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Artigos-->Globalização -- 02/02/2003 - 14:07 (edson pereira bueno leal) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


GLOBALIZAÇÃO Prof. Edson Pereira Bueno Leal .



Nos dias de hoje, fala-se muito no fenômeno da globalização e em suas consequências. A globalização não é um fenômeno novo. O capitalismo é um sistema econômico global pela sua natureza . Ele começou a se constituir na época da expansão ultramarina que outra coisa não significou que a globalização do comércio.

Com a Revolução industrial o processo de globalização intensificou-se e mudou de natureza e intensidade , à medida em que foram se avolumando os aportes de capital gerados pelo funcionamento da economia capitalista.

Porém hoje em três anos se produz e entrega no mundo todo o que , nas condições materiais de 1900 levaria um século inteiro de trabalho .

A globalização já era analisada por Marx em 1848 em seu célebre Manifesto : A grande indústria criou o mercado mundial . As velhas indústrias nacionais foram aniquiladas e continuam a sê-lo dia a dia . Ela são suplantadas por novas cujos produtos se consomem simultaneamente tanto no próprio país como em todos os continentes . Em lugar das velhas necessidades , atendidas pelos produtos do próprio pais , surgem necessidades novas , que exigem , para a sua satisfação , produtos dos países mais longínquos e de climas diversos . Dissolvem-se todas as relações sociais antigas e cristalizadas , todas as relações que as substituem envelhecem antes de se consolidarem . Tudo o que era sólido e estável, se desmancha no ar" .

O neo-colonialismo no século XIX foi uma fase acentuada de globalização ao caracterizar-se por uma nova integração selvagem da África e da Ásia à economia mundial , sedenta de matérias primas e mercados para a colocação de produtos manufaturados. A integração de mercados tornou-se fator importante para o desenvolvimento do capitalismo

O século XX, a partir dos anos 30 assistiu ao início da industrialização na periferia do sistema, através da instalação de filiais de indústrias provenientes dos países desenvolvidos, na consolidação de mercados através de processos de substituição de importações.

Porém a globalização , entendida como "interdependência crescente" é uma realidade contemporânea . Hoje podemos dizer que até a criminalidade se globalizou , existindo uma máfia intercontinental atuando especialmente no tráfico de drogas e na prostituição e após 11 de setembro de 2001 o mundo reconheceu a efetiva existência de uma rede terrorista mundial .

Como fenômeno ideológico , a "globalização " é antes de mais nada uma expressão do poder dos principais países desenvolvidos e das suas grandes corporações.

É enganoso imaginar que globalização signifique a formação de uma economia mundo . Grande parte da dinâmica macro-econômica das nações de porte médio e grande continua sendo comandada por fatores nacionais , inexistindo portanto uma economia "global" com grande integração de mercados nacionais . Exemplo deste fato pode ser o desempenho entre as economias do Japão e EUA durante a década de 90 que mostrou acentuada discrepância.

INTERNET

A globalização da qual se fala no ano 2.000 decorre do espetacular avanço da informática e das comunicações que encurtou distâncias e aproximou continentes , ignorando as fronteiras nacionais, associada à alta tecnologia e à ampliação exponencial do capital financeiro como instrumento de aceleração da economia .

A Internet foi criada pelo Departamento de Defesa do governo americano , na época da Guerra Fria , com uma arquitetura para funcionar , mesmo que Washington desaparecesse do mapa . Por isso tornou-se uma rede global sem centro de comando . Não tem dono, nem público nem privado , crescendo de forma avassaladora.

Nenhuma forma de comunicação na história humana cresceu com tal velocidade e nenhuma outra possibilita a comunicação tão ampla a baixo custo. O que antes era exclusividade dos radioamadores , agora está à disposição de qualquer um que tenha computador. A Internet tornou o conceito de aldeia global uma realidade concreta .

ECONOMIA DO CONHECIMENTO

Conforme assinala Paul Romer , da Universidade de Stanford a economia contemporânea é baseda no conhecimento e não em matérias primas .Por isso ela não tem limite de crescimento . Na economia clássica tendo em vista a escassez de recursos os custos podem ser crescentes . Na economia do conhecimento ocorre o contrário . A primeira cópia do programa Windows custa centenas de milhões de dólares , mas a segunda apenas o preço de um CD 0,5 dólar.

INTERNACIONALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO

Por outro lado , segundo a McKinsey em 30 anos a produção mundial deve passar de 28 para 91 trilhões de dólares e os mercados globais de 6 para 73 trilhões, ou seja , 80% do total . Portanto as empresas que não se internacionalizaram irão disputar apenas 20% do mercado.

Em 1990 havia 37 mil empresas transnacionais e 170 mil subsidiárias no mundo e em 1998 já eram 60 mil transnacionais e 500 mil subsidiárias . ( Exame 2.5.2001 , fls. 96) . Por sua vez a economia mundial está praticamente dolarizada pois 80% dos contratos em negócios internacionais são designados em dólar . Estas redes empregam 200 milhões de trabalhadores em 3 bilhões , mas geram 30% do produto bruto global e dois terços do comércio mundial .

As empresas multinacionais foram crescendo de tamanho e importância e passaram a atuar em dezenas de países

Com relação a determinadas mercadorias , as empresas realizam adaptações para adequá-las ao mercado local. Em outros casos isto não é necessário , o mesmo produto é vendido no mundo inteiro. Por exemplo a Avon, que atua em 140 países em 1995 tinha apenas 11% dos produtos globais e em 2001 chegou a 70%, sendo até mesmo as embalagens e propagandas iguais . ( Andrea Jung, Revista Veja , 1.8.2001, p. 14 ) . Outras empresas como a Nestlé fazem adaptações constantes por se tratar de alimentos . A Nestlé invste US$ 560 milhões por ano em pesquisa e desenvolvimento de produtos e tecnologia e tem 3.600 funcionários neste setor. O Nescafé é diferente nos EUA, na Ásia, no Brasil e até mesmo dentro da Europa . O conceito é que tudo o que o consumidor pode ver, tocar, cheirar ou provar deve ser adaptado ao gosto local. O resto pode ter uma versão regional ou global. ( Revista Veja, 25.07.2001, p. 120).

