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cronicas-->Por uma agenda azul -- 09/11/2006 - 09:21 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Por uma agenda azul

por Editoria MSM em 09 de novembro de 2006

Resumo: Por uma série de motivos que podem ser estudados ou meramente especulados, o panorama político-partidário brasileiro não só não parece oferecer um reflexo fiel do eleitorado, como definitivamente insiste em navegar num sentido contrário.

© 2006 MidiaSemMascara.org


O aparente caos institucionalizado que tomou conta do cenário político brasileiro, coroado com a reeleição de uma administração sob suspeita e aliada a algumas das piores lideranças políticas do continente, aparentemente com duvidosas intenções para o segundo mandato (onde certamente virá à tona a idéia de cerceamento de uma parte das liberdades individuais, pela via jurídica ou simplesmente pelo desmando verificado quanto à ação dos "movimentos socais" com licença para invadir e espancar), pode estar simplesmente ofuscando o que seria uma extraordinária oportunidade de rearticulação político-partidária.

A se observarem alguns dados interessantes, revelados tanto pelos resultados das urnas quanto por recentes pesquisas de opinião, a população brasileira é hoje certamente uma das pior representadas em termos eleitorais. Como não se cansa de observar Olavo de Carvalho, nossa agenda política não permite qualquer enviesamento do debate: assim, quaisquer críticas à política económica, por exemplo, ou à administração pública de modo geral, saem da esquerda em direção a uma esquerda ainda mais acentuada e radical. O governo Lula é ruim? Isso se dá, na visão desse consenso forçado, porque o mesmo caminhou em direção "à direita". São necessárias mudanças? Sim, mudanças que conduzam o governo ainda mais à esquerda, e assim sucessivamente.

É uma distorção, entretanto, semelhante a imaginar que o rabo possa abanar o cachorro, e não vice-versa, se imputar toda a culpa pelo panorama político catastrófico apenas à ação do PT e à imprensa esquerdista. Não se pode, certamente, censurar-lhes pelo fato de que esperem obter ainda mais poder e influência, ao não encontrarem qualquer força no sentido oposto que lhes possa impedir. Ao mesmo tempo, seria ingenuidade imaginar que possa partir da esquerda qualquer tipo de estímulo a que nosso panorama político-partidário torne-se mais pluralista e consiga, de alguma maneira, refletir as naturais divergências de pensamento existentes na própria sociedade. Em resumo: uma mudança, para melhor, na direção de um aprimoramento da democracia representativa, não poderá surgir dos políticos e representantes eleitos que aí estão, ao menos da maneira como aparecem agrupados hoje em dia, com estes partidos e sua dinàmica própria. É preciso que surja um fato novo.

É interessante observar, desse modo, que uma significativa parcela da população parece emitir sinais de que está absolutamente insatisfeita e não se sente potencialmente representada pelos políticos e partidos da forma como ora se apresentam. Vejamos o que diz o jornalista Reinaldo Azevedo, em seu blog, a respeito do segundo turno das eleições:

"Foram às urnas apenas 101.999.221 pessoas (soma dos votos válidos, mais brancos e nulos). O total do eleitorado é 125.913.479. Logo, abstiveram-se 23.915.258. A conta é interessante pelo seguinte: se você somar esse número aos brancos e nulos, 30.075.259 eleitores não quiseram saber nem de Lula nem de Alckmin. Nada menos de 23,88%, quase um quarto, do eleitorado. Mais ainda: Lula obteve, é verdade, 60,83% dos votos válidos, mas apenas 46,29% dos que podem votar. Seria interessante as oposições refletirem sobre esses números. As pessoas que rejeitaram Lula e Alckmin são superiores à vantagem do petista sobre o tucano."

Ao mesmo tempo, uma recente pesquisa realizada pelo Instituto DATAFOLHA (http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u81324.shtml) trouxe informações muito elucidativas quanto ao que pensa o eleitorado brasileiro, quando chamado a opinar um pouco além do mero apertar de botões coloridos ao qual parece estar reduzida nossa "vivência democrática":

"Pesquisa Datafolha revela que 47% do eleitorado brasileiro se define com sendo de "direita". Outros 23% de "centro" e apenas 30% de "esquerda".
Apesar de menos da metade se definir como de "direita", é esmagadora a maioria que adota posições geralmente associadas ao conservadorismo, como a condenação ao aborto, às drogas e a defesa de medidas mais duras de combate ao crime.
A pesquisa mostra que são contra a descriminalização da maconha 79%. Do aborto, 63%. Outros 84% defendem a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos e 51% querem a instituição da pena de morte. Os percentuais gerais acima não diferem muito mesmo isoladamente em cada um dos grupos de eleitores ("direita", "centro" e "esquerda"). Exemplo: entre os que se dizem de "esquerda", 87% (mais do que a média) são favoráveis à redução da maioridade penal.
Em alguns temas, como aborto, drogas e pena de morte, os eleitores mais jovens se mostram até um pouco mais conservadores que os mais velhos.
(...) Comparados aos resultados de levantamentos semelhantes nos últimos anos, os dados mostram que o perfil conservador do eleitor permanece forte desde a década de 90."

