Hoje, caminhando sozinho
Pelas ruas e becos da cidade,
Quando ia alta a lua
Com sua trêmula e pálida luz
Clareando o meu caminhar,
Uma aguda dor senti no peito
E uma profunda tristeza
De mim se apossou.
Por estar sozinho na noite
No perambular sem destino
E rumo certo,
Pus-me a meditar.
Meditar sobre minha vida
Dura e sofrida,
Como sofrida e dura
É a própria existência.
Meditar sobre
As guerras que tanta gente dizimam,
A fome que devora crianças, jovens e idosos,
As doenças que tantas vidas ceifam,
A maldade impregnando tantos corações.
Meditar sobre
As injustiças que invadem o mundo,
A perseguição do forte aos fracos
A escravidão dos fracos pelos fortes,
A servidão dos pobres aos ricos.
Meditar sobre
Os tantos que não podem se instruir,
Os tantos que não conseguem trabalho,
Os tantos forçados ao crime,
Os tantos forçados a mendigar.
Meditar sobre
A corrupção dos políticos
Encastelados no executivo e no legislativo;
A política que virou profissão
De gente esperta que se perpetua no poder;
A democracia que aceita estas infâmias
Sustentadas pelos arrochados contribuintes.
Enfim, meditar que
A aguda dor que senti no peito
É muito pequena face a grande dor do mundo,
E a profunda tristeza que senti
É infinitamente pequena
Face a infinitamente grande tristeza que assola o mundo.
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