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Contos-->MINHA PIOR CAÇADA -- 12/01/2012 - 12:59 (Ilário Iéteka) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

MINHA PIOR CAÇADA

 

 

 

Meu sogro era apaixonado por caça e pesca, um ou dois dias por semana ele ia atrás de seus lambaris. Conhecia os melhores pesqueiros dentro de uma área de cento e cinqüenta quilômetros ou mais de sua residência. O dia quando estava ruim, não vinha menos de cem lambaris. De vez ou outra, eu lhe acompanhava porque também era aficionado em pescarias e caças.

Senhor Jovenal tinha um jeito especial com os peixinhos, sempre pescava o dobro da gente, uma diferença enorme, a surra era vergonhosa. Seus lambaris eram graúdos em relação dos nossos, deixava a gente envergonhado com as brincadeiras que fazia. O homem era um verdadeiro campeão, sabia qual a isca que os peixes gostavam. O moço era um verdadeiro artista com suas varas de pescar. Seu arsenal contava com variedades de penas, anzóis, chumbinhos, linhas de todos os números, e outras coisas mais. Andava preparado para qualquer entrevero. Homem tranqüilo, calmo, com tudo isto só poderia se dar bem. Não tinha pressa, sabia preparar uma ceva, atrair os peixes nunca foi difícil para ele, seu segredo nunca revelava a ninguém.

Na caça, o sogro parecia um verdadeiro gato, caminhava sobre as folhas sem fazer barulho. Bom na pontaria, raro errar um tiro. Coitado dos inhambus, pombas, jacus e outras aves, além de tatus, cotias, pacas, etc. O lugar predileto de suas caçadas, sempre foi na fazenda de um amigo nas proximidades da cidade de Castro no estado do Paraná. Uma vez por mês o sogro visitava o senhor Francisco, com a intenção de fazer sua caçada, dar uns tiros como dizia. Seu Chico como era chamado pelos amigos, só deixava caçar quem fosse conhecido e amigo dele ou de seus filhos, caso contrário a caça estava proibida em sua fazenda.

Naquela época havia muitos passarinhos no lugar, seu Jovenal tomava um porre de abater as aves. De vez em quando, eu lhe acompanhava, ele contava tanta vantagem que não dava para a gente ficar sem conhecer aquela mina, a fazenda, eu queria me divertir, caçar, lembrava do meu tempo de menino, quanta saudades do interior. As belas caçadas que realizei, pensando ser um bom atirador, mas quando vi meu sogro o homem era demais, raramente errava um tiro. Isto me deixava abismado com seus tiros certeiros.

Ligeiro como se fosse uma lebre, saía por debaixo dos galhos sem fazer barulho, cauteloso e astuto, surpreendia os inhambus e os coitados eram abatidos sem dó. Muitas vezes, pensei que o homem dava tiros a esmo, enganava-me a coisa era para valer, ele não dava tiro á toa. Para mim, o cara estava louco, iria espantar todos os passarinhos do lugar. Quando encontrávamo-nos pela mata, o homem estava sempre sorrindo, seu bocó quase cheio. Em comparação, o meu com duas ou três aves, e olhe lá, aquilo me intrigava, ficava pensando como o sogro consegue ser ágil e esperto, parece que o danado rouba tudo da gente. Foi um sábado e tanto.

Meu sogro fez uma pausa ao meu lado e disse:

_ Agora vamos voltar, amanhã é domingo, descansaremos até o meio dia, assim teremos a tarde toda para fazermos uma bela caçada. Nós iremos de carro para pouparmos a caminhada, deixaremos o fusca lá no alto, próximo a porteira. Levaremos água e uma meia dúzia de bananas que é suficiente para aplacarmos a fome.

Eu estava eufórico, queria mostrar e provar para o sogro que desta vez eu seria o campeão. È lógico que não lhe falei nada, minha idéia seria surpreendê-lo. Nós chegamos à mata, ele disse-me:

_ Você vai para a esquerda e eu irei á direita.

_ Está bem.

Meu sogro continuou dando as coordenadas:

_ Vamo-nos reunir aqui neste mesmo lugar ás dezoito horas. Quem chegar primeiro dará um tiro para alertar o companheiro. Até logo!

 

Nós entramos na mata adentro, pensei conhecer bem o lugar, não me preocupei muito, queria mesmo é caçar, pensando hoje é o meu dia, sai à procura das aves, e dos bichos também, principalmente uma cotia. Depois de andar uns vinte minutos não encontrei uma ave se quer, parecia que as danadas adivinharam sobre nós, parece que estavam sabendo de alguma coisa, que o perigo estava por ali, sumiram de nossas vistas. Percebi que o dia não estava para o caçador.

Pelo caminho meu sogro comentou:

_ É... quem trouxer mais carne é que vai ganhar o titulo de campeão.

 

Em minha opinião, eu vi que ele estava me dando uma colher de chá. Com isto vi que minhas chances aumentaram. O negócio estratégico era eu abater uma ou duas cotias. Resolvi ir atrás das bichinhas, porque eu ouvi falar que nessa mata era o animal que  mais tinha. Parti decidido, queria quebrar o tabu, vencer o sogro de qualquer jeito. Como ele foi para á direita, eu estava á esquerda. Não demorou muito e a tranqüilidade foi embora, escutei um tiro, depois outro e concluí que o homem havia começado a caçada. Enquanto a minha pessoa não via uma pomba sequer até aquele momento. Acelerei o passo a procura das famosas cotias. Fui me distanciando sem perceber o risco de me perde. Na ganância pela vitória, não percebi que estava cometendo um erro terrível. O que eu queria estava ali na minha frente, as cotias, pensei que naquele momento eu estava realizado. Eu tinha que chegar a uma distância razoável para não errar o tiro, e ali começou a minha pior caçada. O bichinho era mais esperto do que eu pensava, comecei a perseguir uma cotia sem sucesso, quando a desgraçada parava, eu levantava a arma, ela dava no pé, e fui caminhando, nada dava certo para mim naquele dia. Cego pela vontade de abater mais animais que meu sogro, teimava em matar pelo menos uma ave, andei atrás do bicho no mínimo três horas. A cotia parecia mágica, quando percebi e olhei no relógio, passava das quinze horas, veio o susto, não tinha á menor idéia de onde estava.                    