Com as multinacionais tendo grande peso na pesquisa , a ciência e a tecnologia igualmente se globalizaram em redes de comunicação e cooperação, interligando centro de pesquisas empresariais em articulação com universidades .

Antônio Negri , que foi líder da esquerda revolucionária italiana na década de 70 , em seu livro Empire , defende a globalização como a chance que a humanidade tem de assumir a cidadania global , livre das amarras dos Estados Nacionais . Porém é voz isolada entre as esquerdas.

EMPRESAS ATUAM EM ESCALA GLOBAL NA VENDA E PRODUÇÃO

Na era da Internet , as grandes empresas passaram a raciocinar em termos globais e não mais em termos nacionais . A empresa vai buscar matéria prima onde ela está mais barata e fabrica o seu produto da maneira mais econômica, não importa em que pais esteja localizada a unidade produtiva .

Até por questões de estratégia empresarial e segurança, prefere repartir as etapas de produção de uma determinada mercadoria em vários países, pois desta forma, além de economizar ela retira completamente do país a capacidade de controle e intervenção, pois ela torna-se ineficaz sobre apenas uma etapa da produção.

Este processo se generalizou e tornou-se prática comum nos dias de hoje , e desta forma torna-se impraticável para os governos nacionais controlarem estas empresas pois apenas parte delas está localizada em um único país. Assim , por exemplo a fábrica de Computadores Compaq fabrica parte de seus computadores em Taiwan, Cingapura, Coréia, Japão, Vietnã e nos Estados Unidos. "A Ford americana é dona de 25% da Mazda japonesa, numa operação em que fabrica carros pequenos. Juntas , as duas empresas são sócias da coreana Kia Motors. A Kia vende peças para a Ford/Mazda. E a Yamaha japonesa vende os motores" (Revista Veja, 3.4.96, p. 83). O Fiat Palio é montado no Brasil, Argentina, Colombia, Venezuela, Índia, Marrocos e China com peças da Venezuela, Marrocos, Equador, Egito, Argélia e Vietnã.

A Nike americana que possui 9.000 funcionários nos EUA , apenas trabalhando em projetos, planejamento de marketing e gerenciamento, sendo que a produção de tenis é toda feita em unidades instaladas em outros países .

Portanto esta estratégia de repartição das atividades entre diversos países atende a princípios de economia de escala , mas também é uma proteção contra ataques de nacionalismos por parte de governos locais.

"Perguntaram-me outro dia sobre a competividade dos Estados Unidos e eu respondi que nunca penso nisso . Nós da NCR (National Cash Register Co. ) , pensamos em nós mesmos como uma empresa globalmente competitiva que, por acaso tem sede nos Estados Unidos " ( SCHELL, J. New York Newsday . In HOBSBAWN , E. A Era dos Extremos, 1993 , p.393) .

"As redes de pesquisa estabelecidas entre as transnacionais são tão complexas que é difícil dizer quem está projetando o quê . A IBM americana tem laboratórios no Japão e na Suiça. A Hewlett-Packard emprega cientistas na Austrália, Alemanha e Cingapura. A Honda e a Mazda mantém centros de pesquisa nos Estados Unidos. Equipamentos de precisão para a prática de hóquei no gelo são desenhados na Suécia, financiados pelo Canadá, montados na Dinamarca e vendidos na Europa. O material utilizado é uma liga metálica cuja estrutura molecular foi desenvolvida e patenteada nos estados Unidos e é produzida no Japão" ( Revista Veja, 3.4.96, p. 86-87).

GLOBALIZAÇÃO E ESTADO NAÇÃO

Em razão desta nova realidade , diminui substancialmente o poder do Estado Nação de interferir e/ou direcionar o processo de industrialização que passa a ser controlado pela ótica e pelos interesses da empresa privada . Da mesma forma , os trabalhadores tem diminuído o seu poder de barganha, pois exigências exageradas frente à empresa podem resultar na mudança da planta produtiva para outra região ou mesmo para outro país , com resultados neste caso desastrosos para os trabalhadores da unidade

Como assinala Alain Touraine , uma coisa é afirmar o triunfo da sociedade de mercado ; outra , totalmente diferente , é dizer que a sociedade deve ser regulada como um mercado e, portanto, ser liberal, ou seja, reduzir tanto quanto possível as intervenções centralizadas e voluntaristas do Estado , dos monopólios , da Igreja . ( F S P 14.07.96, p. 5-6 ) .

Porém o Estado Nação não poderá abdicar de suas tarefas típicas . Somente o Estado tem o poder de controlar cartéis e monopólios . O controle do sistema financeiro também é fundamental. Com relação ás atividades privadas deve o estado agir como fiscalizador e regulador .

Somente a ação de mecanismos internacionais , que podem definir parâmetros mundiais , como por exemplo a definição de alíquotas mínimas para impostos sobre os lucros poderia impedir a ação predatória de grandes grupos econômicos na busca de maiores lucros com tributação mais baixa .

Por outro lado conforme nota Ellen M Wood " no mercado global o capital precisa do Estado . Necessita dele para manter as condições de acumulação e competitividade . Precisa do Estado para preservar a disciplina trabalhista e a ordem social diante da austeridade e da flexibilidade e para acrescentar mobilidade ao capital , ao mesmo tempo em que bloqueia a mobilidade dos trabalhadores. " ( F S P 9.2.2001 Especial p. 4) .

