Usina de Letras
Usina de Letras
141 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62213 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10356)

Erótico (13568)

Frases (50606)

Humor (20029)

Infantil (5429)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140798)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->NO SÉTIMO DIA -- 12/01/2012 - 13:01 (Ilário Iéteka) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

NO SÉTIMO DIA

 

 

Sábado era o dia predileto do senhor Darci e seus amigos, Ivo e o tio Jorge, pois se reuniam após o almoço para um joguinho de baralho. A jogatina entrava noite adentro, muito barulho e uma cervejinha de hora em hora. A farra ia até a madrugada.

Darci era o dono da casa, mas também era o mais barulhento. Além de ser um jogador nato, também gostava de caçar. Tinha dois cachorros vira lata, porém eram bons em caçada de tatus. A espingarda estava sempre pronta para qualquer evento.

Ivo, um moço jovem, boa aparência, estava de olho na filha mais velha do senhor Darci. Eles eram moradores vizinhos, então Ivo queria participar do jogo para arrumar um meio de chegar perto da moça, sendo uma menina bela não queria perder a oportunidade desta aproximação. Assim fazia o cortejo e se divertia com o futuro sogro. Isto para ele era mais que sagrado, ir ao sábado na trucada na casa do amigo. Estas reuniões eram de praxe, aconteciam há muitos anos, nem a chuva atrapalhava aqueles homens, ao meio de gargalhadas, dizia Jorge:

_ Este joguinho me agrada, é tão fácil tirar dinheiro destes patos!

Uma amizade como essa descrita sabe-se que se sentiam mais do que se fossem irmãos. Darci disse aos amigos:

_ Vamos aproveitar a noite de hoje para fazermos uma caçada de tatu? O céu está estrelado, a lua cheia está nos convidando para isto. Os cachorros estão espertos, vamos deixar a trucada para outro dia.

Ivo e Jorge toparam na hora e chamaram os cachorros. Pingo era o cão branco com pintas marrom, o outro pela cor só podia ser o urubu, sem dúvida era mais preto do que carvão. Eram os melhores do lugar, foi uma festa, a animação era total, não viam á hora de irem atrás dos bichinhos.

            Darci passou a mão na velha espingarda, deu um facão para o Jorge, uma cortadeira, dois pitos de arame. Esse é um tipo de armadilha que se coloca na boca do buraco, isto é, na toca do pobre bichinho. No dia seguinte era só trazer carne para o almoço e Ivo levaria as lanternas de querosene e outros apetrechos, pois era o mais forte da trupe, não adiantava se queixar, tevê que se virar com toda a carga e caminhar rápido atrás dos colegas.

O grupo de amigos ao saírem, disseram a esposa de Darci:

_ Dona Maria, antes da meia noite estaremos de volta!

Os amigos abriram o portão, os cães começaram a ganir, pulavam de tanta alegria, sabiam que a mata os esperava. Nada escapava dos vira-latas, suas peripécias eram correr atrás de pacas, cutia, tatus, todos acuados em buracos. Era só colocar o pito que no dia seguinte o tatu estava preso. Dessa armadilha o coitado não escapava. A carne para o almoço era garantida.

Pelo decorrer da semana, haviam promessas de grandes caçadas. No primeiro dia a caçada foi ótima, dois tatus abatidos. Os vizinhos continuaram a caçar no domingo, na segunda, na terça, na quarta-feira e aí por diante. Conhecedores da mata, nada poderia acontecer, o tempo seco, luar exuberante. A noite era para homens corajosos, nada impedia os amigos, em frente o pessoal seguia.  Todos os dias, os homens traçavam novas direções, o grupo ia embrenhando-se cada vez mais na mata.