      Pensei: - e agora José? - Comecei a gritar, chamei o sogro, nem uma resposta, dei dois tiros e nada. A incerteza e o desespero começaram a tomar conta de mim. Eu sabia que o carro estava na parte alta da mata, sabia que deveria ir naquela direção, não podia errar, chega de cotia por aquele instante. Iniciei o retorno morro acima, pensando que em poucos minutos eu sairia no campo, corri sem parar, meu tempo estava se esgotando, o sol descia rapidamente, a noite estava se aproximando. O nervosismo tomou conta de mim, quando pensei estar próximo do meu destino, veio o pior, dei de cara com um paredão com mais de quarenta metros de altura, fiquei surpreso e espantado. Muito alto sem a menor possibilidade de subir, não podia ficar apavorado, tinha que ir para a esquerda, sabia que daria certo, a lógica era que se eu vinha da esquerda só deveria retornar pela esquerda. O sol parecia despencar do céu, os minutos eram preciosos, não podia perder tempo, sai correndo acompanhando o tal paredão. O medo crescia de minuto a minuto, se escurecer,  eu poderia cair em um buraco e estaria perdido, quem vai me localizar naquele lugar? Correndo mais de meia hora, pensando estar próximo do carro. Novo susto, apareceu pela frente uma derrubada de mata, um enorme roçado, dar a volta seria impossível, a distância sumia de vista, não havia outro meio a não ser atravessar o roçado. Eu sabia que agora “o bicho pegou de vez”.

Eu comecei o árduo e penoso caminho, ir em frente foi á única solução. Subia em troncos, caia e levantava, tornava cair e levantar, de árvore em árvore, de galho em galho, uma batalha horripilante, no meio do caminho tive vontade de sentar e ficar chorando igual a um bebê desmamado. Acabei me recompondo e segui a maratona, fui em frente caindo, esfolando-me, até que saí do outro lado da roçada, não conseguia acreditar que atravessei o inferno naquela noite.

A escuridão vinha a toda velocidade, O medo aumentava, ficava insustentável, agora os perigos, eram cobras, foges, e outros bichos. Corri mais uns trezentos metros, o paredão diminuiu, o breu não deixava eu ver quase nada, sabia que estava na direção certa, então  comecei a escalar aquela rampa, engatinhando, fui me arrastando até o topo daquela ladeira íngreme. Com cuidado, tateando o chão dei de cara com uma cerca de arame farpado. Foi um baque aterrador, nunca pensei haver cerca naquele lugar, com cuidado passei por debaixo dos fios, nem acreditei quando vi o campo, gritei que estava salvo graças a Deus. Porém ainda estava perdido, o céu estava belo, o perigo já não era tão grande como antes. Comecei a gritar pelo nome do sogro, não tive resposta, ainda me restava uma meia dúzia de cartuchos, comecei a dar tiros para alertar o seu Jovenal. Em seguida, não demorou um minuto, eu ouvi tiros, os quais mal se podiam escutar. Pulei de alegria, sabia que agora estava em casa. Bebi o resto da água e sai em desabalada carreira, caí vários tombos, mas encontrei o caminho de casa. Realmente fiquei perdido, deixei a mata quase dois quilômetros abaixo de nosso encontro. O sogro estava me aguardando em desespero, disse-me: 

_ O que aconteceu com você, homem de Deus??? Pensei que tivesse caído em um foge, ou se acidentado com a espingarda, ou alguma coisa pior. Pela demora deve ter caçado bastante.

Eu respondi com uma cara deslavada:

_ Caçar eu cacei, matar, não matei nada.

 

Meu sogro riu e me mostrou como se faz uma caçarolada de inhambus. Eu continuei quietinho, se ele soubesse que naquele dia eu estava a fim de destroná-lo. Mesmo sabendo da verdade, eu ainda pensava na quantidade de tiros que efetuei, nisto tenho certeza que fui campeão.

Deus protegeu minha vida e tudo acabou bem, embarquei no fuscão e saímos em alta velocidade para a fazenda de seu Chico. Seus dois filhos já se preparavam para irem atrás de nós. Cheguei apavorado contei a todos do acontecido e como conheciam toda mata, concluíram que eu realmente tinha ido longe.

Seu Chico balançando a cabeça, debochando da situação, disse:

_ Coisa de gente da cidade...  só poderia acontecer isto mesmo. Agora vamos jantar, já passa das vinte horas e trinta minutos.

Eu ainda cansado, respondi dando risada e o braço a torcer:

_ O senhor está em casa e nós ainda não. Tem toda a razão, mais fácil se perder nos arranha-céus da cidade, porque se tem placas indicativas de saída. Por isso quero a minha Curitiba. O senhor pode ter certeza que eu andei por caminhos desconhecidos e perigosos, esta foi a minha pior caçada até hoje!

A minha experiência fica aqui como um conto, provando que o bicho astuto, conhecedor da sua mata, ainda consegue se safar das mãos perversas do homem da cidade, ou daquele depredador que acredita que seja diversão acabar com os animais numa caçada. Hoje sou totalmente contra a tortura de qualquer criatura, viva a preservação ambiental. Já naquela época tive a confirmação do velho ditado, “um dia é da caça e outro do caçador”.         

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