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cronicas-->quando perdi meu pai -- 19/10/2006 - 21:22 (marcos de gaitani) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quando perdi meu pai....

Pela primeira vez perco alguém muito próximo e agora sei o quanto é duro aceitar isso. Não é fácil perder alguém que você via praticamente todos os dias e que dedicou parte de sua vida à você. Alguém que quis o seu bem, desde que você era pequenino.

É triste pensar que você não verá nunca mais uma pessoa e que ela simplesmente sumiu...desapareceu. Você procura, mas não acha. Você chama, mas ela não ouve. Você tenta contato e nada. Você tenta isso várias vezes e finalmente, desiste.

É estranho... muito estranho, mas sempre pensei que no momento da morte sairia tentando encontrar culpados e motivos para tal fato. Acreditava que ficaria tentando voltar o tempo para poder fazer mais e muito mais por uma vida. Tinha certeza que não me conformaria com essa tragédia tão perto de mim. Sempre achei impossível conviver com essas emoções.

Porém isto não ocorreu, pois assim que recebi a noticia e vi o meu pai morto me deu um desespero que foi logo acalmado por aquele sentimento de obediência ao ciclo natural de nossa vida. Parece que há alguém que te acalma, põe a mão na sua cabeça e diz: "Era para ser assim". Aí penso: "Estava escrito dessa maneira". Isso tudo faz com que aceitamos naturalmente essa notícia muito triste e evitemos ações injustificáveis. Sabemos que todos nós nascemos, vivemos e morreremos. Uns vão mais cedo, outros vão mais tarde, mas todos dão o Adeus final. Meu consolo foi acreditar que "aquela era a hora" e que nada mudaria aquilo. Se ficasse sozinho , sem família, talvez não aceitaria. Tenho mãe , irmão, esposa, filhos, cunhada , sobrinhos e ainda tento que continuar minha vida seguindo todos os ótimos exemplos deixados pelo meu pai. Há a certeza em meu coração de que meu pai é o primeiro a torcer pela continuação da minha vida numa trilha adequada e serena. Minha mãe colaborou muito com essa minha aceitação, pois ela já estava me dizendo há uns dias que via muita tristeza em meu pai e que achava que ele havia desistido da vida. Acredito que quando isso acontece, fica quase impossível retirar essa pessoa do "abismo" em que se encontra. Com meu pai não conseguimos tal objetivo. Ele já nem ligava mais pela sua saúde, já evitava falar sobre seus problemas. Escondia suas dores....Era como se ele estivesse dizendo a nós:
_
Estou indo. Fiquem em paz! Cuidem de vocês, de suas esposas de sua mãe e de seus netos por mim. Estarei te ajudando na sua vida. Cansei e agora vou descansar.

Após velório, enterro e muita papelada ainda espero um contato com ele. Não acredito que a vida de uma pessoa possa terminar assim. Adeus e pronto. Dia a dia espero vê-lo para conversar com ele e dizer o quanto estou orgulhoso dele. Dizer à ele que conseguiu criar uma família com estrutura e passar a sua honestidade a todos que o cercavam. Relatar a ele que fiquei para criar mais gerações de sua família tentando continuar os acertos dele e acertar onde ele errou. Pedir sua ajuda para iluminar os melhores caminhos em minha vida. Até hoje ainda não consegui o encontrar, mas creio que o encontrarei de algum modo..seja em gestos ...seja com sua voz...seja ao ver seu rosto..seja ao ver seu sorriso...seja em sonho...seja em pensamento..seja nas pequenas coisas..seja nos meus filhos..

Queria muito conversar com ele. Com certeza nossa conversa agora seria diferente, seria calma, sem pressa, sem falar de outros, sem dinheiro, sem problemas...apenas conversa entre nós....Talvez até fosse choro de um lado e de outro, mas seria uma conversa. Nós falaríamos bastante sobre o que já vivemos e o que vamos viver ainda. Sobre nossas emoções, sobre o sentido da Vida.

Amanhã vou levantar cedo e renovar minha crença de que verei meu pai e colocaremos a conversa em dia. Vou muito à casa da minha mãe com objetivo de conseguir sentir ele lá dentro, mas ainda não o sinto. Sinto sim, a ausência dele e aquela saudade que vai ser eterna. Saudade dos seus gritos, risadas, "lições de moral", e até de sua grande barriga. Procuro-o, mas não o encontro.É aí percebo que aceitei a sua morte..não há o que fazer...mas queria ele ainda vivo ou quero ele ainda vivo perto de mim, do meu lado, em minha vida...Aceito que ele tenha parado para descansar, mas estou esperando ele voltar...

Após seu falecimento, visitei vários lugares onde havia pessoas que o conheciam e, a cada visita ia conhecendo um pouco mais dele. A palavra era uma só: Honestidade!! ( Esse foi o maior exemplo que ele nos deixou..). Não acreditavam que ele havia nos deixado. Contavam que o haviam visto há dias atrás...grande, alegre na sua caminhada de sempre. Ele frequentemente ia para o centro da cidade em bancos e locais onde tinha muitos amigos. Ele aproveitava essas ocasiões para colocar a conversa em dia.

Foram nesses locais, que eu percebi que eu seria o novo elo de ligação entre essas pessoas e minha mãe já que as pessoas pediam:
_ Não me esquece. Dê notícias da sua mãe..

Descobri que alguns desses amigos fizeram atos por ele (em vida) que nunca poderei me esquecer... Foi muito bom eu saber que sou filho de uma pessoa que deixou algo para as pessoas. Afinal, valeu todo o esforço dele em trabalhar, trabalhar, trabalhar e se esforçar para ter um grande caráter e nos mostrar o que é ser um homem forte e honesto.

Sempre que lembro dele, penso no tanto que terei que ser forte para cumprir minha parte sendo honesto com todos à minha volta e recompensando aos que o ajudaram em sua vida. Vou passar tudo isso aos meus filhos, pois é mais que uma obrigação. É uma "lição para casa" que ele me deixou, sendo necessária fazê-la todos os dias.

Vai ser difícil passar bem na data de seu aniversário, na data de casamento, no dia dos pais, no dia de seu falecimento... O mês de setembro já ficou marcado em minha vida...Era um mês lindo em que eu comemoro meu aniversário e agora também é o mês em que eu fico muito triste pela morte de meu pai... Não há como comparar e resumo como sendo um mês que me traz más recordações.

Tudo isso vai ser muito difícil, mas vejo que essa dificuldade toda já chegou e hoje já é complicado acordar e saber que ainda estou com saudades dele. Não precisarei esperar por essas datas, pois já sinto muita tristeza e muita saudade.

Após uns 15 dias percebo que ele começou a aparecer em minha vida fazendo com que eu volte à rotina e viva tentando reproduzir o que ele me ensinou. Agora estou mais calmo, sensato..ainda não aceito, mas estou vivendo.

Agora já se passaram 30 dias de sua ausência e eu ainda fecho os olhos e lembro daquela cena dele na cama, morto. Penso na minha mãe e digo para mim mesmo:
_ Se cuida e cuida da sua mãe, pois ele vai gostar...

É....iniciei esse livro dizendo estar conformado com o fato ocorrido,mas tenho que terminá-lo dizendo que ainda não me conformei com o fato e acho que nunca vou me conformar.....para que temos que viver e depois morrer?

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