Antes da meia noite tinham o objetivo de voltar ao lar, pois Dona Maria estava acostumada com a pontualidade dos caçadores, pois não passavam do horário combinado. No sétimo dia consecutivo, a coisa mudaria de figura. Na sexta-feira caminharam em direção do chapadão, embora não sendo supersticiosos, aquela noite suas vidas iriam se complicar. Os corajosos perceberam que o tempo mudou repentinamente, uma neblina densa foi penetrando na mata, até o clarão da lua havia sumido, nuvens escuras é o que se via.

Senhor Darci disse ao compadre:

_ Vamos armar os pitos e voltar para casa? Este nevoeiro está assustador. Pelo jeito que a coisa está ficando, vamos ficar molhados. Vamos andando em direção de nossas casas.

Meia hora de caminhada se passou e os amigos notaram estar em um lugar parecido com uma bacia. Eles perceberam que algo estava errado, fizeram uma pausa, olharam em volta, tudo calmo, ergueram os olhos para cima só se via muito mal as copas das araucárias. Darci disse:

_ Que lugar é este? Não lembro ter passado por aqui, este trecho me é desconhecido.

 

Ivo pediu silêncio e falou:

_ Vocês estão escutando? Os cachorros estão perseguindo alguma coisa, estão vindo em nossa direção. Deixem as lanternas com as chamas no máximo, assim poderemos ver melhor do que se trata. Fiquem na espreita e quietos, por favor!

O ganido dos cães vinha em suas direções, não havia barulho nas folhas, nem a quebra de gravetos, os cachorros pareciam estar na cola do bicho, não se ouvia um estalo na mata. Os cães passaram por eles, continuaram ganindo como loucos, não levou cinco minutos, retornaram e passaram como da primeira vez. Os três se olharam e se agruparam de facões em mãos, espingarda engatilhada e concluíram que desta vez o bicho não escapara. Para a surpresa dos homens, a barulheira vinha para cima deles pela terceira vez e os cães pareciam ser perseguidos e revezados num pega-pega com o bicho. Ao aproximarem-se dos homens, a corrida parou de impacto, os cachorros começaram com uma chiadeira infernal, com o rabo entre as pernas, assustados, não se atreviam sair das proximidades dos caçadores, pareciam estar vendo fantasmas.

A sensação era horrível e de desespero. Os três vizinhos estavam apavorados, chamaram os cães, recolheram as tralhas e partiram com só um destino, a casa. Fugir da mata era o que mais precisavam. Já passava da meia noite, os homens sabiam que a estrada estava próxima, caminharam mais de vinte minutos e nada, perceberam que estavam no lugar de onde partiram, eles estavam parados e atordoados, não conseguiam acreditar no que estava lhes acontecendo. Como seria possível os três especialistas da mata estarem perdidos como crianças sem controle?

Darci comentava com o seu compadre:

_ Vamos até o riacho, seguiremos a margem até encontrar o sítio. Não podemos errar!

Os vizinhos colocaram o plano em andamento e caminharam por um longo tempo. De repente tio Jorge, grita:

_ Compadre!!!....estamos caminhando em círculo, voltamos para o mesmo lugar!

 

O desespero começava a tomar conta dos homens. Darci, o mais corajoso, tentava acalmar o ânimo de todos:

_ Vamos dar um tempo? Algo está acontecendo e deve haver uma boa razão para nos enganar duas vezes. Agora vamos por aqui, este lugar eu conheço, estou acostumado com o caminho.

As palavras proferidas por Darci foram um alívio para todos, estavam cansados, atrasados, com fome. Acreditando que o caminho indicado pelo compadre era o certo, não deu outra, voltaram a caminhar sem resultados pela terceira vez. Os vizinhos, não faziam progressos, permaneciam embaixo das araucárias, o lugar parecia mágico.

Jorge disse aos companheiros de caça que era melhor esperar o dia clarear. Ivo concordou com o tio. Darci retrucou achando melhor acender uma fogueira, porque oferecia a sensação de proteção. Foi o que fizeram, em seguida descansaram, contaram piadas. A noite foi uma criança e nada mais se ouviu. Ao romper do novo dia, tudo estava calmo, o sol começava dar a graça de seu brilho.

