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Contos-->Bem, compre lâmpadas -- 22/08/2010 - 09:24 (Alfredo Domingos Faria da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Bem, compre lâmpadas

Gracinha disparou em seu celular mensagem para a lista completa de contatos, por engano, é claro!
Ela queria, apenas, avisar ao marido da necessidade de lâmpadas para a casa. Produziu, então, a seguinte “pérola”: “Bem, compre lâmpadas. Beijos - te amo”.
A mensagem foi parar em um sem-número de destinos. Alcançou pessoas das relações atuais e das passadas. Íntimas ou não. O estrago foi completo.
Por consequência, a amiga Solange acabou se lembrando do aniversário da Gracinha, passado há pouco. Aproveitou o contato para cumprimentar, mesmo com atraso. Desculpou-se, falando da estranheza quanto ao pedido da compra. Risos. Esclarecimentos feitos. Mas Solange ficou com a sensação de que a amiga teria dado um “toque”, em função da última visita feita. Talvez, tivesse observado alguma luz apagada. Será que ela queria passar algum recado nesse sentido? A cabeça da gente dá voltas, né?
O médico ginecologista, óbvio, não entendeu o lembrete e o restante do bilhete. Ficou intrigado. Telefonou polidamente para saber se ela estava com problemas de saúde.
A prima imaginou que o marido havia registrado em sua distraída cabeça uma das conversas da noite anterior, que foi justamente sobre lâmpadas precisando de reposição. Ficou feliz da vida. Recordou-se do ditado: água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. Respondeu sem pestanejar: “Querido, você tá na rua. Não faça cerimônia. Compre – te amo, também”. Sentimento em vão! Quando Elivândio chegou a casa de mãos vazias, a mulher questionou o resultado. Logicamente, ele não sabia de nada, revelou-se inocente. Aí, foi ela quem passou por uma “saia-justa”. Alegou desconhecer a origem da mensagem, sem a ter identificado “a priori”. Considerou que somente ele poderia tratar de um assunto caseiro somado à declaração de amor. Mais tarde, retornou a ligação e ficou sabendo da confusão.
Vó Albertina, leitora compulsiva de livros policiais, de imaginação ilimitada, ficou com o sentimento de que a neta mandara uma mensagem cifrada. Estaria em apuros a coitada. Queria, na certa, revelar algo perigoso ou constrangedor. Oh, Senhor!
Ficou Albertina, no entanto, emocionada com o carinho expressado - mesmo em situação delicada, a pobre dedicou seu amor. Tratou de sair o mais rápido que pôde, para resolver a pendência. Provocou um grande susto ao chegar, sem avisar, àquela hora de um domingo, à casa da neta. O imbróglio foi desfeito. Ufa!
O ex-cunhado, afastado há alguns meses, não entendeu nada. Brincando, brincando, disse para si: “A Gracinha está ficando “détraqué”, eu não sabia... Não nos falamos há tanto. Não compreendo as duas coisas – a coisa louca da compra e a declaração inusitada. Será que pretende a minha reaproximação com a irmã? Sem apelação, não dá mais”.
A manicure abstraiu, desconsiderando a estranha revelação amorosa, e estabeleceu, simplificando, que a referência às lâmpadas continha erro. Na realidade, entendeu que D. Gracinha deveria estar precisando dos seus serviços. Respondeu o comunicado com um resumido: “Tô indo. Levo o esmalte preferido. Cida”.
Quanto à faxineira, não houve repercussão. Achou que era trote: “Tão clonando o celular dela”. Assunto fechado.
Gracinha, católica praticante, participa ativamente da paróquia Sangue de Cristo. Carrega no pescoço a medalha protetora de Nª Sª da Graças, não à toa. Foi catequista, inclusive. Pois bem, o Padre Fritz também recebeu a mensagem. Não escapou. Respondeu a ela no figurino religiosamente correto: “Filha, Deus nos ama infinitamente. Devemos devotar amor uns aos outros. Conversaremos mais tarde sobre as lâmpadas”.
Bom, outras pessoas foram alcançadas pelo equívoco, o que trouxe no final, embora de forma imprevista, boas gargalhadas.
Fica a ideia de que a tecnologia ajuda, mas quando mal-usada ou com desconhecimento causa danos, arrasa quarteirões.
Emoções podem ser desafiadas, com consequências desastrosas. Várias reações vêm à tona: inveja, ciúme, raiva, surpresa, apreensão, e assim vai, sem fim. A contrapartida pode ser séria e inesperada. As pessoas ficam alteradas, surtam quando instigadas. Com a atual onda de golpes desferidos por telefone, ficamos todos descompensados quando recebemos alguma chamada considerada inesperada ou desconhecida.
Então, Gracinha, minha querida, tome cuidado com os contatos feitos por meio das máquinas diabólicas. Elas são traiçoeiras. Pratique o velho e bom bilhetinho. Ele é bem mais romântico, emblemático e, por fim, seguro. São muitas as possibilidades oferecidas por meio do papelzinho e do lápis, nem precisa de caneta. Aquele bilhetinho deixado no criado-mudo, debaixo da porta ou, ainda, dentro da agenda, tem seu valor e eficácia.
Certamente, os grandes amores e as importantes notícias da história saíram dos recados escritos. Vale lembrar o que motivou o Grito do Ipiranga. D. Pedro recebeu o comunicado indicador da urgência e, em seguida, desembainhou a espada libertadora do Brasil.
Alfredo Domingos Faria da Costa
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