Você conhece um herói? Nenhum? Só os antigos, levantados pela História oficial? Tiradentes, Dom Pedro I, Caxias, Joaquim Nabuco? E o resto da turma do Império e meia dúzia dos períodos republicanos e ditatoriais?
E o resto caro leitor? Esqueceu dos revolucionários, como Frei Caneca, Antônio Conselheiro, Zumbi dos Palmares, Bento Gonçalves, Líbero Badaró, Vladimir Herzog e outros tantos?
Qual o seu conceito de herói? Só aqueles que estiveram a serviço da nobreza, garantindo as desigualdades sociais e estabelecendo padrões políticos questionáveis?
Como você vê os trabalhadores das esquinas, vigilantes de empresas, empregadas domésticas, vendedores de cachorro quente, churrasquinhos e balinhas nos sinaleiros?
É, são heróis. Sobrevivem de zelar pelo patrimônio da burguesia, construem todos os dias um país, e na maioria das vezes são anônimos, só saindo do anonimato quando transgridem uma vontade qualquer da sociedade conquistando a página 11 dos jornais e horários de desgraças nos programas de rádio e televisão.
Uma massa gigantesca de trabalhadores levanta cedo todos os dias, faz hora extra sem receber, tem seus valores do FGTS surripiados por patrões, morre nas filas de hospitais públicos, chacoalha em transportes coletivos sem qualidade, come mal, adoece, e isso para eles é rotina.
Qualquer cidadão em pleno juízo evita estes problemas, mas eles existem para a maioria do povo, este conceitual exército de trabalhadores que produzem as riquezas e os serviços que garantem um mínimo de conforto para uma pequena parte da população, que os pensadores classificam como burguesia.
E para recompensar esta massa, toda vez que morre um prefeito, deputado, vereador, senador, presidente, uma rua ganha estes nomes, de políticos, esquecendo que os heróis são gente comum, que apenas trabalha todos os dias, enfrentando toda sorte de dificuldades, inclusive assaltantes nas ruas e vielas, sem a proteção devida do Estado que ajudam a sustentar.
O herói é o cidadão que vive situações de extremos e consegue se sair bem. Conceito simples. A cidadania inversa dos brasileiros acaba colocando mais da metade da população na categoria dos heróis, apesar de você não saber disso. |