A globalização potencializou a atuação de instituições políticas supranacionais que passam a agir como direcionadoras das políticas nacionais . Mercados comuns como a União Européia , a Alca e o Mercosul integram economias , instituições como o G-8 e a FMI definem diretrizes de ação uniformes para grupos de países .

A idéia de globalização como fim do Estado Nação serve apenas às teorias colonialistas . Os países desenvolvidos , mais globalizados continuam defendendo ferozmente seus interesses e fronteiras nacionais . Neste sentido os países ricos falam em queda das barreiras protecionistas contra seus produtos nos países subdesenvolvidos , enquanto mantém as suas barreiras aos produtos do Terceiro Mundo.

GLOBALIZAÇÃO E TRIBALISMO

O tribalismo é um fenômeno crescente no mundo moderno. Em países fortemente multi-raciais como os EUA , os grupos querem manter sua identidade étnica . Porém o tribalismo não se opõe à globalização , mas é um suporte . O tribalismo permite que os indivíduos em um mundo global mantenham raízes , preservem a idéia de comunidade, tenham um referencial para se localizar . Portanto , com o declínio do Estado Nação , reforça-se o tribalismo e a globalização. O indivíduo irá conviver simultaneamente com o mundo global e com suas micro-comunidades .

No campo da arte , da música , literatura e pensamento a globalização não é homogênea . Segundo Edgar Morin ela é feita de grandes ondas transculturais que favorecem a expressão das originalidades nacionais em seu seio.

PODER DAS MULTINACIONAIS

O poder das multinacionais pode ser aferido pelo fato de que" um terço do comércio internacional ( 1 trilhão de dólares em 1990) , refere-se a troca entre unidades de transnacionais . Elas empregam 20% da mão de obra não agrícola em países em desenvolvimento e 40% nos países desenvolvidos. Tem seus próprios laboratórios e financiam boa parte da ciência acadêmica. ..Segundo Gilberto Dupas, a força dessas corporações e sua atuação geográfica – operam praticamente em todos os países – mudaram o enfoque do jogo econômico. No passado , quem fazia as grandes decisões econômicas eram os governos. Agora são as empresas . ‘As maiores corporações mundiais estão decidindo basicamente o que , quando e onde produzir os bens e serviços utilizados pelos seres humanos’" . (Revista Veja, 3.4.96, p. 83).

Portanto a globalização a nível político está alterando a estrutura de poder . O Estado Nação não vai desaparecer , mas vem perdendo posição como orgão único de poder. Além da ação das multinacionais outros fatores estão interagindo neste sentido.

Internamente , os países mais desenvolvidos estão transformando-se cada vez mais em sociedades pluralistas tendo em vista o alto grau de informação da população e o surgimento de novas esferas de controle , além do vigilante papel da imprensa .

Externamente algumas funções governamentais escapam do controle puramente nacional , como por exemplo na esfera econômica , através da ação de organismos internacionais como o FMI e o Banco Mundial que interferem na política econômica nacional. Com a consolidação dos blocos regionais como a Comunidade Econômica Européia, o Alca e o Mercosul , algumas funções estão se tornando regionais.

AS INSTITUIÇÕES GLOBAIS

Por outro lado , a realidade histórica contemporânea tem demonstrado a grande dificuldade que estas instituições globais como a ONU e o FMI tem demonstrado para efetivamente atuar no contexto internacional , agindo como instrumentos reguladores ou de coordenação .A ONU não tem conseguido efetivamente agir como entidade supra-nacional e o sistema de veto no Conselho de Segurança , seu principal organismo age como forte limitador de ações mais eficazes . O FMI não possui instrumentos efetivos para atuar no combate à especulação nos mercados internacionais . Ou seja , em outros palavras se em termos de sistema de comunicações , economia , certas características culturais podemos falar em uma estrutura global , isto não é possível em outros aspectos como governança, cidadania, controle dos poderes , onde não existe qualquer tipo de integração.

ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS - ONGs

Outro aspecto fundamental inerente á globalização é o surgimento de novos micro-atores políticos , extremamente organizados , barulhentos e eficientes . São as Organizações Não-Governamentais , as ONGs . Enquanto em 1956 havia apenas 1000 ONGs , em 1998 elas já passavam de 32.000 com ação internacional. Internamente , passam de 2 milhões nos EUA e 200.000 no Brasil. Empregam 19 milhões de pessoas , com um orçamento de US$ 1,1 bilhão .

"Um estudo da Universidade John Hopkins realizado em 22 países, constatou que os governos bancam 40% de todo o dinheiro gasto pelas ONGs . Quase 50% do dinheiro dos Médicos Sem Fronteiras , que presta assistência médica em áreas de conflito, vem de cofres públicos " ( Revista Veja , 14.6.2000 , p. 51). Estas organizações estão substituindo a burocracia estatal em uma série de atividades , sendo que o governo não tem qualquer controle sobre os seus gastos e suas prioridades . Em razão das acusações de ineficiência do Estado são cada vez maiores as pressões para que fundos públicos sejam gerenciados por instituições autônomas .

MANIFESTAÇÕES ANTI-GLOBALIZAÇÃO .

Manifestações anti-capitalistas são comuns desde os anos 60, como em maio de 68 em Paris , nas universidades americanas e mesmo no Brasil. Nos anos 70 os hippies manifestaram sua hostilidade às convenções sociais . Agora os protestos voltaram-se contra o fenômeno da globalização .

