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Contos-->Medo? Não... é pavor de sanguessugas!! -- 28/03/2011 - 03:15 (Ilário Iéteka) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Meu pai era um caboclo cuidadoso, parecia uma galinha choca cuidando de seus pintinhos, não deixava a gente brincar fora do pátio, vivia advertindo-nos e corrigindo-nos para não fazer isso ou aquilo. Eu era uma menina com cinco anos e meu irmão com oito anos. Meu irmão era pacato, ao contrário de mim, peralta e sapeca. Surgia um tempo para virarem as costas que nós saíamos disparados ao campo, parecendo dois animais soltos no pasto.
Nós corríamos de um lado para outro, subindo em árvores, fazendo piruetas. Meus pais não tinham sossego, trabalhavam preocupados conosco. A Nona (vovó) era liberal, sempre dizia:
- Crianças, vão brincar lá fora, deixe-me fazer a comida em paz.
Papai sempre nos alertava:
_ Crianças, olhem bem aonde vão pisar, no campo está cheio de cobras.

Para nós dois, todo tempo era a mesma ladainha, nós não ouvíamos seus alertas. Brincar é o que queríamos. O coitado, trabalhava de cabelos em pé, pensando nos filhos. Seu medo era que a sua mãe, a Nona, não cuidasse bem de nós, porque num piscar de olhos nós nos machucávamos. Para nós, o mundo estava todo colorido, um mar de rosas.
Há duzentos metros da nossa casa passava um riacho, aonde titia lavava nossas roupas. Papai não deixava a gente brincar no riozinho, nossa titia era descuidada, o perigo estava ali no rio, um escorregão poderia ser fatal, porque crianças que não sabem nadar, podem se afogar com muita facilidade. Este era o medo de meu pai , minha mãe acreditava em Deus sabia que nada iria nos acontecer. Outro perigo era um banhado, um atoleiro traiçoeiro, qualquer um poderia ficar preso no lamaçal. Papai resolveu mentir para nós, pensando que com isso evitaria alguma tragédia. Seu plano até que não era ruim, mas enquanto ele estava a pensar, nós já estávamos nos divertindo pegando peixinhos e girinos. Uma festa , meio balde destas pragas eram levados para casa, felizes com a grande pescaria.

A preocupação de meus pais aumentava dia após dia. Chamar nossa atenção não estava dando certo e mesmo assim continuou nos alertando, dizia:
_ Cuidado, crianças! Há muitas cobras e aranhas venenosas, se algum desses bichos morderem vocês, há perigo até de morrerem porque não temos remédios pela região.
Meu pai pensou que agora poderia ser a hora de aplicar uma boa mentira que assuste-nos e chamou:
_ Aglair e Altevir? Venham aqui agora! Eu tenho mais uma coisa para dizer a vocês dois, não entrem no banhado, nem em poças d’água. Nesses lugares mora um bichinho perigoso, uma tal sanguessuga!
O Nono, nosso avô entrou na conversa tentando ajudar meu pai por gostar e querer também proteger os netos. Foi dizendo:
_ Crianças, tenham cuidado, escutem o pai de vocês, basta um bichinho deste grudar na perna , ele é capaz de chupar todo o sangue das veias de seus corpos! Ele é pequeno mas ao começar a beber o sangue ficará igual ao tamanho de uma cobra. Elas esticam como se fossem de elástico. Cuidado com o atoleiro é ali que elas moram. Se uma grudar na perna de vocês vai ser um Deus nos acuda e não largará tão fácil!

Eu e meu irmão, as crianças advertidas por todos, acreditamos naquela história maluca e fomos brincar no terreiro da casa. Entretanto, passado uma semana, nossa memória era somente diversão e aquela história foi esquecida. O riacho era nosso lugar preferido.
As advertências não surtiram o efeito esperado, logo estaríamos novamente pegando os peixinhos e girinos. A tarde estava ensolarada e quente. Nossos pais almoçaram e voltaram a lavoura, o dia convidativo para brincar na água. Não deu outra, eu e meu irmão pegamos uma pequena peneira, balde e levamos o batéco, para quem não conhece, era um carrinho com duas rodas que pode ser feito de madeira ou de rolamentos. Nosso batéco, o qual era do meu irmão era de rolamentos, isto é uma pequena charrete, só que em tamanho miniatura.
Desta vez os peixinhos apanhados iriam para a lagoa do Nono. Nós, crianças resolvemos sair escondidos na maior festa, alegria era total, animados, rindo sem pensar nas conseqüências. Descemos por um caminho estreito e cheio de capim, chegando no arroio, entusiasmados. Meu irmão mais que depressa, pegou a peneira, enfiou na parte funda do riozinho, ao erguer lá estavam mais de dez lambaris. Pequenos alevinos, estavam animados, porém com nosso barulho os peixes sumiram, meu irmão disse:
_ Mana... Espante os peixes para o meu lado!

