Iniciativa, independência, auto-motivação: está muito em voga a idéia de que sucesso, felicidade e realização estão nas mãos do próprio indivíduo, sendo as circunstâncias desafios a serem encarados com perseverança e disciplina - e não
fatalidades às quais nos devamos render e razões para explicar um eventual fracasso.
Trata-se de forma madura e progressista de encarar a realidade e a avaliação do perfil de indivíduos de sucesso frequentemente aponta uma crença nessa postura. Representa também um avanço na forma paternalista, autoritária e fatalista à qual nos acostumamos, através de séculos, a
enxergar a realidade e exercer atividades em nosso país.
Entretanto, muitos gerentes e líderes brasileiros - por comodismo, superficialidade, incompetência ou pura perversidade - têm se utilizado desses conceitos não para alimentar o desenvolvimento humano e o processo produtivo,
mas simplesmente para exonerar-se de responsabilidades.
O pretenso líder utiliza-se do pretexto da auto-motivação para, eventualmente, deixar de trabalhar a motivação dos indivíduos sob sua responsabilidade. Usa-se, por vezes, do
quesito iniciativa para transferir culpa ao invés de responsabilidade. Por fim, evita fornecer informação e feedback, atribuindo ao subordinado sua busca e compreensão.
A estrutura burocrática e o poder de posição desses indivíduos podem, dependendo do tipo de organização a que pertencem, alimentar este comportamento. Alie-se a isso a frequente situação terceiro-mundista de oportunidades
restritas de emprego e achatamento de salários - fatores naturalmente limitadores da tendência de subordinados a questionar e incorrer em riscos - e temos um quadro propenso à perpetuação.
Importamos, como ainda é habitual, os discursos
progressistas, sem disposição, contudo, para compreender, implementar e analisar a aplicação prática dos conceitos.
Iniciativa, independência e auto-motivação devem, sim, partir dos indivíduos, como qualquer traço de personalidade voltado à mudança. Contudo, estas qualidades são altamente perecíveis
se não recebem estímulo exterior e se são frequente e sistematicamente sufocadas por ambientes regressistas.
Não deixou de fazer parte do papel do verdadeiro líder alimentar, apoiar e criar um ambiente apropriado para o florescimento e manutenção dessas qualidades. Os tempos de constante mudança não tendem a abolir o papel da educadores e
desenvolvedores inerentes aos verdadeiros líderes, mas sim de fortalecê-lo, pois o caos tende a desenvolver mais receosos do que empreendedores, mais liderados do que líderes.
Independência ainda requer informação. Iniciativa ainda requer espaço. Motivação ainda requer estímulo e feedback.
A colaboração é, portanto, uma via de mão dupla, sendo mais provável o indivíduo sem grande poder moldar-se ao ambiente do que tentar modificá-lo. Ao mesmo tempo em que o "bom" liderado deve buscar, com profissionalismo e negociação,
conquistar espaço e confiança junto a seus líderes, o líder também não pode exonerar-se de suas responsabilidades, devendo fornecer, sim, informação, espaço, estímulo e feedback.