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cronicas-->Belezas da minha infància -- 05/09/2006 - 14:22 (Maria Luiza de Almeida Prado Luna Freire) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Belezas da minha infància
Maria Luiza Luna Freire

"Se há uma pessoa que possa, a qualquer momento, arrancar da
sua infància uma recordação maravilhosa, essa pessoa sou eu."
Cecília Meirelles

Também eu, a qualquer instante me transporto às belezas da minha infància. Recordo estrelas que pensava serem os olhos dos santos nos olhando; casas sempre abertas, claras, iluminadas; a preta querida - tão querida! - contando histórias dos meus antepassados ao pé da minha cama ou, entre tantas outras lembranças que ela deixou em mim, abrindo a garrafa de guaraná, depois de tê-la sacudido, para comemorarmos a chegada do ano novo; o quarador de roupas da casa da minha avó Esther; o viveiro - tão grande para o meu tamanho tão pequeno! - cheio de pássaros coloridos e cantantes, no qual meu tio entrava e me deixava maravilhada de tanta coragem! Os quartinhos do fundo da casa da minha avó, em Jaú, tão cheios de histórias de minha mãe pequena, histórias algumas vezes contadas, mas sempre misteriosamente fantasiadas por mim, tão criança...tão precocemente sonhadora! Recordo fazendas de café com os "infindáveis" morrinhos que faziam o carro subir e descer encantadoramente pelo caminho que levava à sede; o abacate amassado na própria casca, pela bá Laura, - baiana, brava, querida - e consumido em cima do abacateiro; o abacate que, embora não combinasse com meu paladar, magicamente se transformava no néctar dos deuses gregos, tão absolutamente desconhecidos pela inculta inocência de mim criança; o fogão à lenha do qual costumava me esquivar amedrontada; os carnavais; eu boneca, eu havaiana, eu baiana, eu cigana...; a hepatite no carnaval! As marchas carnavalescas chegando do clube Pinheiros até a minha cama; a tristeza por não poder participar daquela "matineè"; o carnaval de 1959; a hepatite que tocou o coração do meu pai e, carregada até o carro com uma fantasia de melindrosa ,fomos, eu e ele, para o corso da Avenida Brasil; a alegria por ter um pai que não me queria triste; as nuvens brancas, lá em cima, que mudavam de formato; as horas passadas deitada no chão olhando as nuvens se tornarem elefantes, navios, véus de noiva e toda sorte de imagens imaginadas na minha imaginação sem fim. Recordo os passeios de bicicleta, o vento em meu corpo, em meu rosto, em minha alma, me levando a voar para onde ele começa (onde será que o vento começa? - na minha bicicleta eu sabia -); a careta desenhada com carvão no quintal para chamar o sol em dias nublados, ou o ovo para "Santa Clara clarear, São Domingos alumiar...vai chuva, vem sol..."; o tanque - tão alto!- do apartamento de minha avó e minha tia-avó - ah, Tica, tão querida Tica!- no qual eu lavava (?) roupas (?) em cima de um banquinho; as balas de cóco em tiras que eu ajudava a Tica a cortar; o relógio cuco do corredor do apartamento (por onde andará o relógio cuco do apartamento da minha avó Alzira e minha tão amada Tica?). A cama da Tica na qual meu sono puro de criança era aquecido pelo calor-amor de seus braços me abraçando; as festas de aniversário, tão carinhosamente preparadas por minha mãe; os bolos das festas de aniversário que só as mãos da Tica sabiam fazer; os pesadelos durante as madrugadas que iam embora para longe quando minha mãe milagrosamente aparecia e eu voltava a dormir segura; a estátua sem braço da pracinha Morungaba; o ping-pong na sacristia da igreja São José enquanto a missa não começava; as missas do sem paciência e amoroso Cónego Eugênio; a procura das duas queridas cabecinhas grisalhas na missa; o encontro e a caminhada juntas para o almoço dominical na casa da minha tia - tão especial tia! - Zi; a perua DKV dirigida por minha tia-alegria, Tatá, chegando no dia das crianças cheia de presentes; o vestido da minha primeira comunhão; o meu "vestido de noiva" da minha primeira comunhão; a viagem de avião até Recife; a rede do terraço da casa alugada de Recife, pra lá de Boa Viagem (como era mesmo o nome da praia que ficava pra lá de Boa Viagem?). A rede ia alto, muito alto, quase tão alto quanto meus sonhos. Os botos. Os botos nadando na beirinha da praia e eu sentada na areia olhando-os entre maravilhada e amedrontada, esperando a hora deles irem embora e chegar a minha vez de entrar no mar. O mar. O Guarujá. O meu pai parado, olhando para mim da mureta que separava a calçada da praia, chegando de surpresa de Manaus. A minha alegria ao vê-lo. A corrida pela areia quente para o abraço compensador pelas saudades e pés queimados. As histórias dos seringais do Amazonas da vovó Alzira (será que algum dia eu ainda consigo chegar até lá?). A casinha de bonecas. Os meus irmãos e primos, cúmplices de tanta infància!
Recordo estufas perfumadas; bocas-de-leão arrumadas no vaso da sala de visitas; roseiras que abrigavam nossos umbigos quando caiam, para dar sorte; amores-perfeitos do canteiro da casa de amores da rua Antonio José da Silva...
Também eu arranco recordações maravilhosas da minha infància. Também eu guardo dentro de mim as magias e encantos de mim criança. Perpetuadas na minha alma. Inextinguíveis.



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