As ONGs também estão se notabilizando pela postura anticapitalista , com a presença de milhares de manifestantes em todos os foruns globais que vem sendo realizados , com manifestações de protesto , ou tentando impedir as reuniões de se realizarem . Maria da Glória Gohn coloca a gênese das articulações desses movimentos em 1996 , em Chiapas , durante o Primeiro Encontro Internacional pela Humanidade e contra o Neoliberalismo , organizado pelos zapatistas . Em 1997 , a Global Trade Watch empreendeu uma campanha nos EUA contra a Organização para o Comércio e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e na Europa foi realizada a Marcha Européia contra o Desemprego com o apoio de sindicatos e organizações de direitos humanos, ( F S P Mais , 27.01.2002 , p. 14-15) . Os protestos começaram em maio de 1998 em Genebra na Suiça durante aniversário da Organização Mundial do Comércio . Prosseguiram em junho de 1999 em Colônia na Alemanha , no encontro do G-8 , em dezembro de 1999 em Seatle EUA durante Conferência da OMC , em Davos na Suiça em janeiro de 2000 ; no 31. Fórum Econômico Global; em Washington em abril 2000 na reunião do FMI ; em junho de 2.000 em Colônia na Alemanha em reunião do G-8 ; em setembro 2000 em Praga , em reunião do FMI e Banco Mundial ; em janeiro de 2001 novamente em Davos na Suiça no Fórum Econômico Mundial e em julho de 2001 em Gênova na Itália , em reunião do G-8 .

A violência das manifestações levou a serem adotadas estratégias preventivas , como por exemplo a escolha de locais de difícil acesso como em novembro de 2001 quando a Conferência da OMC foi realizada em Doha , no Qtar . Os atentados terroristas de 11 de setembro obrigaram a revisões de estratégias , pois os movimentos anti-globalização não querem ser confundidos com grupos terroristas .

Estes movimentos tem como característica básica a heterogeneidade de sua composição social pois é formado por uma miríade de movimentos e organizações de espectro variado de diferentes matizes e posições ideológicas e sociais . Apesar dessa diversidade todas tem em comum o oposição contra o processo de globalização , seu caráter excludente , as injustiças gritantes hoje existentes e que estão se perpetuando e os próprios valores inerentes ao capitalismo marcadamente o lucro e a exaltação do consumo. Antigas polaridades já apontadas desde os anos 60 como a oposição entre dominadores e dominados , ricos e pobres , desenvolvidos e subdesenvolvidos , são retomadas , por grupos díspares que certamente podem concordar no atacado , mas inevitavelmente irão discordar no varejo .

O guru dos manifestantes anti-globalização é um americano de ascendência checa John Zerzan . Vive num trailer estacionado em Eugene , no Estado do Oregon, uma cidade de tradição anarquista . Não tem televisão , computador ,a utomóvel . É completamente contrário a qualquer aparato tecnológico . Financia a publicação de seus escritos vendendo seu sangue em hospitais e trabalhando como babá . Prega a destruição da civilização . A globalização é o último dos excessos que a humanidade cometeu. Defende que o mundo alcance um futuro primitivo , algo parecido com o que havia antes do desenvolvimento da agricultura . ( Revista Veja, 25.07.2001 , p. 47-50) .

A inquietação social , frente às injustiças do capitalismo, à crescente distância entre ricos e pobres é o principal motivo das manifestações cada vez mais enfáticas . Os manifestantes protestam contra o excessivo poder das corporações multinacionais e contra as políticas de ajuste comandadas pelo FMI e Banco Mundial . O entendimento é que estas instituições são comandadas pelos países ricos, principalmente os EUA e as políticas recomendadas , a partir do chamado Consenso de Washington são prejudiciais , A desregulamentação da economia , a livre movimentação no mercado financeiro entre outras contribuem para agravar a situação de subdesenvolvimento dos países pobres. Os protestos também são a favor dos direitos humanos, do fim do trabalho infantil, do combate à pobreza e por uma melhor distribuição de renda .

As propostas vão no sentido de perdão da dívida externa dos países mais pobres , a democratização dos processos de decisão das agências financeiras , como o FMI , a definição de regras de comércio favoráveis aos países pouco industrializados ,etc.

Estes encontros tem transformado os locais em verdadeiras praças de guerra pois os protestos estão longe de serem pacíficos. A situação se agravou em Gênova na Itália , onde ocorreu a primeira morte de um ativista , o italiano Carlo Guiliani com 23 anos morreu em 20.07.2001 , baleado na cabeça . ( F S P 21.01.2001 , p. A-1 ) .

Neste encontro a solução dada no documento final é justamente que " a globalização deve beneficiar todos os nossos cidadãos e, especialmente , os pobres do planeta" . Entre as medidas neste sentido tomadas consta um plano de desenvolvimento para a África , a criação de um fundo global de US$ 1,3 bilhão , no âmbito da ONU para o combate às doenças infecciosas como a AIDS , malária e tuberculose e a intensificação de esforços para o cancelamento de US$ 74 bilhões da dívida externa de 23 países mais endividados. ( F S P 23.07.2001 , p. A-8) .

Outra medida dos opositores ao Fórum Econômico Mundial realizado anualmente em Davos é o Fórum Social Global realizado em Porto Alegre , o primeiro tendo ocorrido entre 25 e 30.01.2001 . Em Porto Alegre em 2001 ocorreu a destruição de um campo experimental de cultivo de soja transgênica da Monsanto , com a participação do ativista francês José Bové , o que levou a um comentário ácido de Roberto Freire , veterano militante comunista do PPS de Pernambuco : " Queimar pesquisa é um gesto reacionário . Não pode estar atrelado à esquerda , que sempre foi ligada ao iluminismo , à vanguarda . Parecem querer por fogo no pensamento humano " . Veja , 7.2.2001 , p. 38-39) .

Os organizadores conseguiram dar visibilidade política ao Fórum Social , acentuado a prioridade social de um contra a econômica do outro.

