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Contos-->DIDIO, O SANFONEIRO -- 02/02/2011 - 13:24 (Ilário Iéteka) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Domingo, depois do almoço, minha esposa quis aproveitar à tarde para visitar sua prima chamada com carinho pelo apelido Preta, porque há muito tempo não se encontravam, então resolveu convidar sua tia Ana para o passeio. Elas pegaram o carro e foram para a cidade vizinha. Para Preta a surpresa foi agradável, acolheu-as com entusiasmo e dinamismo.

Por precaução, antes das visitas perguntarem algo, foi logo esclarecendo:
_Estou vivendo com meu tio. Ele se separou da esposa e nós resolvemos viver juntos. Tenho o que desejo, um homem educado e carinhoso, uma bela casa. Eu estou bem podem acreditar! Sei que há comentários sobre nós, mas não ligo para as fofocas. Os fofoqueiros que cuidem de suas vidas! Aqui nesta casa, nós moramos com meu cunhado Luiz, o qual tem síndrome de Down, com quarenta anos. Apesar de sua limitação é inteligente, atencioso, respeitador, gosta de falar e contador de vantagens.

O irmão do marido que ela falava com carinho era conhecido por Didio. Conversa vai, conversa vem, o moço não saia do lado das visitas. Tagarelando sem parar, prestava atenção na conversa. Preta foi mostrar o quintal, o jardim, falava sobre flores, a dificuldade de manter a grama cortada, o pátio limpo. Didio não deixava de se gabar, dizia que ele havia feito isso, aquilo, mas na realidade não fazia nada. Era um bom enganador e trabalhar nem pensar, pegar na enxada quem diz, um preguiçoso nato, o que fazia mesmo era atrapalhar e vangloriar-se. Chamava a Preta de mãe, dizendo-lhe:
_ Tá bonito, né mãe?
Elegante, bem vestido, qualquer sujeira na roupa corria trocá-la. O homem era uma figura, gostava de músicas e fez o irmão comprar um acordeom, dizia:
_ Vou ser famoso!

O ânimo de Didio era grande, não havia como aprender, ninguém lhe ensinava, pagar um professor era fora de cogitação. Teimoso, passava o dia tentando tocar algo naquela gaita, apertava os baixos de um lado, de outro às teclas. O som que ia surgindo sem harmonia para ele parecia algo divino, o melhor do mundo. Sem dedilhar as teclas no vai e vem de uma verdadeira harmonia, por longo tempo tentava melhorar o que começava, cantando as letras de suas músicas prediletas como Fio de Cabelo, Panela Velha, Menino da Porteira e outras.

Didio não via a hora de mostrar suas habilidades como sanfoneiro, convidou suas visitas para ouvirem um pouco de música. Todos se reuniram em uma sala para ver o que o Didio tinha de gaiteiro. Quando o show começou foi um Deus nos acuda. Didio abriu meio fole, sem dedilhar as teclas, começou o musical, cantando do jeito que sabia. Um desastre entre ritmos e melodias, pensando que estava abafando porque as visitas com entusiasmo aplaudiam pedindo bis, ele estava se considerando um Mario Zan.

Contente e animado, Didio perguntou para a minha esposa se ela desejava aprender a tocar o acordeom, e a resposta foi um sim. Ele foi todo atencioso, pediu para ela sentar em sua cadeira, colocando a gaita em seu colo. Ajeitou as alças, prendeu com todo o cuidado e começou a ensinar como dedilhar, tecla por tecla. Minha esposa se fazia de boba e logo depois de um tempo disse:
_ Didio...Já aprendi! Agora vou tocar um pouquinho.
Minha esposa soltou o prendedor de foles da parte de baixo e fez uma abertura na gaita com notas musicais. Para o espanto do sanfoneiro, o Didio não suportou e gritou:
_ Você rasgou minha gaita?!

Decepcionado e muito assustado, Didio pensava que realmente minha esposa tivesse aprontado com sua sanfona. Até aquele momento ninguém disse a ele que poderia fazer o mesmo com a gaita. Depois do susto momentâneo, em seguida o coração vibrava ao som de Lá Comparcita, Quarto Centenário, deixando Didio pasmo. Ninguém sabia que minha esposa era uma aficionada em acordeom. Rancheiras, valsas e outros ritmos fizeram sucessos na casa da prima. O moço ficou de boca aberta, estava emocionado, ficou sem palavras, nunca tinha visto alguém tocar uma gaita daquele jeito. O tempo passou depressa, minha esposa fechou o acordeom, chamou Didio para lhe entregar a sanfona e disse:

_ Agora é sua vez de nos animar...
De repente o gaiteiro estava triste, seu semblante indicava estar enfurecido, alguma coisa não estava bem com o rapaz, parecia estar com raiva do instrumento, disse em tom de desespero:
_ Eu não quero mais esta gaita!! Ela não toca para mim, não me obedece..
Didio pedia para o irmão com insistência:
_ Eu quero que você venda!
Naquele momento para evitar atritos, a sanfona foi levada para o quarto de Preta, mas Didio ficou resmungando, reclamando o resto da tarde. Porém a maior a decepção foi de minha esposa que pensava em aumentar a paixão de Didio pela sanfona. Olhando para todos na sala, como criança que acabara de aprontar, disse:
_ Preta, vocês perderam o sanfoneiro , mas o pior foi para mim, acho que eu perdi o amigo Didio...
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