O JARRO CHINÊS
Laiz mendes Souza e Melo
(Treze anos)
Foi uma sexta-feira, dessas como outra qualquer. Todos em casa como todos os outros dias e o jarro chinês com decorações rústicas, um jarro lindo no centro da mesa, o preferido da mamãe, que era uma senhora recatada, conhecida como dona Dolores. Papai, um velho resmungão, o Adair. Vitória, minha irmã caçula, e eu uma jovem inocente, ou não. Reunidos à mesa e de repente as luzes apagaram e um estrondo, quando volta à luz, percebemos algo estranho.
– Aaah!!! Grita mamãe, vidrando os olhos na mesa. O centro das atenções, o que sempre atraia mamãe à mesa, o colírio para seus olhos na hora das refeições.
− O jarro! Diz ela apavorada.
Papai resmunga:
− O que foi, mulher?
Ela se debruça sobre a mesa e diz:
− Ele está quebrado!
− Já sei que vai dar problema, disse papai, tinha que ser esse jarro, meu Deus? Porque não quebrou o jarro que a vizinha deu, já estava em tempo! Ele só fica no banheiro da Dolores para que ninguém o veja. Mas colocamos ele na sala quando a vizinha vem nos visitar.
Mamãe grita:
− Adair, vamos colar os cacos, esse jarro é muito importante para mim.
Ela desesperada tenta ir colando os caquinhos.
− Vamos Adair, me ajude!
− Ah, claro...
Duas horas depois...
−Mamãe, esse jarro não fica pronto nunca? Já é a décima primeira vez que vocês estão colando esse jarro, diz Vitória.
−Tentando colar esse jarro você quer dizer, disse eu, cansada de sempre passar pela sala e ver mamãe juntando os cacos de um jarro que, sei lá quantos anos tem, ou melhor, tinha. Um bagulho velho, não sei por que dar tanta importância.
Depois de mais de meia hora tentando colar o jarro chinês, mamãe levanta-se da mesa e grita.
−Eu desisto!
Quem alegrou-se com a notícia foi papai.
−Finalmente! Não preciso mais juntar cacos.
Quase aos prantos, mamãe senta-se no sofá e fala baixinho:
−Nunca mais quero ver um jarro na minha frente!
Ela joga fora todos os jarros da casa.
Um mês depois é o aniversário da mamãe.
Ela entusiasmada:
− O que será que eu vou ganhar de presente?
Chegamos em casa, papai, Vitória e eu com o presente da mamãe e papai diz:
− Dolores, adivinha o que é seu presente?
− Um sapato? Um vestido? Uma televisão de 42 polegadas?
− Não, nada disso...
Ela abre o presente e...
− Um jarro?
Ela fala em tom de frustração.
− O que mais pode me acontecer?
− Esse é chinês também?
− Como você adivinhou?
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