Toda vez que vejo um professor na rua, numa sala de aula, enfrentando problemas como a falta de material adequado, salários mixurucas, alunos indisciplinados, supervisores castradores, diretores que apenas cumprem ordens e secretários de educação interessados em apresentar estatísticas para o governo federal paro para analisar as controvérsias de nossa sociedade.
Os professores têm baixos salários, inventam um monte de atividades complementares para não passar fome, fingem que estão num nível superior sem poder comprar livros e participar de cursos de reciclagem, e para completar ainda são esmagados por pais de alunos que transferem suas responsabilidades de criação num momento em que a instituição família pouco ou nada vale.
Os professores são os responsáveis pela formação de cidadãos, mas o Estado, esta instituição capenga e quase falida no Brasil, esquece de valorizar os profissionais de ensino.
Muitos acreditaram que a presença de Fernando Henrique Cardoso fosse mudar a situação dos mestres, mas o eminente sociólogo e Presidente da República trouxe apenas alguns paliativos e serviu para mostrar a omissão de prefeitos e governadores no processo de ensino, com denúncias de desvios de merenda, verbas para construção de escolas e outras espalhadas pelo país.
Os professores, soldados de infantaria do processo educacional, foram esquecidos, embora hajam alguns cursos para aumentar o nível intelectual de vez em quando, do tipo Prohacap. Mas ninguém se lembrou dos salários.
Os professores ficam torcendo que um aluno mais bem sucedido tenha veículo para pegar carona, ou então disputam os carros dos poucos amigos que possuem um fusquinha 66 para oferecer gentilezas.
Os vales transportes entram e saem da composição de salários, gratificações são colocadas por uns governos e retiradas por outra, fazendo com que os mestres aprendam a caminhar e andar das bicicletas, fedorentos e teimosos no seu ofício de repassar conhecimentos.
Os professores são coisas estranhas, apesar de importantíssimos para a sociedade, por trabalharem sempre contra a maré.
Para os intelectuais parecem figuras de textos de Schopenhauer, se esforçando para não dizer que a vida é sofrimento, para os pais de alunos, os salvadores da humanidade. Para os governantes uma massa de reprodução do sistema dominante, e para outros, mais atrevidos e menos cultos, um grupo de quem se pergunta: "é gente"?
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