Dona Maria e familiares estavam preocupados com a demora, até aquela data nunca faltaram com a pontualidade. A ansiedade foi geral, todos rezaram para que voltassem sãos e salvos.

O dia estava esplendoroso, sem nuvens no céu, o sol deu seu ar de vida. Os três caçadores recolheram as bugigangas, deram uma olhadela nas copas das árvores, sabiam que desta vez iriam sem problemas para casa. Andaram menos de cinco minutos, veio à sensação de mistério e os comentários:

_ Não é possível! A estrada estava a menos de duzentos metros da nossa pousada? Não há como explicar o que nos sucedeu.., sem saber que estávamos tão próximos de casa e qual é a explicação plausível para a nossa  agonia? Ficamos estupefatos com os acontecimentos.

Meia dúzia de amigos estavam prontos para irem no encalço dos três caçadores quando as crianças começaram a gritar eufóricas:

_ Mamãe....mamãe... Olhem o pingo e urubu chegando no alto da colina!

 

Viam-se os três amigos na maior alegria, gesticulavam sem parar, não sabiam como contar a história mirabolante que se passara. Todos aguardavam com expectativa a narrativa dos moços. Um amigo falava e o outro interrompia. Porém Jorge deu seu parecer final. O pai de Darci achava que os três sonhavam e afirmava que não poderia ser verdade. Todavia, Pedro estava presente, um senhor de oitenta e sete anos, interrompeu os amigos, dizendo-lhes:

_ Vocês fecharam o círculo de sete dias. Sabem, há um conto de história que esse número é mágico. A rotina não é aconselhável, principalmente na lua cheia. A razão é que vocês deveriam intercalar os dias da semana e com certeza não passariam por este susto. A natureza tem seus segredos, as matas, os rios, as aves, os animais, todos eles têm um protetor. Existe uma lenda, seu nome é Curupira, se existe não sei, por minha experiência de vida, foi ele que aprontou com vocês. Esse protetor é um ser inteligente, engana com facilidade os malvados da natureza. Ele pregou uma bela peça em vocês, parece que o Curupira sabia que vocês estavam a fim de abater todos os bichinhos da mata, matando indiscriminadamente até as fêmeas que estavam prenhas. Isto é um aviso para que vocês... deixem os moradores da floresta em paz!!!

O conselho de Pedro foi preciso e justo, dando bons conselhos igual a um sábio.

            _ Meu recado é para que vocês continuem jogando cartas e contando piadas, porque se continuarem desafiando os mistérios do meio ambiente, na próxima não terá perdão e a mãe Natureza vai pegar pesado.

 

Darci e seu compadre, depois da surra de sabedoria, concluíram:

_ Oh seu Pedro!! Tudo bem, o senhor nos convenceu. Chega de carne de tatus por um bom tempo. È a mais pura verdade, a natureza merece nosso respeito e admiração. Vamos destruir as armadilhas

Se existe Curupira, boi-tatá, Cuca, fadas, não há provas materiais. Na vida da cidade todas as histórias são contadas para as crianças imaginarem um mundo faz de conta. Mas para os três amigos, não foi lenda, foi uma experiência real a qual os forçou a uma decisão justa em relação à Natureza, o respeito pelo habitat. Se alguém disser que a mata é experiência para corajosos, lembre-se do sétimo dia de Jorge e amigos e de suas palavras de desfecho:

_ A experiência foi inigualável, por ser magia é incompreensível e assustadora. Com certeza é uma das noites mais longa e difícil que passamos. O objetivo do protetor da mata foi alcançado, não nos fez mal algum, os bichos ganharam a brincadeira do pega-pega, e como perdedores, ganhamos o temor da Natureza. Como vitória dos animais, três depredadores a menos na natureza...

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui