Sem um referencial mais apropriado de imagens para relatar a epopéia de Rondon nas matas amazônicas, escolhi um filme cujo momento histórico era mais ou menos coincidente para exibir aos alunos do curso de Jornalismo da Faro; Baile Perfumado, direção de Paulo Caldas e Lírio Ferreira.
Um filme cujo tema é a saga do libanês Benjamin Abrahão, que pretende realizar um filme sobre o maior mito do Nordeste brasileiro, Virgulino Ferreira, o Lampião, herói de miseráveis e bandido para o governo.
Sem dúvida, com orçamento decente, seria uma grande produção. Mas o filme, embora tenha servido a propósitos pedagógicos, revelou aos alunos também a pobreza do cinema nacional, obrigado a tratar de temas tão importantes quanto vida de Virgulino e do próprio Benjamin, um documentarista arrojado dentro dos seus parcos limites, uma das vítimas da falta de visão dos empresários de sua época e das esquisitices políticas do Brasil.
Benjamin, com muito custo, até conseguiu algumas vitória, buscando fontes, levantando dados, tentando levar ao mundo informações sobre um homem considerado bandido no meio da miséria do sertão, onde os coronéis dominavam o cenário político. Benjamin despertou a ira das autoridades, realizou furos que hoje renderiam prêmios e fama internacional, e revelou ao mundo a face indomável do homem nordestino, que a seu modo, enfrentava um sistema de desigualdades econômicas.
Benjamin pagou o preço de ver além de sua época. Hoje quem estiver disposto a fazer uma entrevista com as Farc, com remanescentes da Unita, Al Qaeda, Sendero Luminoso ou qualquer outro grupo guerrilheiro acaba se consagrando.
Gerações novas de jornalistas têm vontade de fazer o que faziam pioneiros como Benjamin, e quando o fazem são recompensados. Lembrem o caso de Ana Paula Padrão, da Rede Globo, visitando o Afeganistão.
Seu retorno foi retumbante. Reconhecimento da fibra de uma repórter que soube enfrentar grandes perigos.
Quem quer ser arrojado como Benjamin? Ou como Tim Lopes? Vale a pena? A resposta está no interior de cada um.
Pena que o cinema nacional não tenha recursos suficientes para abordar melhor o tema. Um filme com boa fotografia, sonoplastia comprometida, mas difícil de assistir, a não ser por quem espírito investigativo.
De qualquer forma, serviu para mostrar aos alunos como andava o país na ditadura getulista, com seus altos e baixos no setor de comunicação. Quanto a Rondon, não tem documentário em Porto Velho para mostrar a pujança do trabalho do homem que trouxe os telégrafos para o sertão. Que pena. |