DIFERENÇAS IDEOLÓGICAS SOBRE GLOBALIZAÇÃO

ABERTURA ECONÔMICA

PORTO ALEGRE – Desestabiliza os países mais pobres . Governos devem proteger produtores locais e estimular a substituição de importações .

Davos – Favorece os países mais pobres , com acesso a investimentos

DESEMPREGO

Porto Alegre – Empresas devem ser proibidas de demitir para aumentar lucratividade e devem ser obrigadas a contratar e manter empregados.

DAVOS – Emprego depende de educação e de aprimoramento . Para não qualificados só a Previdência Social

CAPITAL FINANCEIRO

Porto Alegre – Taxa internacional de 1% sobre todas as transações cambiais

Davos – Admite controles em casos de emergência

COMÉRCIO INTERNACIONAL

Porto Alegre – Abertura deve ser vista com desconfiança . Importados afogam pequenos empresários e desempregados trabalhadores

Davos – Competição aperfeiçoa a produção , reduz preços e aumento o consumo e emprego

MEGAEMPRESAS

Porto Alegre – Concorrentes menores devem ser protegidos . Taxas e restrições ambientais e obrigação de contratar pessoal .

Davos – Fusões permitem redução de custos . Evitar cartéis e monopólios

PRIVATIZAÇÃO

Porto Alegre – Estado deve manter setores estratégicos : saneamento básico , energia e telecomuncações .

Davos – Exceto educação , todos os serviços devem ser privatizados .

Veja , 31.01.2001 , p. 100-101 .

Medidas concretas em benefício dos países pobres já foram tomadas como o perdão de dois terços da dívida de 23 países paupérrimos , o Bird deixou de financiar projetos faraônicos e investe mais em saúde , educação e nutrição e mesmo em ONGs .

CONCENTRAÇÃO DE CAPITAL

A nível das empresas a integração dos mercados está acelerando um processo de concentração de capital .As empresas para se globalizar precisam ganhar escala e conseguir vantagens competitivas utilizando o que há de melhor no mundo em termos de fornecedores , clientes , talentos , conhecimento e produção . "As empresas estão se tornando cada vez maiores, espalhando seus produtos por mais regiões e ficando cada vez mais eficientes. A lógica da globalização impele as empresas maiores e melhores a comprar as menores ou mais atrasadas. E as grandes a unir forças. Crescem as fusões e compras de empresas . Hoje, segundo um estudo da empresa de consultoria McKinsey, apenas 15% do PIB mundial é globalizado. Esse índice deve chegar a 80% dentro de vinte anos. ‘Como ao final desse processo sobrarão muito poucas empresas, estamos em meio a uma corrida para ver quem sobreviverá " , diz Heinz-Peter Elstrodt, sócio da McKinsey" (Revista Veja, 13.5.98, p. 117 ) .

. "Desde 1995 , mais de 18.000 empresas foram vendidas ou uniram suas forças. As transações envolveram 852 bilhões de dólares...A empresa química DuPont comprou uma parte da indústria farmacêutica Merck, a rede de supermercados holandesa Ahold comprou as lojas da Giant Food nos Estados Unidos, dois bancos belgas foram vendidos e , o caso mais notório , a indústria canadense de bebidas Seagran, negocia a compra da gravadora Polygram por 10 bilhões de dólares .. O Citicorp está concluindo uma fusão com a seguradora Travelers. Da união, surgirá o Citigroup, corporação com patrimônio de 700 bilhões de dólares e 100 milhões de clientes. .. Não se conheciam até agora companhias tão grandes , ricas e poderosas , e não se tem a idéia clara de como elas influenciarão a vida das pessoas. .. ‘Pelo seu tamanho , elas podem ditar preços e salários. É mais um desafio para os governos’ , diz Alceu Landi, presidente da KPMG no Brasil" (Revista Veja, 27.5.98, p. 133).

Alguns analistas das megafusões entendem que elas não representam tanta ameaça ao Capitalismo pois tendem a contratar grande número de fornecedores gerando emprego e renda e , segundo relatório da McKinsey a existência de pelo menos cinco a sete empresas diferentes por setor garantiria a competição por preços e qualidade.

Esta estratégia de globalização da produção vem sendo praticada desde a década de 50 , tendo se acentuado nos últimos anos. Porém , o avanço da tecnologia criou condições para o avanço da globalização a níveis antes inimagináveis . O avanço da tecnologia espacial permitiu o lançamento de milhares de satélites que tornaram a comunicação em tempo real uma realidade concreta . Através do telefone celular, fax, televisão e atualmente com a Internet, é possível em qualquer parte do planeta estar permanentemente em contato com o que acontece no resto do mundo. Isto permitiu a interligação de mercados fenômeno essencial para a globalização contemporânea. O crescimento das comunicações viabilizou a atividade financeira em escala mundial e o crescimento do capitalismo , com o imenso estoque de capital criado resultou em um mercado global.

AUMENTO DA PRODUTIVIDADE E REDUÇÃO DE EMPREGOS

A década de 90 destacou-se ainda por um elevado aumento da produtividade industrial que resultou na diminuição substancial da demanda por empregos . Em 1988, o tempo médio de fabricação de um carro era de 39 horas e atualmente caiu para a metade .

A utilização maciça do computador e seu barateamento eliminaram milhões de empregos. Por exemplo , determinadas carreiras, como a de bancário e datilógrafo estão virtualmente em extinção. Nas empresas , por sua vez , só se fala em reengenharia , qualidade total, 5S , etc , medidas que na prática significam produzir mais , utilizando menos pessoal.

