. Um médico presente apontou a gravidade do conselho, que poderia gerar várias consequências, sendo algumas desastrosas.
Um fator que lhe é favorável nas suas peripécias é a carência das pessoas. A necessidade de boas novas e do conforto para as aflições, geralmente, torna a assistência receptiva e crédula. Daí surge o espaço para as atuações de Dona Bárbara.
Sendo o assunto sobre comida, adverte que come feito um passarinho, de acordo com a pouca quantidade que ingere. Trata-se de outra invencionice! Na realidade, é uma “morta de fome”. Metida à polida, mas não rejeita prato algum! Ao sair das festas, passou a ser contemplada com lembrancinhas e verdadeiros farnéis com comida. Adorou a ideia! Aprova o agrado, embora reconheça a conotação de pagamento pelos seus “serviços”. Entendo ser uma vergonha! O que fazer? Ela é assim...
Recebe sugestão para aprimorar seus “conhecimentos”, se os tivesse, e, até, são indicados cursos para realizar. Desculpa-se, apelando para o hipotético, qual seja o dom nato, que diz ter. Apega-se ao imponderável, invocando as qualidades de sensitiva, lembrando, espertamente, que essas virtudes não são aprendidas na escola.
Enquanto a coisa estiver revestida de humor e for compreendida como ingênua, tudo bem! Cuidado, no entanto, deve ser dispensado ao empreendimento de Dona Bárbara, porque, dependendo das circunstâncias e dos excessos, podem advir situações constrangedoras, sendo difícil ou impossível revertê-las. Pode-se imaginar, exagerando, que suas histórias, um dia desses, fiquem a tal ponto sem governo, que resultem em “cana dura” para a autora. Afinal, poderá haver a alegação de invasão de privacidade ou algo parecido. Será?! Não à toa, os sentimentos são os seus ingredientes. Que Deus proteja a criatura ou a faça desistir da façanha!

Alfredo Domingos Faria da Costa
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