Será que o suor e a cultura combinam? Parece que não. Em certas circunstâncias.
O MEC já havia divulgado há dois anos que os livros didáticos distribuídos na região Norte e Nordeste se perdem numa proporção de quase 40%. Questão de clima e condições inadequadas de armazenamento.
Eu esqueci disto, e encontrei um bom livro sobre análise do discurso, publicado em Rondônia, pela Unir. Foi o suficiente para saber que além da leitura tinha mãos com excesso de suor.
Tive que parar a leitura para encher a capa do livro de fita adesiva, proporcionando um tipo de impermeabilidade para o frágil material.
Eu tinha a fita adesiva, mas as crianças da Amazônia e do Nordeste não têm, e quando querem aprender, superando o trauma social da falta de comida que os obriga a trabalhar mais com a enxada do que com os lápis e cadernos, ficam sem sua matéria prima, os livros, que além de tudo estão num nível de linguagem muito superior ao de seu entendimento.
Isto ocorre principalmente a partir da quinta série, no ensino fundamental. O vocabulário dos livros não faz parte da realidade das crianças.
É apenas um dos motivos que os faz abandonarem as escolas. Tem a falta de merenda também, que vez por outra é surripiada por quem devia zelar pelos estudantes.
Ah, pobres estudantes, suam na roça, suam nos livros, transpiram em busca do saber, adquirem cultura dominante para serem dominados e perpetuarem os modelos injustos da sociedade.
Ah, tenho que dizer que todos os autores dos livros de cunho social dizem isso, mas os materiais didáticos podem melhorar com certeza. As editoras são bem remuneradas pelo governo federal, que é quem fornece os livros para os estados.
As crianças do Norte e do Nordeste podem e merecem tratamento diferenciado.
Além da qualidade do material didático, precisam ver também diretores de colégios e responsáveis pela merenda escolar que se desviam na cadeia.
Assim aprendem cidadania e podem acreditar que existe um sistema equilibrado de governo, não apenas um sistema que lhes proporcione falta de cultura, de chances, de comida, e suor de enxadas e campos, sinaleiros e favelas para seu futuro. Cultura se faz também com justiça, além de suor. |