Este aumento da produtividade , reduziu o tempo dispendido pelo trabalhador para alimentar-se . Nos EUA em 1880 a alimentação de um domicílio em um ano exigia 1.045 horas de trabalho e atualmente apenas 260 horas. Com isso o tempo livre de um trabalhador médio triplicou no século , gerando mais tempo para o lazer, que com o intenso progresso das comunicações resulta em uma maior tempo do indivíduo conectado com o mundo , intensificando o efeito da globalização. (Fogel, Robert W. F.S.P. 11.08.2000, p. B-2).

INTERLIGAÇÃO DOS MERCADOS FINANCEIROS

Outro aspecto fundamental da globalização , que se consolidou a partir da década de 70 é a interligação dos mercados financeiros . Com a interligação os mercados o mundo financeiro funciona 24 horas por dia. Quando as bolsas do Oriente estão fechando, as do Ocidente estão abrindo. Os boatos circulam pelos meios de comunicação e notícias , muitas vezes falsas podem significar lucros ou prejuízos imensos e até ameaça à estabilidade econômica de países.

O capitalismo financeiro permitiu a formação de uma espetacular massa de capitais, que graças aos meios eletrônicos vagueia pelo mundo em busca das melhores oportunidades de lucro. Este dinheiro , rápido e esperto não tem pátria , não se interessa pelos valores nacionais, mas apenas pelas oportunidades de lucro. Da mesma forma em que ingressa em um país , pode deixá-lo com a mesma rapidez se o mercado indicar uma crise de confiança na moeda.

"Em 1971 o volume de empréstimos internacionais de médio e longo prazos feitos pelo capital privado foi de 10 bilhões de dólares. Em 1995 ele chegou a 1,3 trilhão, Cresceu 130 vezes em apenas duas décadas e meia. ..Além desse dinheiro de médio e longo prazo, há outro, o dinheiro volátil, que gira pelos vários mercados financeiros, como o das bolsas de valores, do câmbio e dos juros. Esse dinheiro rápido sustenta transações diárias entre 2 e 3 trilhões de dólares. O capital volátil, tão temido pelos países de economia fraca, impulsiona negócios , mas só estaciona nos países estáveis" (Revista Veja, 3.4.96, p. 82)

Essa flexibilidade deste capital nômade , dificulta imensamente as condições de gerência econômica de países em frágil situação econômica como o Brasil , fortemente dependentes do capital externo, por razões de desequilíbrios estruturais em seu balanço de pagamentos.

AJUSTE NEO-LIBERAL - FMI

Estes desequilíbrios acentuam a globalização econômica , na medida em que os países endividados são obrigados a submeter sua política econômica interna às diretrizes de organismos internacionais como o FMI , que adotando posturas de ajuste neo-liberal , inserem cada vez mais os países no contexto do capitalismo global.

A política neo-liberal defende a idéia de Estado mínimo e a de mercado máximo , gerando pressões pela desestatização o que leva a um aumento ainda maior da globalização pelo fato de parte significativa das empresas estatais ser adquirida por multinacionais em razão dos elevados aportes de capital associados ao processo.

A globalização expressa portanto, a maximização da utilidade do capital associada à supremacia absoluta do capital financeiro .

O dinheiro global autonomizado torna-se o novo governante despótico dos territórios nacionais , diante de governos impotentes que nada mais fazem do que ajustar-se à sua lógica, temerosos de "crises de confiança " do mercado.

Os investimentos diretos e os fluxos de capitais ainda estão concentrados nos principais mercados financeiros dos EUA, Japão e Europa, que são os mercados mais estáveis, mas os chamados países emergentes, com imensas necessidades de capital para financiar o crescimento interno , tornam-se dependentes do capital internacional , adotando medidas de estímulo para sua entrada e com o tempo tornam-se reféns do mesmo , pois políticas econômicas mal conduzidas , ao invés de resultar no desenvolvimento nacional ,levam à manutenção ou até ao aprofundamento da dependência do capital externo , criando uma nova forma de dependência que se dá através da eternização do pagamento de juros e mesmo assim estes países não estão a salvo de graves crises financeiras pois a percepção pelo mercado de que as dívidas são impagáveis ou os investimento podem não ter o retorno esperado resultam em fuga de capitais que podem até quebrar o país.

EMPRESAS MULTINACIONAIS OU MUITO NACIONAIS ?

O livro "The Mith of the Global Corporation " publicado pela Princenton University Press relativa a globalização apontando que ela na verdade representa a consolidação do predomínio mundial de empresas norte-americanas, japonesas e algumas européias, sobretudo inglesas e alemãs. Em termos de valor de mercado, as 100 maiores empresas globais em 1995 incluíam 43 dos EUA, 27 do Japão, 11 da Inglaterra e 5 da Alemanha. O livro defende a tese de que embora atuando em escala global as empresas multinacionais tem raízes , ou seja uma forte ligação com os países de origem.

A globalização ao aumentar a competição obriga as empresas a cortar custos e leva a fusões e aquisições . Há portanto uma tendência para a diminuição do grau de competitividade nos países , o que poderia ser controlado por leis antitrustes e regulamentação eficaz , que poucos países tem .

Nesta mesma linha Celso Furtado em seu "O Capitalismo Global" , entende que "as disparidades entre economias não decorrem só de fatores econômicos, mas também de diversidades nas matrizes culturais e das particularidades históricas . A idéia de que o mundo tende a se homogeneizar decorre da aceitação acrítica de teses economicistas".

CELSO FURTADO GLOBALIZAÇÃO COMO RETROCESSO

Celso Furtado, com sua visão crítica vê nesse processo atual de evolução , uma regressão econômica em prejuízo do Estado Nacional e das classes trabalhadoras. Com a Revolução Industrial houve a formação da classe trabalhadora que sofreu forte exploração no início, pela inexistência de leis disciplinadoras do trabalho. Com o tempo todavia, os trabalhadores se organizaram, conquistaram direitos e elevaram gradualmente seu padrão de vida, crescendo a classe média e fortalecendo o mercado de consumo .

