ff0000;">HÁ UM GRITO DE DOR ATRAVESSADO NA GARGANTA DO POVO BRASILEIRO 

 

José Adalberto Ferreira

 

A pobreza, sem dúvida, é a plateia 

que, durante as campanhas, bate palma 

pra quem diz: se eu ganhar, dou minha alma 

mas é só se eleger, muda de ideia 

no Brasil, se criou uma alcateia 

que conhece propina pelo cheiro 

tem leão disfarçado de cordeiro 

aliás, quase tudo é disfarçado 

Há um grito de dor atravessado 

na garganta do povo brasileiro. 



Pouco a pouco, vai tendo quem revele 

um esquema perverso e fraudulento 

quem votou, quis rasgar seu documento 

por sentir a traição, à flor da pele 

nosso bolso não é IML 

nem a gente tem cara de coveiro 

mesmo assim, sai janeiro, entra janeiro 

carregando um salário congelado 

Há um grito de dor atravessado 

na garganta do povo brasileiro. 



Nossa lei camuflada de estrela 

pega o povo mais pobre e põe na cela 

é preciso tornar-se vítima dela 

pra poder começar a conhecê-la 

o Congresso, na hora de fazê-la 

só defende interesse de banqueiro 

agiota, empresário e usineiro 

mas o grito do povo é abafado 

Há um grito de dor atravessado 

na garganta do povo brasileiro. 



No Brasil, o terror não tem o nome 

de Osama Bin Laden ou Talibã 

por aqui, a ganância é guardiã 

das panelas do povo que não come 

não existe terror pior que a fome 

num país onde a terra é de grileiro 

traficante, laranja e fazendeiro 

senador, presidente e deputado 

Há um grito de dor atravessado 

na garganta do povo brasileiro. 



A Justiça parece mais um saco 

pra depósito de multa ou de fiança 

como símbolo, possui uma balança 

mas só pende pro lado do mais fraco 

nosso código penal tem mais buraco 

do que tampa de cano de chuveiro 

pra ladrão de galinha ele é inteiro 

pra ladrão de gravata é arrombado 

Há um grito de dor atravessado 

na garganta do povo brasileiro. 



Somos vítima de outra escravatura 

onde o ferro tem marcas mais discretas 

apesar do avanço das diretas 

não se pode escapar da ditadura 

a lei Áurea foi mera assinatura 

para o negro sair do cativeiro 

no passado, o navio era negreiro 

mas agora, vai tudo é misturado 

Há um grito de dor atravessado 

na garganta do povo brasileiro. 



Assisti um ministro Graziano 

reputar de bandido o nordestino 

que emigra por força do destino 

à procura do pão quotidiano 

excelência, não seja desumano 

nos tratando de modo tão grosseiro 

ao invés de blindar sua Pajero 

dê um brinde ao Nordeste abandonado 

Há um grito de dor atravessado 

na garganta do povo brasileiro. 



Pelo jeito, esse grito vai ficar 

muito tempo enganchado na garganta 

esse povo que almoça, mas não janta 

não dispõe nem de força pra gritar 

vou pedir pra Jesus ressuscitar 

o espírito de Antonio Conselheiro 

pra tirar os abutres do poleiro 

que o país está sendo devorado 

Há um grito de dor atravessado 

na garganta do povo brasileiro.

 

 

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Escracho

 

O Palácio do Planalto amanheceu com uma faixa no topo do prédio:

"AQUI VIVE UMA TERRORISTA"