Os sofrimentos de um pênis
Ser pênis era tudo o que ele queria, mas não tudo o que imaginava.
Nunca pensara, por exemplo, que teria que ser comparado com outros pênis bem maiores, ou mais duros, ou mais experientes.
Mas estava contente com a vida de pênis. Freqüentava vaginas de certa classe, umas profundas, outras fogosas, outras indiferentes, tristemente convencionais. Estas últimas, porém, eram poucas. Sinal dos tempos em que a mulher usa e abusa do corpo justamente para ser mulher.
Uma bela noite (teria sido realmente bela?) ele, porém, não estava legal. Aliás, ultimamente, poucas coisas tinham dado certo no centro que enviava impulsos elétricos que se transformavam em fluxo de sangue e em ereção, fazendo sua alegria de pênis ereto, pronto e decidido.
Foi numa dessas noites em que corujas lançam agouros, bruxas pululam e mulheres gargalheiam, ainda que silenciosas e sutis como costumam ser, vingadas em sua eterna frustração de seres sem pênis. E, pior, dependentes de um pênis para terem um centro-motor em suas vidas.
Ele tentou, esforçou-se como nunca, mas nada. Nem um abalo sísmico em sua estrutura cavernosa, apenas um anseio do sistema nervoso controlador que, a essa altura, nem era tão controlador assim.
A mulher esperou. O homem esperou. O pênis esperou. Mas ninguém fez nada, realmente, apenas pensaram. Respectivamente:
Mulher: Perdi tempo com um brocha. Talvez esse idiota seja gay e nem saiba disso.
O homem: Que porra! Isso tinha que acontecer logo com uma mina que conhece minha galera!
O pênis: Que pena que nunca pensaram em me usar para fazer amor. Só o mesmíssimo sexo de sempre! Que pena que nunca perguntam minha opinião sobre isso. É triste, mas devo confessar que sou um dos últimos românticos: creio em vaginas e pênis alcançando nuvens e delírios.
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