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cronicas-->Casamento de cinema -- 29/09/2006 - 15:47 (AROLDO A MEDEIROS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Casamento de cinema

Cláudio foi convidado pelo irmão Emílio, conhecido por Manilha, para o casamento de seu filho Marcelo. Cláudio levou a filha Ellen, o marido desta, Valdir, e o pai deste, Zairo.
O enlace aconteceria no Rio de Janeiro. Foram sem saber como seria a cerimónia e muito menos a festa.
Manezinhos que são, do sul de Santa Catarina, ao chegar ao local ficaram boquiabertos com a beleza. Recepcionados por dois homens que exigiram os convites, só puderam entrar graças à interferência do noivo que por ali permanecia para resolver os pequenos entraves. Como se anteciparam a todos no horário, percorreram alguns lugares belíssimos e registraram tudo na máquina fotográfica digital, nesse momento o objeto mais valioso e necessário em suas mãos. O nome da propriedade fazia jus pela imponência: Garden Party. Além de oferecer esse tipo de evento, provavelmente serve para outros fins, pois também tem quadra de tênis, de futsal e uma piscina muito bem cuidada.
Logo deduziram que a noiva era negra, pois praticamente metade dos convidados eram dessa cor. Todos estavam vestidos a caráter e elegantes sem se sentirem desconfortáveis. Foram aos poucos se sentando em cadeiras ao ar livre, em frente ao altar onde os noivos trocariam as alianças. Conversa vai, conversa vem, soube-se que os noivos conheceram-se num navio da Petrobrás, sendo que ela era piloto e ele, marinheiro. Namoraram, se apaixonaram, não necessariamente nessa ordem e depois de algum tempo resolveram casar. Economizaram dinheiro e durante seis meses pagaram as despesas, pois queriam oferecer de forma fenomenal uma festa inesquecível aos convidados que os apoiaram nesse idílio amoroso.
Só faltou na cerimónia um coral com músicas gospel, já que a elegància de três testemunhas lembravam Dionne Warwick, Donna Summer e Glória Gaynor no começo de suas carreiras. Cláudio, Zairo, Valdir e Ellen imaginaram essas três negras, belas e de vestidos longos cantando a música Oh! Happy day.
O noivo, acompanhado da mãe, percorreu o centro formado pelas cadeiras embalado pelo som inebriante de um solo de saxofone. Depois vieram as testemunhas, todas bem trajadas e, por fim, a noiva e seu pai.
Sobre um tapete vermelho caminhava uma mulata linda de olhos verdes que brilhavam com seu sorriso alegre. As daminhas e seus pares seguiam bem sérios e uma das lindas meninas tinha também os olhos verdes como que para combinar com os da noiva. A cerimónia não foi longa e, portanto, nada enfadonha. Foram elogios aos casais todos bem proferidos pelo pastor que coordenava o casamento. Este passou a palavra ao pai da noiva que também era pastor e que confessou:
- Minha filha, depois desses vinte anos afastado da minha família, encontrei Deus e não passei um dia sequer sem rezar pela sua saúde e felicidade.
Os noivos fizeram a tradicional troca de alianças e o coordenador pediu que se beijassem duas vezes, para que os fotógrafos não perdessem o belo momento. Sugeriu então que eles dissessem algumas palavras ao microfone e o noivo antecipou-se:
- Eu te amo e sempre te amarei, minha neguinha.
Depois dos risos que todos soltaram foi a vez da noiva:
- Eu também vou te amar por toda a eternidade.
Viam-se lágrimas rolarem nos rostos dos mais emotivos. Uma salva de palmas soou uníssona dando mais beleza ao que foi declarado.
Após a cerimónia todos se dirigiram ao salão de festas, com exceção dos noivos, pais, daminhas e seus pares que ficaram fazendo sessão de fotos aproveitando o deslumbrante fim de tarde.
Os garçons, em número de doze, serviam refrigerante, água mineral, suco natural, chope, vinho e uísque. Cláudio só tomava refrigerante e água mineral. Valdir se esbaldava no chope, sem, porém, perder a compostura. Zairo e sua nora aproveitaram que era de graça e sorviam goles de uísque, sendo que Ellen, para não ficar tonta, misturava guaraná no copo.
Em seguida foram servidos os salgadinhos. Havia de todo tipo e para todos os gostos. Alguns não eram difíceis de identificar, porém outros eram pra lá de sofisticados para o quarteto. Conseguiram reconhecer os quibes, risoles, coxinhas, queijos empanados, espetinhos de frango com pimentão, bolinhos de aipim e de bacalhau, pães torrados com berinjela e camarões empanados.
A música ambiente, num volume agradável, era tecno dance ou outro nome que possa ser dado àquelas batidas.
Depois de muita bebida e comida os convidados foram informados que haveria uma micareta, carnaval fora da data momesca, num salão ao lado. Alguns foram para lá e alegres dançavam e sorriam. Foram distribuídos aos homens chapéus brancos de plásticos, do tipo caubói. Para as mulheres o enfeite se destacava bastante: era um beresgodéu para a cabeça e gargantilha de luz néon.
Finalmente chegou a vez dos docinhos que, para Ellen, aquelas guloseimas fechariam com chave de ouro o acontecimento. Morango com chocolate, licor num copinho de chocolate, quindim e uma quantidade interminável de doces exóticos e de difícil identificação.
O bolo da noiva, até o momento da saída dos quatro, não havia sido cortado e não era para menos. Era uma obra de arte que trazia no topo os bonecos representando os nubentes, ela sendo carregada nas costas pelo apaixonado, agora marido.
A noiva fez uso do microfone e agradeceu a todos que ali estavam partilhando com ela esse momento memorável.
Quando os quatro se dirigiam para a saída, aproveitaram e presenciaram o show de dois garçons. Um fazia malabarismos com um copo e uma garrafa, enquanto um coquetel de bebidas era preparado. O outro colocava fogo em parte de uma garrafa e no jargão popular, cuspia fogo.
Para encerrar, como estava chovendo fino, os quatro foram num carrinho elétrico até o estacionamento.
Na manhã do dia seguinte, acordaram tarde e como se tivessem saído da tela do cinema, caíram na realidade. Eram protagonistas tal qual no filme "A rosa púrpura do Cairo", que até poderia receber o nome "A festa num jardim do Rio". Como o que acontece no dia a dia é diferente do cinema, eles foram almoçar na Feira Nordestina. No lugar de uísque, Zairo caiu na cachaça mineira e todos beberam no almoço uma Coca de dois litros. Em vez de salgadinhos, comeram cabrito ensopado, buchada de bode e mocotó. As diferenças não pararam por aí. Eles não comeram aqueles sofisticados doces e sim cocada e rapadura ao som de dois repentistas nordestinos.
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