"Com essa guinada histórica, a acumulação de capital deixou de se subordinar unicamente à lógica do interesse do capital privado. ‘O dinamismo da economia capitalista derivou , assim , da interação de dois processos : de um lado a inovação técnica (...), de outro a expansão do mercado – que cresce junto com a massa dos salários’.. Nos trinta primeiros anos da século XX, desenvolve-se o Estado de bem estar social no primeiro mundo e parte da periferia usa a independência política para se industrializar .

Nesta linha de pensamento, o atual processo de globalização representa um retrocesso pois "desarticula a ação sincrônica dessas forças que garantiam no passado o dinamismo dos sistemas econômicos nacionais(...) Voltamos assim, ao modelo do capitalismo original , cuja dinâmica se baseava nas exportações e nos investimentos no estrangeiro .

O processo atual se faz "em prejuízo das massas trabalhadoras organizadas e em proveito das empresas que controlam as inovações tecnológicas . Já não existe o equilíbrio garantido no passado pela ação reguladora do poder público . Disso resulta a baixa participação dos assalariados na renda nacional de todos os países , independentemente da taxa de crescimento e esse processo continuará devido ao contínuo debilitamento dos Estados nacionais frente ao capital privado cada vez mais centralizado em imensas organizações globais resultando na formação de "grandes blocos de nações-sedes de empresas transnacionais que dispõem de rico acervo de conhecimento e pessoal capacitado" , aumentando o fosso entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos .

Exemplo desta estratégia global foi a decisão tomada em fevereiro de 2001 pela empresa Multibrás que anunciou o fechamento de sua fábrica em São Bernardo do Campo ,transferida para Joinville , e a demissão de 1.050 empregados. A decisão foi tomada na matriz e segue um projeto de reestruturação global com o corte de 6000 trabalhadores. ( F S P 3.2.2001 , p. B-3 )

GLOBALIZAÇÃO E EXCLUSÃO SOCIAL

Os defensores da globalização afirmam em síntese que ela também beneficia os pobres e que não há alternativas para a mesma . Porém os dados estatísticos demonstram que a partir de 1960 a distância entre pobres e ricos aumentou mais ainda . A diferença entre a renda média auferida pela quinta parte mais rica e pela quinta parte mais pobre da humanidade que era de 30 para 1 em 1960, passou para 74 para 1 em 1997 . De 1990 a 1998 , 50 países conheceram uma redução do PIB per capita . ( Comparato, Fábio Konder . F S P 17.08.2001 , p. A-3 ) .

A globalização em nada alterou a volatilidade dos preços dos produtos primários nos mercados mundiais que ocorre em prejuízo das receitas dos países subdesenvolvidos.

Este novo modelo econômico é altamente excludente do ponto de vista social . O mesmo tem por pressuposto a otimização do trabalho o que significa reduzir e não aumentar empregos e implica em privilegiar as funções mais qualificadas o que resulta na exclusão de milhões de trabalhadores não qualificados que são uma realidade à qual não se pode fugir nos países subdesenvolvidos.

Portanto a globalização enquanto submissão acrítica nacional ao capitalismo internacional resulta no desemprego e exclusão social de substancial parcela da população interna não integrada à moderna economia de mercado, população que fica jogada á sua própria sorte, pois simultaneamente diminuem as políticas sociais cuja responsabilidade é de um Estado cada vez mais frágil, descontruído pela ótica neo-liberal.

A globalização neste sentido é um fenômeno contraditório por si mesmo . Representa a "modernização" pela inserção na sociedade global e "atraso" pela exclusão de parcela significativa da população aos benefícios desta integração .

A globalização não supera a questão entre desenvolvimento e subdesenvolvimento, mas a legitima e mantém. Os países subdenvolvidos que desenvolveram estratégias de política econômica em conformidade com a lógica do capital internacional, estarão na verdade, perpetuando sua situação de subdesenvolvimento e dependência.

Porém , estudo feito pela Fundação Hermitage , nos Estados Unidos , mostra que os países mais pobres do mundo são justamente aqueles que se excluíram do processo de globalização . São nações , a maioria da África , que não exportam , não importam , não atraem capital e nem tem moeda transacionável .

O estudo mostra ainda que os países mais abertos tem expectativa de vida e renda per capita mais alta que os de economias fechadas . Portanto para os países mais pobres a globalização se coloca como alternativa inevitável para melhorar sua situação econômica e neste sentido ela é inevitável e irreversível . ( Veja , 4-10-2000, p. 194) .

O caminho para o desenvolvimento depende da melhora de uma série de indicadores sociais como saúde e educação , pois os menos instruídos são os mais afetados pelo desemprego . E estes objetivos somente são factíveis através de ações estatais que reforcem os direitos dos indivíduos e das coletividades , mais uma vez havendo a contraposição entre a globalização e o fortalecimento do Estado Nacional , situações que portanto não podem ser excludentes , mas concomitantes . Em outras palavras o caminho para o desenvolvimento pressupõe um Estado forte , mas imerso no processo de globalização.

ECONOMIA NÃO PODE PERDER SUA NATUREZA NACIONAL

O grande equívoco associado à globalização consiste em dirigir a economia nacional pela perspectiva de uma pretensa lógica econômica mundial . É desta ideologia da globalização apontada por Alain Touraine que precisamos nos libertar . A ideologia de que a economia " devia se libertar cada vez mais de qualquer controle social ou político , pois estes ocorrem , geralmente , em escala nacional ou em países de um mesmo bloco " . ( F S P 31.12.2000, p. A-11)

Em outras palavras , o Estado precisa retomar as rédeas da economia, definindo claramente as prioridades nacionais , os interesses nacionais , sob pena de inviabilizar a idéia de pleno desenvolvimento . É preciso combater a decomposição da sociedade decorrente do aumento da desigualdade e da violência. O estímulo ao capital estrangeiro , que tem gerado acelerada desnacionalização econômica , pode resultar em um parque industrial sólido , mas com pés de barro, pois todo o controle da produção e da tecnologia estarão fora do país , além da exclusão de milhões de trabalhadores marginais , vítimas de um modelo econômico excludente .

