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Artigos-->Ser feliz -- 19/01/2003 - 12:24 (Hamilton de Lima e Souza) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Alguém sugeriu que os alunos fizessem uma redação sobre felicidade, e o que chamou atenção é que os alunos começaram a falar sobre tudo o que não tinham, transformando os textos em relatos de miséria naquela escola, perdida na periferia da capital.

Um disse que gostaria de deixar a rotina de acordar todos os dias as cinco da matina, junto com o cantar de alguns galos, para dar comida aos porcos, lavar cavalos no curral e ter que ir para a sala de aula todo sujo, com o corpo ainda marcado pela lida na fazendola do pai.

Outro achou que felicidade seria poder assistir televisão durante toda noite, junto com o pai que ficou cego trabalhando numa empresa de metalurgia que não oferecia óculos de segurança, reduzindo os olhos do homem a enfeites incrustrados no rosto. O garoto chorava enquanto escrevia, pensando nos olhos do pai.

Zé Pedro, um dos mais agitados, escreveu apenas que felicidade era quando seu pai tomava muita cachaça e caía na rua, antes de chegar em casa, evitando as surras constantes em sua mãe e irmãos, que temiam a presença do homem. Zé Pedro escondeu o papel no momento em que escrevia, temendo que todos soubessem do alcoolismo do pai e da vergonha da família.

Roberta, que era filha de Juliana, mulher de programas, escreveu que felicidade consistia em ganhar presentes dos homens que a mãe trazia para o quarto nas noites de final de semana. Juliana exigia além do cachê, doces e salgadinhos para a família, e a clientela não reclamava. A mulher era bonita e a filha e seus primos gostavam de guloseimas.

A noção de felicidade de André consistia em juntar tampinhas de garrafa, e sua coleção contava com milhares, de todos os tipos, das tradicionais de lata até as de plástico, sendo atração do barraco, enroscado num morro ao lado do rio, poluído por esgotos e dejetos industriais.

A noção de felicidade passava sempre pela antítese das realidades, buscando a fuga da criatividade, do cessar de choros, gemidos, fome, injustiça social. Não era felicidade que os alunos, desejavam, mas sim o direito de cidadania.

Os professores envolvidos pela sugestão haviam escolhido um clube de campo para analisar os textos, e após os relatos, que eram muitos e recheados de carência, resolveram inovar introduzindo assistentes sociais na escola, rastreando necessidades e oferecendo alternativas. Tentaram consertar as falhas do Estado e da humanidade.

Ser feliz é um conceito que passa por cidadania.
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