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Contos-->O RELÓGIO ESQUECIDO. -- 01/07/2011 - 12:48 (Ilário Iéteka) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Minha esposa, chamasse Aglair, tinha por costume largar suas jóias em cima das mesas, balcões, cadeiras, gavetas, entre outros lugares. As peças ficavam expostas em qualquer lugar e chamar sua atenção era perda de tempo, discutir a toa, então resolvi pregar-lhe uma peça. Uma solução seria assustá-la. Eu estava cansado de seus desleixos.

Ao chegar em casa num belo dia, ao entrar notei que seu relógio continuava em cima de uma pequena mesa de centro na sala, fiquei furioso, aquela falta de atenção com as peças de valores incomodava-me, pensei:
_ Eu vou castigá-la; esconderei seu relógio atrás deste quadro, só quero ver no que vai dar quando precisar da jóia. Ao procurar vai ser um Deus nos acuda, encontrar seria missão impossível.

O segredo somente eu sabia, ela pensara ter perdido. Eu almocei, conversamos na hora da sesta, despedi-me conforme o nosso costume, um beijinho, saí de fininho para o trabalho sem que ela percebesse minha safadeza. Passando os dias acabei esquecendo por completo da brincadeira e quatro meses depois, começou a dor de cabeça, minha esposa deu pela falta do relógio, a desconfiança maldita, caiu como uma bomba sobre a menina Sandra. Uma garota de onze anos, educada, inteligente, de bons modos, amiguinha de todos os dias de minha filha Juliana, embora existisse a diferença de idade, sete anos. Nada desabonava sua conduta perante nós, tinha um pai severo, trabalhador e responsável. Sua família tinha deixado a cidade natal, Ibaiti, norte paranaense, para tentar uma nova vida aqui em Curitiba, na capital. O pai desta menina preocupava-se com as filhas, sair de casa somente com seu consentimento. Éramos vizinhos e estabelecemos uma bela amizade, o respeito entre nós era mútuo. Nesse vai e vem, minha filha apegou-se a menina, brincavam o dia inteiro, sem nos dar trabalho, divertiam-se a beça.

Minha esposa ao procurar o seu relógio, não encontrava em lugar algum, pensou que somente poderia ter sido Sandra porque ninguém veio em nossa casa naqueles dias. A menina era inteligente, esperta, gostava de pinturas, batom e jóias. Na mente de Aglair, a culpa do sumiço do relógio poderia ser dela, ao certo, viu a peça abandonada por dias no lugar e resolveu surripiar. Como tinha liberdade de ir e vir a qualquer hora do dia, foi a oportunidade que teve para levar o relógio. Minha esposa nervosa, sem saber qual atitude tomar, resolveu aguardar-me para juntos tomarmos a solução mais adequada. Ao relatar-me o acontecido, fiquei preocupado com o sumiço da peça. Pior de tudo, foi meu esquecimento. A maldita brincadeira teve um esquecimento imperdoável. Não havendo certeza, ficou a dúvida, quem roubou o seu relógio? Para minha pessoa, todo o esquema foi planejado, isto é terrível porque a menina não enquadrava seu perfil em furto, sua educação, seu jeito de ser, não condizia com o que estávamos pensando. A solução era melhor se ficássemos com o prejuízo, a culpa era toda de minha esposa e na próxima vez, que não deixasse seus objetos fora do lugar.

Nós pensamos em delatar a menina aos seus pais. Com certeza, a pobre garota levaria uma tremenda surra, não poderíamos crucificar a garota sem provas. Seu pai era um homem honestíssimo, não admitiria tal fato. Para não causar problemas, nós resolvemos fazer uma varredura em todos os lugares possíveis, olhamos em todas as gavetas, verificamos os bolsos de todas as roupas e nada, em cada minuto que passava mais agonia, mais desespero. A esposa chateada, sabendo que eu a culpava por este descuido, tomamos a decisão que achamos mais correta, proibir a menina de freqüentar a nossa residência. Foi doloroso mas nos pareceu uma boa solução, porque se contássemos aos seus pais, seria desastroso, pobre da criança, levaria uma sova de rabo de tatu. Talvez a nossa amizade viesse a desmoralizar, optamos por esquecer o sucedido e assim o fizemos.

Passados meses, o Natal se aproximava, minha esposa até os dias de hoje, tem costume de embelezar a casa, mexe em tudo, passa silicone nos móveis, deixa tudo na mais perfeita ordem, tira o pó de toda as quinquilharias, tudo passa por uma limpeza geral.

Naquela época, num domingo fui escalado para ajudar, dar brilho no guarda-louça, um enorme armário, todo talhado, nesta peça gastei três horas, ficou reluzindo como uma estrela. Eu continuei a tarefa pelos quadros e ao retirar um deles com cuidado, para evitar que fosse parar no chão, tal qual foi a minha surpresa, encontrei o relógio da minha esposa, bem guardado e esquecido. Fiquei sem fala naquele instante, após recuperar-me do impacto, chamei a esposa:
_ Querida! Venha ver uma coisa, rápido...

Minha esposa pensando ser uma aranha ou algo pior, veio tropeçando em cadeiras na minha direção, pedi:
_ Tenha calma! Olhe na parede, o seu relógio roubado, ainda está trabalhando.
Nós começamos a rir de alegria por ter encontrado sua jóia famosa. Perguntou-me:
_ Quem fez esta brincadeira maluca?
Eu respondi com maior cara de pau:
_ Fui eu! Só quis te pregar um susto, uma boa intenção que causou problemas sérios, imagine a dor que causaríamos a pobre garota.

Sentamos no sofá, refletimos, ficamos abatidos e tristes, Aglair dizia-me:
_ Querido, coitada da Sandrinha, caso fosse incriminada, estaria traumatizada pela besteira que fiz. Com certeza seu pai lhe bateria, nós ganharíamos outro relógio porque era um homem íntegro.

Hoje, sinto-me aliviado por escapar do pior blefe de minha vida, porém veio-me a desolação por ter estragado a bela amizade de minha filha. Sinto-me mal em pensar, no aborrecimento que eu teria causado aquela família, seria uma loucura, uma injustiça imperdoável, marcaria para sempre a vida da menina. Eu fico chocado só em lembrar, foi terrível, um domingo que jamais esquecerei, serviu-me como exemplo para não acusar ninguém sem ter provas. Julgar com certeza absoluta. A solução pode ser exigida, ao contrário é melhor calar, não abra a boca para acusar inocentes, é covardia. Não erre hoje que o amanhã vai sair caro, a justiça sempre vence, a espada cairá sobre o pescoço do culpado, a mentira é igual a um bumerangue, atire ao vento que ela retorna para você como um prêmio... porém por dentro podre, sujando suas mãos, esperando a correção, sempre a Verdade.
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