O caso recente do Brasil segue por esta trilha. A política econômica adotada pelo Plano Real , a partir de 1994, privilegiou a estabilização econômica a partir do maciço ingresso de capital externo e da manutenção de uma taxa de câmbio sobrevalorizada. Esta política , acabou com a inflação galopante , mas aumentou exponencialmente a vulnerabilidade do país frente ao sistema financeiro internacional. A manutenção de elevadas taxas de juros no plano interno , levaram a muitas empresas nacionais a capitular perante o capital estrangeiro , tendo o país apresentado uma acentuada venda de empresas nacionais nos últimos anos.

Bibliografia : Santos, Milton . Por uma outra globalização . Do pensamento único à consciência universal. Record.

Gonçalves , Reinaldo . Globalização e Desnacionalização .Paz e Terra .

A consultoria americana A T Kearney elaborou um ranking dos países mais e menos globalizados e o Brasil em 2001 foi inserido na 58 posição ente 62 países mais globalizados , conforme tabela a seguir :

PAÍSES MAIS GLOBALIZADOS DO MUNDO EM 2001

12 MAIS GLOBALIZADOS

1. Irlanda 2. Suiça 3. Cingapura 4. Holanda 5. Suécia 6. Finlândia 7. Canadá 8. Dinamarca 9. Áustria 10. Reino Unido 12. EUA

PAÍSES LATINO AMERICANOS POSIÇÃO

28. Panamá 34. Chile 44. Argentina 50. México 57. Venezuela 58. Brasil 60 Colômbia 61. Peru .

In F . S . P 10.01.2002 p. B-4

GLOBALIZAÇÃO TESTES

1. UF UBERLÂNDIA 1999 – A respeito da globalização da economia , no mundo contemporâneo , assinale a alternativa correta

a. são componentes da globalização , entre outros, a crescente terceirização de atividades , a formação de blocos econômicos e o crescimento da intervenção estatal na economia , com o chamado Estado máximo

b. A crise das Bolsas Mundiais em 1998 e as recentes vitórias de candidatos oposicionistas ao governo de países como a Inglaterra , França e Alemanha revelam, respectivamente , os limites do equilíbrio econômico do capitalismo e as reações aos efeitos sociais do processo de globalização e do neoliberalismo

c. As crises financeiras do Japão, da Rússia e dos chamados "tigres asiáticos" , em 1998 , não afetaram o equilíbrio da economia internacional , pois os países emergentes como o Brasil, México e Bolívia são protegidos por investimentos de capitais estrangeiros na área produtiva, capitais esses que propiciaram a formação de um Estado de Bem estar Social

d. A integração econômica do mundo tem ocorrido com a manutenção de políticas protecionistas das economias nacionais , permitindo a diminuição dos índices de miséria e fome dos países africanos e preservando altos níveis de crescimento e distribuição de renda nos chamados países "emergentes"

e. A globalização vem esbarrando na preservação de monopólios estatais de petróleo, das telecomunicações e dos recursos minerais , como no Brasil, e na formação dos mercados nacionais socialmente regulados , como na Rússia , a partir de exigências do Fundo Monetário Internacional.

1. ENEM 1998 – Um dos fenômenos mais discutidos e polêmicos da atualidade é a "Globalização" a qual impacta de forma negativa

a. na mão de obra desqualificada , desacelerando o processo migratório

b. nos países subdesenvolvidos , aumentando o crescimento populacional

c. no desenvolvimento econômico dos países industrializados , desenvolvidos

d. nos países subdesenvolvidos , provocando o fenômeno da "exclusão social"

e. na mão de obra qualificada , proporcionando o crescimento da oferta de empregos e fazendo os salários caírem vertiginosamente .

1. ENEM 1998 - Você está fazendo uma pesquisa sobre Globalização e lê a seguinte passagem em um livro

A Sociedade Global

As pessoas se alimentam , se vestem, moram, se comunicam, se divertem, por meio de bens e serviços mundiais utilizando mercadorias produzidas pelo capitalismo mundial, globalizado

Suponhamos que você vá com seus amigos comer Big-Mac e tomar Coca-Cola no MacDonald’s . Em seguida , assiste a um filme de Steven Spielberg e volta para casa em um ônibus Mercedez Benz .

Ao chegar em casa , liga seu aparelho de TV Phillips para ver o videoclip do Mickel Jackson e, em seguida deve ouvir um CD do grupo Simply Red, gravado pela BMG Ariola Discos , em seu equipamento AIWA .

Veja quantas empresas transnacionais estiveram presentes nesse seu curto programa de algumas horas .

Adap. Praxedes et alii , 1997 . O Mercosul , Ed. Ática . 1997

Com base no texto e em seus conhecimentos de Geografia e História , marque a resposta correta

a. O capitalismo globalizado está eliminando as particularidades culturais dos povos da Terra

b. A cultura , transmitida por empresas transnacionais , tornou-se um fenômeno criador de novas nações

c. A globalização do Capitalismo , neutralizou o surgimento de movimentos nacionalistas de forte cunho cultural e divisionista

d. O Capitalismo globalizado atinge apenas a Europa e a América do Norte

e. Empresas transnacionais pertencem a países de uma mesma cultura.

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