Segundo Peter Bichsel, o papel do escritor é contar uma história sobre a impossibilidade de se contar uma história.
Sem contar histórias, o ser humano - e isso todo mundo sabe (?) - não sobrevive.
Narrar: uma necessidade vital, o maior de todos os inventos humanos. Faculdade que, se perdida, urgentemente precisa ser recuperada.
Ao contar suas histórias, o escritor mostra ao leitor que também ele pode contar a sua própria história.
E só é digna de ser vivida, uma vida que também possa ser contada.
A História mata a possibilidade de existirem as histórias. Desconfiar sempre das palavras que não podem ser ditas no plural.
Daí, segundo o autor suiço, o fracasso de tantas revoluções. Porque apostaram na História. Os personagens, passado o momento revolucionário, acabam sempre se sentindo traídos, impossibilitados de narrar, de contar suas próprias histórias, perpetrando uma existência de monumentos, de estátuas, figurantes, marionetes de algum sistema, quase sempre escravocrata e opressivo.
[Peter Bichsel nasceu em 24.3.1935 em Lucerna, na Suíça. Formou-se em Pedagogia e, até 1968, trabalhou como professor primário. Com o grande sucesso das coletâneas de contos
"Kindergeschichte" (Histórias infantis) e "Eigentlich möchte Frau Blum den Milchmann kennenlernen" (Na verdade a Sra. Blum gostaria de conhecer o leiteiro), passou a viver como escritor profissional, mas sem nunca deixar o seu mundo, as aldeias suíças. Vive hoje em Solothurn, onde também colabora com a imprensa local. Ainda inédito no Brasil.] |