“Penso que não é admissível continuarmos a assistir, sem nenhuma reação institucional a exibições públicas de marginais fortemente armados nas grandes cidades do país, fechando ruas para assaltar, portando sofisticadas armas de uso em guerras e guerrilhas...”.
Este pensamento, que reflete, com certeza o mesmo de todo brasileiro amante da paz e de sua pátria é um pequeno trecho do discurso de posse do Diretor geral do Departamento da Polícia Federal, Dr. Paulo Fernando da Costa Lacerda (na íntegra no site da Polícia Federal).
Toca numa questão de enorme gravidade para toda a sociedade brasileira: o contrabando de armas. Problema que faz parte de realidades subterrâneas, formado de meandros e liames que não são até o momento plenamente identificados pelos olhos de nossa justiça e defesa, caso contrário não seria parte da verdade a afirmativa de que o país não tem sido capaz de impedir a entrada de armas por suas fronteiras (o que equivale dizer que não se tem cem por cento de controle da defesa numa área estratégica), afirmativa esta encontrada ao final de um dos editoriais do Jornal Folha de S.Paulo em novembro do ano passado. Em nosso país entram armas de todo calibre que nossas forças policiais não usam. São de procedência americana, canadense e outras mais. Aí está, portanto identificada uma importante veia do organismo do crime organizado. O comércio ilícito de drogas é o principal beneficiário do contrabando e não adianta centrar fogo somente no combate às drogas se aquela veia vital continua irrigando. Há que se obstaculá-la e o organismo enfraquecerá. O desafio existe há muito e se mantém de governo a governo, porque não se trata de algo que se possa atacar sem esbarrar em poderes desconhecidos. O poder do tráfico de drogas é conhecido e notório. E os outros?
Para ilustrar, retiro da extinta revista REALIDADE, que na edição de junho de 1974 contemplou essa questão no artigo intitulado “O milionário tráfico de armas de guerra”, citação sobre um tal Basil Hazaroff, homem brilhante, frio, cruel, sinistro e que amealhou a maior fortuna na Europa do início do século passado chefiando o comércio ilegal de armas. Este homem, que “tinha poder para derrubar e colocar governos, provocar e nunca terminar lucrativas guerrinhas (...) e que era intolerantemente corrupto e jamais vacilou em fazer qualquer coisa para negociar suas armas”. Morreu em 1936 envergando 298 condecorações, de 31 países...
Pergunto: Quantos Zaharoff haverá pelos subterrâneos do poder sem necessariamente ostentarem condecorações?
Difícil responder. Difícil imaginar que será tarefa fácil encontra-los e imobilizá-los. Mais difícil ainda, aceitar que continuem dominando o futuro...
