O ambiente de veloz mudança em que nos encontramos representa uma fonte de oportunidades como jamais houve. Liberdade de ação e pensamento, desmistificação de tabus, arquivamento de ideologias e valores poeirentos. Um grande Eldorado, em que basta estender a mão para prosperar e a fama instantânea pode
estar espreitando à próxima esquina.
Mas então porque apenas uma pequena parcela parece conseguir se projetar? Porque grande parte de nós, simples mortais, ao invés de prosperar, sente - não confessa, é verdade - vazio e
inaptidão em fazer escolhas criativas e tomar decisões? Porque o trem da história parece estar passando e nos deixando na mão?
Tendemos a nos moldar ao ambiente e, rodeados de insegurança e desprovidos das "redes de segurança" do passado - fortes obrigações familiares, planos de carreira traçados por nossas empresas, relativa facilidade de se obter estabilidade financeira, etc - acabamos por nos entregar ao imediatismo e até ao vale-tudo.
Levamos ao pé da letra a determinação de fazer uma revolução em nossas vidas e, ao tentarmos nos despir de antigos conceitos, acabamos atirando tudo ao lixo. Embriagamo-nos de liberdade e libertinagem. O velho lema tupiniquim "se tudo
muda toda hora, pra que planejar?" parece mais verdadeiro do que nunca, e por ele dexamo-nos levar.
Então, inseguros, deixamos de inovar e ousar e vivemos ao sabor da correnteza. Buscamos soluções
imediatistas, "remendos" de curta duração - auto-ajuda barata, medicamentos, drogas.
Iludimo-nos com a fama instantânea, produto da mídia que muitas vezes apenas mascara anos de trabalho árduo e "invisível". Fracassamos sem saber porque.
Seria, então, o Eldorado uma ilusão? Sim e não.
Fundamentalmente, enganamo-nos na forma de interpretar seus caminhos. Temos dificuldade em enxergar, mas na verdade, o mundo "sem fronteiras" gera um paradoxo que insistimos em não internalizar: quanto maior a "liberdade" e ausência de regras do ambiente, maior a necessidade de se organizar e disciplinar nosso mundo interior para obter resultados.
Para tirar proveito da liberdade, necessita-se disciplina, projetos, perseverança, conceitos aparentemente "antigos", mas mais vitais do que nunca. Porque não há mais quem os faça por nós - pelo menos não com a mesma força de antes.
Necessitamos que as estruturas responsáveis por nosso equilíbrio interior e pelo norte de nossos objetivos, metas e planos de ação em todos os campos da vida partam de nós mesmos.
Precisamos nos tornar auto-didatas e criar nossas "fundações" por conta própria. Esta é uma tremenda tarefa, para a qual a maior parte de nós não está preparada e requer uma grande dose de "organização interior". Parecemos o estudante que, acostumado a escrever redações com temas impostos, fica "bloqueado" no dia do "tema livre".
Se a ausência de limites e a total liberdade de ação fosse a saída para uma vida realizada e produtiva, os desempregados seriam felizes e criativos e aproveitariam seu tempo, os
nascidos em berço de ouro multiplicariam seu patrimônio - ao invés de dilapidá-lo -, e por aí vamos.
As palavras "regras" e "disciplina", para nosso próprio prejuízo, adquiram uma conotação negativa neste admirável mundo novo. Muitas vezes confundimos o significado desses termos, imaginando que recorrer a eles resulta em uma volta ao passado, à rigidez e à submissão e supressão de desejos. Engano.
A diferença do antigo modelo de vida é que as regras agora são referenciais de conduta, não dogmas. O indivíduo de sucesso pessoal saberá equilibrá-las com ludicidade e espaço para abstração, direcionando a energia vital para um lado e para o outro, como um pêndulo.
Mente quem diz possuir um manual para essa nova era: apenas a introspecção verdadeira e a curiosidade incessante nos levarão ao nosso Eldorado - este, aliás, primariamente
interior, complexo e multifacetado, e não exterior como a mídia e alguns grupos de interesse querem nos fazer crer. Também incessantemente mutável - ainda bem, pois senão tudo ficaria um tanto sem graça.