A festa não acabou, pois nem mesmo acabou e já falta arroz, feijão, rapadura e carne-de-sol. Churrasco nem pensar José, a não ser de ratazanas descuidadas, como as que pulam pelo seu jardim, outrora verde, ou nas praças e palácios dos governantes.
Você pensou que arrumaria tua vida e votou naquele homem José, de novo, mas que inocência camarada...
Acreditou na propaganda oficial, comprou brinquedos chineses, palmito boliviano, manteiga do Uruguai, leite da Argentina, papel higiênico japonês, tudo no cartão de crédito. E agora José?
O plano real era temporário, mesmo para você, que sempre andou na onda para defender o sonho burguês...
José, quem diria que você entraria no PDV da multinacional com todo aquele orgulho, como é que isso pode acontecer meu irmão?
Vai continuar batendo no peito acreditando que a seleção de futebol resolve tudo enquanto enche a cara de pinga barata nas esquinas José?
Gastou o dinheiro todo em frescura e agora cambaleia nas ruas José, mas como pode ser?
José, a escola do seu filho tem mais tiroteio que a favela cheia de traficantes. Que país você construiu cidadão? Votou na direita prá construir isto?
José, sua mulher fugiu com o patrão, teu time caiu para a terceira divisão, a prestação do barraco foi pro espaço e o sistema vai te tomar a maloca.
Mas que país você esperava José?
Você José, que sempre acreditou que o governo era uma dádiva de Deus, elogiando sempre os prefeitos e governadores, presidente, agora com esta aparência maldita, sujo, amarelo de cirrose, mas que é isto compadre?
Você deixando o filho vender porcarias no sinaleiro para ajudar a sustentar estas pingas e o pó que come tua alma? Que é isto José?
Quebra a garrafa José, acorda para a vida. Tem um comitê para trabalhadores logo ali na esquina. Tira o filho do sinal, ajuda a arrumar a escola, tem gente nova prá te ajudar José. É José, no braço do relógio.
Isto José, olha para a esquerda. Muda o discurso José. A vida continua, apesar de você, amanhã há de ser outro dia. |
