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Artigos-->Falar é Fácil -- 29/01/2003 - 11:41 (PenaRosa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Artigo publicado no Jornal de Brasil de domingo, 26 de janeiro de 2003.



FH Lula da Silva



Por Fritz Utzeri

Caderno B, páginas B5 e B8



Você também votou no Lula e não entende o que está acontecendo? Ou será que sou só eu?

Pensei que o PT chegasse ao poder como fez Mitterrand, depois de perder sucessivas eleições. Com um programa pronto, com impacto nos 100 primeiros dias. Que revelasse aos

cidadãos a triste situação do Brasil e atacasse, logo em seguida, os nossos problemas econômicos, sociais e políticos.



Mas não é o que se vê. Assistimos, até aqui, a uma reprise requentada, e de má qualidade, do governo FH, com alguns toques de populismo, como o Fome Zero, projeto necessário, mas limitado e que não chega sequer a um plano, e sim uma intenção meio perdida na discussão entre os encarregados de resolvê-lo, enquanto os famélicos continuam sonhando com comida, educação, atividade econômica, emprego, etc.



Lembram-se da campanha eleitoral? Com prefixo musical de dar inveja a telejornal americano, a câmera dava uma panorâmica em uma enorme sala onde dezenas de pessoas trabalhavam em laptops, discutiam e compravam planilhas e projetos. Era a equipe de Lula preparando, tim-tim por tim-tim, o plano de governo. A impressão é que havia resposta para tudo (ou quase).

Ganha a eleição, veio a transição. Lula afagou FH o tempo todo e apresentou ao país algumas vagas insinuações e muitas pastas de papel. Começou o governo e até aqui não há projeto algum definido ou anunciado.



Mas há uma área em que o controle continua firme e mais ortodoxo do que nos tempos de FH.

Fala-se em autonomia do BC, e o Copom, em sua primeira reunião pós-Lula, aumentou a taxa de juros para 25,5% ao ano (o que, para nós, resulta em algo em torno de 180% anuais no cheque especial). O PT, como oposição, sempre lutou contra as altas taxas de juros, que inibem a produção e favorecem a especulação. O que está acontecendo? Lula justifica a alta do juros fazendo uma metáfora. Diz que mesmo mudando de médico, às vezes é preciso insistir nos remédios receitados "pelo médico anterior".



Começo a achar que, durante anos, fui enganado pelo PT e por expoentes da esquerda, como Celso Furtado, Maria da Conceição Tavares, Aloísio Mercadante e outros menos votados, que juravam que o modelo econômico de submissão aos ditames do FMI (incluindo os juros altos), ao endividamento externo e à má distribuição de renda eram responsáveis primeiros por nossas mazelas econômicas e sociais. Desse ponto de vista, o "médico anterior" estava envenenando o paciente em lugar de tratá-lo. Mas no Brasil há uma confusão entre os conceitos de remédio e os de veneno. Quantas vezes você já não ouviu dizer que alguém ia dar um "remédio" para matar larvas ou ratos? Temo que o inconsciente de Lula esteja misturando as estações.



Do jeito que está, ou mentiram para nós e caímos como patinhos (vai ver que o modelo é tão bom que deve continuar por muitos e muitos anos ainda, e teremos que agradecer aos Boston e Citibanks da vida), ou estão apenas enganado e dando corda ao capital especulativo para abatê-lo quando ficar provado que não funciona. Dá para acreditar?



No primeiro mês de Lula assistimos a um desencontro entre o ideário do PT e a prática e ouvimos a interminável lengalenga de "consultar a sociedade". A sociedade já foi consultada, deu a Lula 57% dos votos e escolheu, com veemência, a mudança de rumos da política de FH.

Todos os candidatos, sem exceção, inclusive o do governo, José Serra, apresentaram-se como capazes de alterar os rumos da política tucana, a começar pela econômica.



Esse povo que votou no PT não entende a continuação da política de Pedro Malan/FMI e a barganha parlamentar para cortejar políticos como José Sarney e ACM, com a ilusão de que poderão manobrar essas velhas raposas da oligarquia. Se gente como Sarney, Quércia, Jader Barbalho, Delfim e ACM tivessem algum compromisso com o povo brasileiro, já deveriam tê-lo feito. Estão no poder há pelo menos 40 anos.



Dá para explicar a convocação da figura sinistra de Delfim Netto, liberticida e signatário do AI-5, para integrar o Conselho Político e Social do governo? Dá para entender a resistência a Dom Mauro Morelli no programa de combate à fome? E cabe falar em independência do Banco Central, dar-lhe um poder político enorme e deixá-lo nas mãos de um homem que recebe R$200 mil por mês do Banco de Boston? Aposentadoria, ok, está certo, mas quem ganha uma aposentadoria dessas veste a camisa do patrão, ah, veste!



Reforma fiscal? Reforma da Previdência? A discussão está nas ruas, tal e qual aconteceu no governo FH. Pretende-se acabar com o déficit previdenciário distribuindo miserabilidade em lugar de refundar a Previdência e estabelecer um sistema mutuarial e universal pelo qual os trabalhadores poderiam planejar a própria aposentadoria, contribuindo adequadamente até uma certa idade (60 anos)? A média seria aposentadoria com 70% do que ganha na ativa. (Até com uma certa redistribuição de renda: os que ganham menos se aposentariam com valores proporcionalmente mais elevados.) Como ocorre em terras civilizadas. Mas a sonegação e o roubo devem ser severamente combatidos.



Quanto à reforma tributária, a única "novidade", até aqui, é a proposta de eternizar a CPMF, mais uma vez enganando os contribuintes, quebrando promessas e esquecendo a oposição que o PT sempre fez a esse projeto quando estava do outro lado da mesa. Todos os dias somos surpreendidos com uma medida que tem a cara do governo FH. Agora mesmo, o governo anuncia que tomará a si os projetos de reforma previdenciária e tributária encaminhados ao Congresso pelo governo anterior. Se eram bons, por que o maior especialista em obstrução (como gosta de definir-se), José Genoíno, atravancou tanto a pauta do Congresso quando as mesmas medidas foram apresentadas? Na ocasião eram apontadas pelo PT como coisa do demo, ou pior! O que mudou? Quem estava mentindo?
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