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Cronicas-->Primavera- cecília meireles -- 14/10/2006 - 18:10 (m.s.cardoso xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
PRIMAVERA
Cecília Meireles

A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome,
nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A
inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas
criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a
preparar sua vida para a primavera que chega.
Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra,
nesse mundo confidencial das raízes, - e arautos sutis acordarão as
cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques de rododentros que eram verdes e já estão todos
cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos
começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas
brancas e amarelas apressam-se pelos ares, - e certamente conversam: mas
tão baixinho que não se entende.
Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno,
quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os
olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.
Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as
árvores cobertas de folhas, - e só os poetas, entre os humanos, sabem que
uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores,
com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de
incessante luz.
Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se
esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua
perpetuação.
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia,
talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem,
independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os
pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, - e os ouvi¬dos
que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que,
outrora se entendeu e amou.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos
atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar
azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas
estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão
sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando
pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das
gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores
agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.
Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado
ao vento, - por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da
eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida - e efêmera.


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