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Contos-->UM FILME JAMAIS ESQUECIDO -- 05/11/2010 - 02:25 (Ilário Iéteka) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Janeiro de mil novecentos e sessenta, Francisco, irmão dentre o mais velho, estava preste a partir para o quartel, cumprir com os deveres de um bom brasileiro, patriota ferrenho. Ele não via a hora de chegar, estar fardado, um sonho de menino, defender a Nação com orgulho. O irmão Otávio achava uma bobagem, não queria ficar longe dos pais, dizia que o lugar dele era dividir o trabalho no sítio.
Ele pensava que Francisco poderia esquecer a família permanecendo no exército, como os dois irmãos eram apegados não admitia esta separação. Juntos, sempre aprontavam, divertiam-se, não se largavam por nada. Otávio estava triste, a hora fatídica estava chegando, pensava:
_ Eu não poço chorar ao ver meu irmão partindo, para um homem isto não pegara bem, não serei covarde, vou dar lhe um abraço arrojado, desejando-lhe sorte.

Francisco estava preocupado com o irmão, como nunca saíram do sítio, pensava:
_ Como vou me acostumar na cidade com pessoas desconhecidas? Se ao lado de irmão me sinto feliz e seguro. Agora irei enfrentar um mundo desconhecido, não vou recuar, preciso aproveitar esta nova vida. Ir ao futebol, passear, assistir filmes. Eu quero desfrutar o máximo deste ano. Gostaria que meu irmão Otávio estivesse comigo. Ele ficaria de boca aberta com a grandeza da cidade, sairia do ostracismo. Ele só lidava com animais, arar, carpir, muita coisa para o coitado. Até esta data só trabalhando, nunca foi à cidade passear. Um cinema não tinha a menor idéia o que significava. Meu prazer será buscar o mano para assistir um faroeste ou Bang-Bang como dizíamos na época.

O sonho ia se realizar e assim matariam a saudade porque há três meses não se viam. Os irmãos estavam cheios de novidades um para o outro. Como a saudades não parava de doer, Francisco escreveu uma carta pedindo para o irmão vir à cidade. Para conversar, passear, queria mostrar as belezas do lugar, o quartel no qual estava prestando serviços. Na carta foi explicado como chegar ao lugar, o próprio ônibus o deixaria em frente ao exército para se localizar com facilidade. Dez dias depois, Otávio desembarcava pelo portão do quartel. Que surpresa para ambos, muita alegria, as lágrimas rolaram em suas faces como fossem crianças. Os irmãos estavam animadíssimos mas com receios devido a ser ainda o horário de expediente. Francisco pediu que Otávio aproveitasse as novidades da cidade grande e uma delas era ir ao cinema, porque ganharia tempo com o irmão se divertindo e o expediente só iria acabar dentro de três horas.


Francisco explicou detalhadamente como fazer Otávio deveria pegar o ônibus, descer na praça, em frente encontrara o Cine Império, explicou:
_ Você entra na fila para comprar ingresso, procure um lugar não longe da tela, sente e aguarde o filme começar. É um Bang-bang de ótima qualidade, é matinê, ficará lotado de crianças e adultos. Você vai gostar!! Depois que terminar aguarde-me no centro da praça, iremos jantar e sairemos em busca de diversões. Otávio, você entendeu? Quer que explique novamente?
Otávio respondeu:
_ Claro que entendi pode ficar calmo.
O ônibus parou e Otávio tomou a lotação em direção ao Centro. Francisco começou a ficar preocupado, não via a hora de ir ao encontro, às cinco horas conforme o combinado.

De repente lá estava o irmão a espera de Francisco, parecia nervoso e chateado.
_ Otávio, eu estou preocupado. Algo aconteceu? Roubaram seu dinheiro? Por que está assustado, diga-me o que ouve por favor!
Ele respondeu:
_ Francisco, você nem imagina como paguei um mico! Jamais vou esquecer como é duro ser matuto!

Francisco na sua ansiedade implorava para o irmão contar o ocorrido. Otávio começa a decorrer:
_ Por favor pode até rir de mim...só não deboche da minha ignorância. Eu passei a maior vergonha da minha vida! Por ser bronco, sem ter conhecimento, falta de cultura, vou te contar. Primeiro, eu fiz o que você mandou, realmente o filme foi espetacular, gostei, parecia que estar vivendo as cenas, fiquei tão concentrado, que me perdi no tempo. Escuta só o que fiz mano velho. Havia o grande suspense da cena final... o mocinho e seus amigos prepararam uma emboscada no desfiladeiro com dinamites, entendi que esta armadilha era o único meio que eles tinham para eliminar o bando de pistoleiros e ladrões de gado. Eu estava atento, parecia tão real! Eu estava torcendo pelo mocinho se sair bem. Naquele momento o bando entrou desfiladeiro, o herói da luta pediu aos amigos para acenderem os estopins e esconderam-se entre as pedras. Os ladrões vieram velozes com seus cavalos, eles estavam escapando do xerife e de seus ajudantes, ao atingirem o local das dinamites, uma grande explosão! Um estrondo espetacular e o desmoronamento, o bando foi eliminado. Com o final, todas luzes foram acesas. Pra meu espanto ouvi aquela barulheira sem fim, todos levantaram e foram em direção da porta. Naquele pavor, para mim, o teto do cinema estava caindo com a explosão das dinamites, fiquei apavorado! Saí correndo atropelando todos que estavam na minha frente. Não respeitei ninguém, derrubei crianças, empurrei muita gente, passei por duas senhoras bem vestidas. Igual a um cavalo em disparada. As pessoas mais de idade começaram a xingar, dizendo-me:

_ Está louco?? Seu mal-educado! O que pensa estar fazendo aqui?
Num piscar de olhos, Otávio respondeu aos gritos: _ Eu só quero salvar minha pele!! Não vou esperar que o teto desabe sobre mim! Eu continuei a trancos e barrancos em direção a porta de saída!
Terminando de contar a façanha ao Francisco:
_ Mano ao sair percebi a mancada, notei que as crianças estavam rindo, trocando gibis na maior calma. Olhei para o cinema, imaginando ver poeira da explosão e nada! Tudo estava sereno e eu com o coração quase saltando pela boca. Que susto rapaz!!! Não vou esquecer dessa experiência enquanto viver!
Os irmãos começaram a rir como dois malucos, gargalharam por mais de cinco minutos. Aquilo foi demais para o cotidiano de Otávio e disse:
_ Francisco? Que dia extraordinário você me proporcionou, quando casar e tiver filhos...como farei para contar a eles, sobre o meu primeiro filme que assisti na cidade grande? O que iram dizer?
Francisco respondeu:
_ O futuro não podemos desvendar, mas pela vergonha que passou, com certeza vão rir como nós estamos rindo agora.
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