Esta história de datas comemorativas é um pouco estranha, sempre tem cheiro de hipocrisia.
A Páscoa, legítima festa dos judeus para comemorar o fim da escravidão sob o jugo egípcio, virou festa de chocolate.
O Natal, que deveria celebrar o nascimento de um homem com idéias libertárias, virou obrigação de entrar no sistema de consumo, que é uma forma de escravidão de massa.
O resto todo acompanha. Dia do trabalhador, 1º de maio. Não há o que comemorar. Estão querendo retirar todos os direitos dos trabalhadores brasileiros. É um bom começo. A burguesia ansiosa está acenando com os primeiros passos para que uma revolução tome conta das fábricas, escritórios, repartições públicas e quartéis. Ninguém vai conseguir tolerar tanto espólio e finalmente a ganância capitalista vai trazer o remédio mais amargo, a revolução espontânea e desorganizada, que espalha sangue, saque e desgraças. Tudo por que não querem dividir as rendas, apenas diminuir o número de indivíduos em condições de usufruir bens e serviços.
Os saques de vez em quando acontecem, mas a mídia não conta para preservar a imagem de sucesso dos governos.
Durante o governo Sarney foram dezenas ou centenas, ninguém sabe ao certo. Do nordeste até São Paulo.
A fome faz perder o juízo, a vontade de obedecer e dá coragem de enfrentar qualquer polícia.
Os dirigentes e os ladrões de verbas não sabem disso. Estudam para dominar a sociedade e se tornam burros.
Chega de falar em trabalhadores. Temos a bela data do dia das mães. A minha nunca entendeu que me recusei a comprar um cartão comercial, pois todos os dias lhe dava pelo menos um beijo e demonstrava o meu afeto.
Meus pais acharam que eu fui desnaturado. Demonstrei racionalmente que eles estavam sendo usados pela mídia a serviço das grandes lojas, para fomentar uma onda de consumo, garantindo o lucro extra de bancos e financiadores de bagulhos.
Disseram que entendiam meu posicionamento, mas cobraram o cartão e o presente do mesmo jeito.
Não entenderam nada. Assumiram seu lugar de peões no grande tabuleiro capitalista. Eu não.
Esqueçam as mães, temos a libertação dos escravos, tão bonita. A sociedade capitalista em busca de novos consumidores pediu para libertar negros, a fim de que trabalhassem, comprassem, e ficassem idiotas igual aos brancos.
Que beleza. Sem a menor condição. Cito o sambista Carlinhos Maracanã, oportuno em afirmar que quem estava no tronco gostou, mas foi apenas um paliativo. Passaram a apanhar do sistema, racista e excludente.
Datas hipócritas, todas amontoadas. E ainda tem um monte pela frente.
Rancor? Não, sou proletário, operário de letras. Substituíram o tronco pela legislação trabalhista, frouxa, e ao invés de homenagear a minha mãe, que inclusive já é morta, prefiro tentar descobrir quanto cobra a mãe de um burguês por uma rapidinha. Proletário e mal educado, além de iconoclasta, diria um velho professor. |