Era aula de ortografia, falávamos sobre as confusões entre o “g” e o “j”. Dentre tantos exemplos, falei da palavra “jiló”, corretamente escrita com “j”. A sala era numerosa. Sessenta alunos, cursinho, sábado de manhã. No fundo da sala ficava um garoto, sempre quietinho. Nunca perguntara nada, nenhuma manifestação sequer. Quando eu falava do “jiló”, ele me olhava desconfiado e resolveu me interromper. Como ele nunca falava nada, todos se viraram para ouvi-lo, muito mais eu.
— Professora, eu discordo da senhora. Essa palavra se escreve com “g”.
Ele falou com uma certeza tal, que se eu não estivesse acostumada a escrever “jiló” com “j” teria concordado com ele.
Imaginei que ele tivesse uma explicação para aquela teoria ortográfica e resolvi perguntar :
— Mas, por que você está dizendo isso?
— Porque o feirante lá da feira do meu bairro escreve com g, e ele também não coloca esse risquinho que você pôs em cima do “o” e eu prefiro acreditar nele do que na senhora que não entende nada de feira.