Vi na foto o universo de vidas
Vistas num ângulo novo, o
Rosto posto como liga de fatos,
Rindo da face oculto nos traços.
Agora a hora é uma imagem
Que fica na memória dos olhos,
Olhos que vêem além de nós,
Olhos que destroçam o eterno
E flagram o instante que inspira
O verso em seu discurso falido.
Vi na foto um mundo de sonhos,
Lábios e dentes distante de tudo,
Um vasto jardim de cabeças
Tão abertas quanto túmulos
Que encerram desejos da alma.
Quero o doce amargo do inverno
Que se casa com o verde do mato;
Quero o deserto da foto, as trufas
E rugas que consumimos juntos.
Quero essa imagem que vira texto,
A pretexto de esconder uma saudade.
Jardim de Cabeças |