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cronicas-->Zé Coelho e seu rancho* -- 24/11/2006 - 00:13 (jose antonio de castro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Zé Coelho e seu rancho
(José António de Castro)
Recebi outro dia um telefonema do meu irmão dando conta de que o Zé Coelho havia morrido naquela manhã. Demorei algum tempo para resgatar sua figura já tão distante pela pouca convivência entre nós. Afinal são tantos anos longe de Moema. A visão que tenho do Zé Coelho é de um sujeito de tamanho mediano, pele clara de quem evita o sol quente, na maioria das vezes com os pés descalços, olhos miúdos, bigode concentrado debaixo das narinas, que mais tarde vi uma certa semelhança com o bigode do Hitler. Apenas este traço por que não tinha nada da índole do assassino alemão. O chapéu era o destaque da sua figura. Não tenho lembrança de vê-lo uma única vez sem chapéu, assim como jamais vi seu pai, meu tio Juca, sem paletó. Mesmo lutando com certa dificuldade sempre possuía dois; um de palha para o trabalho na roça e outro domingueiro e de lebre. Ambos, usava-os bem na testa, pouco acima das sobrancelhas.
Minha convivência com ele foi pequena mas deixou registro. Eu era menino e nunca esqueci do rancho do Zé Coelho na beira do S. Francisco em terras do Doca.
Uma parcela significativa dos moemenses tirava seu sustento com a agricultura de subsistência nas terras da beira do rio de propriedade do Doca, Sebastião Generoso, João Irineu e Miguel Araújo; o que eu me lembro no momento.
De todos os ranchos de lá, o único de tijolo, reboco e telha era o do Zé Coelho. Invejávamos o seu conforto. Tinha porta e parede que não deixava passar o vento da madrugada. Não tinha goteira. Quando o céu se encobria de nuvens negras e ameaçadoras, o abrigo seguro era lá, no rancho do Zé Coelho. Estava bem próximo do rio. Em poucos passos alcançava-se o apanhador d´água. Todos nós queríamos estar lá no final da tarde, depois de cumpridas as tarefas.
Em termos de tarefa, não tinha ninguém como o Zé Coelho. Um exímio plantador com seu cavalo. Cartão era o nome dele. Deixou fama de ruim de sela, mas muito resistente na lida. Não era possível lembrar-se do cavalo sem associá-lo ao Zé Coelho. Por volta das duas horas da tarde soltava-o, pois já tinha dado conta de sua tarefa. Saía direto para a pesca. Quando não estava agarrado no cabo da matraca, arado ou plantadeira, era visto com uma fisga no ombro a procura de um peixe. Mesmo depois que deixou de plantar nas terras do Marinheiro, por muitos anos tirou o sustento com o peixe que levava na garupa da bicicleta para vendê-lo na porta do bar do Lalado.
Ele foi referência para muita gente da beira do rio. Sempre que alguém precisava fazer uma comida, pousar por alguma noite, usar uma canoa emprestada, ia ao rancho do Zé Coelho.
A primeira làmpada de carbureto que eu vi era do Zé Coelho. Até cheguei a usá-la emprestada numa noite na lagoa das Piranhas.
Foi assim que conheci o Zé Coelho e será esta a lembrança que guardarei dele. Um homem de mãos calejadas, cujo presente não representava o que verdadeiramente tinha sido no passado. Tanto que ao referir-se aos tempos da beira do rio enchia os olhos de água e não conseguia continuar a conversa.
Certamente, lembrava-se dos melhores anos de sua vida, mesmo considerados tempos difíceis na lavoura. É uma homenagem singela a um homem de vida simples, porém rica em honestidade.
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