Como pode ser facilmente observado, uma parcela significativa (embora não necessariamente homogênea) do eleitorado brasileiro: 1-Não se mostrou de maneira alguma estimulada a corroborar com a visão de administração pública e ocupação da máquina por um partido político com tendências totalitárias; 2-Não quis destinar seu voto a nenhum dos candidatos a presidente apresentados; 3-Tem uma visão em relação a temas pontuais que pode tranquilamente ser considerada de "direita" ou "conservadora". Ao mesmo tempo, é correto pensar que a mesma legitimidade conferida ao eleitorado para manter no poder, através do voto, um governo atolado em denúncias e suspeitas, possa também manifestar-se quanto aos temas acima propostos, sem prejuízo à democracia e independentemente de contrapor-se "às elites intelectuais" e "aos formadores de opinião profissionais" (ou a suposta "vontade do povo" só é soberana quando vai ao encontro do que planeja a esquerda, devendo ser ignorada em todos os outros casos?).

A conclusão é simples e imediata, embora suas implicações sejam mais complexas: por uma série de motivos que podem ser estudados ou meramente especulados, o panorama político-partidário brasileiro não só não parece oferecer um reflexo fiel do eleitorado, como definitivamente insiste em navegar num sentido contrário. Voltamos, a partir daí, a uma afirmação feita anteriormente: não se pode imputar essa culpa aos partidos e políticos que aí estão, do modo como se apresentam, se articulam e interagem entre si. Seus projetos de poder estão colocados, são claros (sejam eles enriquecer às custas da vida pública ou implantar a ditadura do proletariado), e não será surpresa que a situação que aparece, hoje, para grande parte da população como intolerável, agrave-se ainda mais nos próximos anos. A mudança, enfim, se é que ela sobrevirá, não será de dentro para fora, mas certamente o inverso.

Nossa crise atual, ao se observarem aqueles números, ganha contornos ainda mais estarrecedores. Pode-se afirmar, sem medo de errar por muito, que a maioria da população brasileira está genuinamente desinformada a respeito dos políticos nos quais têm depositado sua confiança, uma vez que, ao assumirem seus cargos, coloquem em prática o exato oposto do que gostariam seus eleitores, encenando um autêntico teatro do absurdo de péssimo gosto. Se existe uma luta de classes, como quer fazer crer o tempo inteiro nosso presidente reeleito, não se dá essa entre ricos e pobres, ou entre sulistas e nortistas, uma vez que há beneficiados e descontentes de todos os lados. A verdadeira contraposição pode ser melhor representada, de forma esquemática e não necessariamente doutrinária, entre "Estado" e "Sociedade", entre "políticos" e "contribuintes", ou ainda entre "organizados" e "desorganizados". E, certamente, uma virada nessa mesa terá de se dar por iniciativa dos descontentes e excluídos da "festa da democracia", zumbis que pouco podem fazer a não ser recolher seus tributos e fazer número nas fileiras das zonas eleitorais, de dois em dois anos.

Não é o caso de desconfiar da instància eleitoral para que a situação possa ser enfrentada e transformada de alguma forma. O referendo quanto ao desarmamento funcionou como um excelente exemplo de que certas vitórias podem ser conseguidas nas urnas, a despeito inclusive da inclinação esquerdista da mídia. O problema, então, não é o governo, nem o voto, nem tampouco a imprensa: o problema é a ausência de representatividade da maior parte do eleitorado, que, quando vota, vota desinformado, e quando não vota pouco faz além de demonstrar sua insatisfação ou desinteresse, mas ainda assim coroa o inimigo.

Diz o ditado que, se não existe concorrência, é porque não existe mercado. Há eleitores, contudo, certamente interessados em votar diferente, mas que não encontram quem possa atender a sua necessidade. E há uma massa de eleitores desinformados, sem tempo para estudar ou tentar compreender a real natureza do que os cerca, porque precisam seguir com sua vidas e arcar com seus tributos perante um estado monstruosamente intromissor, mas que poderiam votar diferente, se lhes fosse apresentada uma alternativa real.

Mais do que cumprir as exigências da legislação eleitoral, o surgimento de um novo partido político com representatividade nacional (www.tre-pr.gov.br/eleitorfuturo/down/partido_politico.doc) ou a adesão de um partido existente estaria diretamente confrontado com o desafio de definir uma agenda comum, de fácil assimilação, e que pudesse atender a essa imensa e silenciosa insatisfação da população brasileira com sua classe política. Os pontos dessa agenda possivelmente passariam pelo tema do aborto, da defesa da propriedade privada, da segurança pública com status de segurança nacional, da diminuição real da carga tributária e da liberdade individual expressa na livre iniciativa, na livre expressão e na liberdade de culto. Divergências menores talvez pudessem ser deixadas de lado, ao menos num primeiro momento, para que estrategicamente a agenda comum pudesse crescer entre o eleitorado, ao mesmo tempo em que os políticos que a ela aderissem estivessem aptos a dispor da flexibilidade necessária ao exercício, especialmente da vida parlamentar, sem trair, contudo, a plataforma comum.

Independente do que possa ou não ser feito, é certo que a mudança terá de vir de fora para dentro, com o aparecimento de peças antes ausentes no tabuleiro político, e não o contrário. E a única forma de atingir mais rapidamente esse objetivo é jogar o jogo da democracia representativa, com responsabilidade, sem perder de vista que mudanças demandam algum tempo e esforços, e não ocorrem magicamente da noite para o dia. Definindo, quem sabe, uma agenda azul, por assim dizer, que possa confrontar a avalanche vermelha onde parecemos todos estar enterrados até o pescoço, de pernas e mãos paralisadas, sem sabermos como sair.



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