O que os cientistas inventaram para qualificar um ser humano como portador de um grau de inteligência que o distinga de seus semelhantes é apenas mais uma das tantas experiências que os primatas que escrevem tem a registrar.
Inteligência, aptidão, capacidade de sobreviver ou de sobressair, seja lá o que for, o termo não consegue realmente diferenciar um homínida que vive em tocas ou cavernas de um indivíduo que freqüenta centros de conscientização universal.
E é por isso que o homem primitivo, de sociedade aparentemente menos complexa, embora carregue seus tabus e leis próprias, é tão etnocentrista quanto o erudito, o escolhido das letras.
Os antropólogos têm catalogado experiências das mais diversas em meios rudes e evoluídos tecnologicamente.
O homem primitivo, menos mau, é substituído pelos tendenciosos que usam a filosofia e a capacidade de racionalizar para projetar pensamentos excludentes e odiosos, numa tentativa de eliminar grupos rivais.
O jornalista Diego Araújo, do periódico Zero Hora, em apanhado sobre os inteligentes maniqueístas do século passado, encontrou o registro do racismo científico, uma moda que dominou o planeta durante metade do século 20, com adesão de milhares de inteligentes .
O autor encontrado foi Fernando de Azevedo, reformador educacional e elaborador do livro A cultura brasileira , em 1943, que projetava em seus delírios o branqueamento do Brasil, através de sucessivas miscigenações onde as raças negra e índia seriam eliminadas do continente.
Segundo o comentário do jornalista gaúcho, Azevedo, compartilhando das teorias estúpidas que eram discutidas nas faculdades européias e americanas, acreditava numa nação de olhos mais bonitos, traços europeizados, como as raças superiores . Espasmos nazistas entre a elite intelectual brasileira, impressionada com o desenvolvimento bélico e econômico de uma Alemanha em busca de expansão de mercados.
Azevedo teria escrito, do alto de sua sabedoria: As raças negra e índia estão desaparecendo, absorvidas pelo branco .
Os negros, mulatos e índios compunham em 1999, 45,5% da população brasileira, segundo as estatísticas oficiais.
Os intelectuais e os não eruditos são semelhantes, se estiverem a serviço da segregação. O ódio racial os torna tolos, irmãos em beligerante idiotice. Mas é bom saber que os catedráticos também erram. Isso os torna humanos novamente. Egos superiores cometendo erros primários. Humanidade exacerbada.
Embora a humanidade não sirva como referência positiva para primata que se preze. |