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Cronicas-->PERDA DE TEMPO -- 17/12/2000 - 23:33 (José Renato Cação Cambraia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
PERDA DE TEMPO

Sou um grande usuário dos computadores. Reconheço que a maior parte do meu serviço seria impraticável sem eles. Não consigo imaginar como seria fazer uma planilha orçamentária numa máquina de escrever Olivetti, como meu pai fazia antes de descobrir as maravilhas das quais o Excel é capaz de fazer. Muito menos desenhar um projeto completo no papel vegetal usando canetas nanquim, onde não tem o botão "undo", -ou "desfazer" - (tentei uma vez e ficou uma porcaria - Sidney, realmente você é um herói!). Coisas que ficarão, literalmente, no século passado, a partir de 1° de janeiro.
São inquestionáveis as vantagens que essa ferramenta pode proporcionar aos profissionais, principalmente os das áreas técnicas, como a engenharia. Com eles, faço os meus serviços umas 10 vezes mais rápido, e com uma qualidade 100 vezes maior. Até aí tudo bem, eu assumo que dependo deles pra fazer quase tudo. Não vou dizer que adoro ficar sentado aqui na frente do monitor, mas com certeza é bem melhor do que estar em baixo desse sol ardido que vem fazendo por esses dias.
Mas, como tudo nessa vida tem um porém, até mesmo ganhar na mega-sena acumulada (esse porém fica pra outra hora), estou percebendo ultimamente que fomos enganados. Afinal, se os micros nos ajudam tanto a fazer as coisas mais rápido, eu lhes pergunto, caros leitores, onde diabos está o tempo que economizamos?
Se antigamente, por exemplo, ir ao banco era uma coisa absolutamente necessária e hoje podemos fazer quase tudo sem sair de casa, onde foram parar aqueles 20, 30 minutos que gastávamos na fila? Quando trocamos e-mails com alguém, gastamos em média 30 segundos pra anexar aquela piada, ou aquela foto da Feiticeira pelada. Não precisamos comprar a revista, recortar a foto, colar no envelope, escrever alguns comentários, ir até o correio, ficar na fila, lamber o selo e enviar a carta. Tarefa que pode consumir desde 20 minutos até uma tarde inteira, dependendo de onde você está. Escrever um texto como esse numa máquina de escrever consumiria pra mim umas quatro horas, considerando o tanto que escrevo, apago, recorto, colo, jogo fora... Gastaria uma resma de folhas, sem contar o tempo de levar o texto até o jornal. Enquanto aqui, no meu computadorzinho, faço tudo em vinte minutos, movimentando somente meus dedos.
Bom, então teoricamente, como eu economizo muito tempo usando meu computador, eu teria direito a muito tempo livre, para ler mais, escrever mais, cuidar da parreira e dos pés de pinha, namorar mais, brincar com os cachorros, jogar futebol, alugar mais filmes, montar mais aviõezinhos, jogar Fifa Soccer, visitar meus amigos, viajar e comer coisas exóticas, não fazer nada, assistir televisão e, principalmente, comprar os presentes de Natal (coisa que ainda não fiz). E isso não vem acontecendo, pois não sobra tempo!
Não estou escrevendo isso só como uma pré-desculpa num eventual fiasco quando, na hora dos presentes, eu chegar de mãos abanando, mas sim como um alerta. É, um alerta, que tenta lembrar o quanto estamos nos tornando escravos do trabalho, do dinheiro e das preocupações, pagando sem parar contas, impostos, taxas, seguros, planos de saúde...Complicações que não acabam nunca! E ainda, apesar dos modernos e eficientes (às vezes) meios de comunicação, não encontramos tempo nem para visitar os parentes, nem que seja pra falar "tá calor, hein, cumpadi?" (o meu avó que o diga, estou lhe devendo uma visita há duas semanas!).
Claro que o trabalho demais não mata ninguém, ainda mais numa crise (eterna, acredito) em que vivemos. Mas não custa nada reclamar, mesmo que em vão, por uma vida mais completa e calma, recheada de visitas, café, bolinhos de chuva e conversa fiada. E dessas outras coisinhas simples, como um bom livro, dormir na rede, sessão da tarde, goiabada, olhar o céu à noite, descascar laranja no pé e sentir o cheiro de chuva caindo na terra. Coisas que, pelo jeito, infelizmente também ficarão perdidas em algum lugar do século passado.

A SEMANA, 16/12/2K
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