Eu não tinha nada para bater na água e resolvi bater com os meus pés. Com cinco anos não pensava em nada, muito menos nas advertências de todos, o negócio era pegar os lambaris, para colocar no tanque do Nono. Sentada no barranco encurralando os bichinhos, espirrava água para todos os lados era uma zoeira sem fim. Desta feita, qual a criança que não adora água? Eu, a pobre menina, não percebia que uma maldita sanguessuga estava agarrada em meu tornozelo. Ao tirar os pés da água, notei que o bicho não largava de jeito nenhum. Tentei puxar e nada, assustada, sem conhecer aquela larva, logo lembrei das advertências de Nono e do pai. Eu estava apavorada, chamei meu irmão e percebemos que o bicho tinha aumentado de tamanho, víamos que a barriga do bicho estava cheia de meu sangue. O pavor, o desespero, disparou, tomou conta de nós dois, não sabiam o que fazer no momento. Meu irmão não tinha força porque também era pequeno e não conseguia carregar-me, porém teve uma idéia, disse:
_ Aglair? Entre dentro da caixa do batéco e eu vou levar você para casa.
Meu irmão fez-me ficar de pernas para cima, toda contorcida naquela pequena caixa. Não parava de gritar:
_ Por favor mana, não abaixe a perna, assim o sangue não sobe, o bicho não consegue sugar! Se agarre que vou sair correndo morro acima, lembre-se que temos pela frente trancos e barrancos.
 

O mano, como nos chamamos até os dias de hoje, como um louco agarrava-se ao batéco, o caminho não ajudou em nada, pior eram aquelas rodinhas, que velocidade iríamos desenvolver? Chegou tão cansado, não conseguiu dizer o tinha acontecido com a irmã, apenas gritava por socorro, dizendo não deixem a mana morrer. Naquele momento a única pessoa que se encontrava na casa era a Nona, quer dizer vovó. A coitada ao ouvir os gritos das crianças, quase teve um chilique, pensou que a menina foi picada por uma cobra e saiu em auxílio da neta, apavorada e tremendo como uma vara verde.Viu a criança de perna para cima, dentro do carrinho do irmão, ficou paralisada de susto, imaginou..
_ Meus Deus do céu foi uma cobra que mordeu a minha neta!
O neto, meu irmão gritava:
_ Nona, corra aqui!!! Venha ver uma sanguessuga... ela está bebendo todo sangue da Aglair!!! Socorro!!!
Naquele instante, foi que Nona percebeu que aquilo não era tão grave como se supunha. A neta estava gritando aos prantos:
_ Nona! Não quero morrer, me acuda , mate este bicho!!
_ Calma filha, a Nona vai matar ele já..já.
 

Com todo carinho, pegou a criança no colo foi direto para a cozinha, colocou a menina sentada em uma cadeira, foi buscar um punhadinho de sal. A neta estava com os olhos arregalados, olhando a larva, o irmão de seu lado chorando de lamentação pela irmã. A nona, depois do susto, já estava calma e tranqüila, mas crianças olhando a cor do animalzinho, o bicho estava lotado de tanto sangue que já tinha sugado. A Nona veio toda entusiasmada com um punhadinho de sal. Animando a neta, dizia :
_ Aglair fique tranqüila que a Nona vai fazer o bicho largar do seu tornozelo! Eu vou colocar um pouco de sal na cabeça do danado, ele vai sair correndo de tanta dor nos olhos.
Foi incrível, o sal caiu na cabeça da larva, ela soltou no mesmo instante da pele. A Nona ao pegar a sanguessuga com muita força, acabou estourando o bichinho em cima da perna da neta e foi um Deus nos acuda!
Eu pensei que minha veia tinha estourado e gritava:
_ Estou morrendo esvaída em sangue. Ajude-me, não quero morrer. Nona me salve!

O Mano, meu irmão começou a chorar sem parar. A coitada da Nona, para enfatizar a lição, viu-se em papo de aranha, foi terrível, pânico geral, um sufoco, choros desconsolados dos netos, deu copos com água e açúcar, o remédio perfeito para os pescadores mirins e acalmá-los.
Passado a vida de jovens, adultos, agora ambos avós, Aglair e Altevir tiveram o esclarecimento do episódio mortal, do bicho que de tanto sugar sangue ficava do tamanho de cobra. Uma mentira desastrosa para duas crianças criadas em sítio. Entretanto podem ter passados 55 anos, do socorro via batéco, sal e água com açúcar. O trauma psicológico ainda existe porque o dano emocional que ocorreu com o resultado, pressupõe que as crianças sofreram uma experiência de dor e sofrimento emocional, Aglair ainda o trauma físico. Com a experiência dolorosa acarretou um sentimento de medo, que afetou o comportamento e o pensamento dos dois, que fará de tudo para evitar reviver o evento que lhe traumatizou a infância. O pânico persiste até hoje eos irmãos Altevir e Aglair tem medo?? Medo não... tenho é pavor mesmo de sanguessugas!!
 

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