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Cronicas-->AS QUATRO IRMÃS DE SANTA CATARINA -- 25/11/2006 - 22:02 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
AS QUATRO IRMÃS DE SANTA CATARINA

João Ferreira
Porto, 25 de novembro de 2006


Tinha entrado no shopping Via Catarina, na rua de Santa Catarina, no Porto.
Comprara o "Jornal de Notícias" para ler calmamente numa das mesas da praça de alimentação. Juntamente com o "Jornal de Notícias", que trazia como manchete principal a venda de tabaco falsificado "made in China", largamente vendido no Porto e no Algarve, Primo do Souto comprara no Império das Revistas do Pinto, na rua Morgado Mateus, um exemplar do n. 838 do "Courier International. Custara 3,20 euros. Aproximadamente, 9 reais. Ao sair do quiosque, Primo do Souto deu uma olhada nas manchetes, chamando-lhe a atenção, nas páginas do magazine francês, o sub-título "Europe.Turquie.Le Désamour". Muito atualizado, o magazine discutia o desamor que se está adivinhando, e até verificando, entre o ocidente e o mundo muçulmano. No caso, mais concretamente, entre a Europa e a Turquia, última candidata a querer entrar na União Européia. Souto parece que adivinhava haver, entre os europeus, um receio.No fundo, talvez um medo do Islão e do choque de culturas. Os governos europeus estão realmente em dúvida e a opinião pública está se mostrando reticente. A visita do papa, marcada para os próximos dias, será um bom teste. O medo de que a Turquia possa se tornar uma aliada do Irão, transformou-se numa inquietação entre os governantes europeus.
Souto subiu a escada rolante do Via Catarina, buscou um caixa do BPI, tirou um dinheiro necessário para suas despesas e foi sentar-se numa cadeira junto de uma mesa aconchegante para ler as notícias do dia.
Mandou vir um café expresso comprido.
Antes porém de ler a imprensa e de se dispor a escrever sua crónica para a Usinadeletras, abriu o "Courier" e, folheando, deparou-se com o artigo que tinha como manchete "o que é que é índio e o que é que não é índio", onde se sublinhava a importància dos índios brasileiros na conjetura atual. Outra manchete porém falava do abandono em que os mais novos deixam os anciãos na índia. Também se tocou com a notícia.
Mas, ao acabar de tomar o café, a memória de Primo do Souto trouxe-lhe à lembrança que o 25 de novembro era uma data importante na história do cristianismo e da cultura.
-Olha, e é mesmo, disse, de si para si. Hoje é dia de Santa Catarina! Quase esquecia, disse.!
Admirou-se sobretudo da coincidência de se encontrar no shopping via Catarina, na rua de Santa Catarina, no Porto, e, para pasmar, no dia de Santa Catarina. Muita Catarina de uma vez só.Riu-se. Mas era verdade!
Na cabeça de Primo do Souto, pululavam dados da história biográfica daquela que era conhecida como padroeira dos filósofos.
Exatamente! Padroeira dos filósofos!
Sabia que o padre António Vieira não a esquecera. Dedicou-lhe um sermão famoso, também. E imaginava, o que seria uma Santa Catarina exaltada num panegírico de Vieira. Pelo que tinha lido em tempos de Faculdade na "Flos Sanctorum", que fora uma obra consultada, também, por Eça de Queirós, Santa Catarina nascera em Alexandria e fora uma das célebres mártires dos primeiros séculos do cristianismo. Segundo a lenda, seu pai tinha sido rei de Alexandria.
Além de singular beleza, era dotada de grande inteligência e vasta cultura. Por ter ficado fascinado com sua beleza, o imperador Maximino Daia tentou divorciar-se de sua esposa para poder casar-se com ela. Diante da recusa, o imperador convocou cinquenta filósofos com a incumbência de provar-lhe que Jesus, morto numa cruz, não podia ser o Deus que ela dizia adorar. Catarina, entretanto, não somente refutou suas posições como a todos converteu ao cristianismo. Maximino ficou furioso e mandou torturá-la sob rodas com pontas de ferro que nada fizeram contra ela.
-Esta história mexera com a imaginação de Primo do Souto e achava justo que no dia de santa Catarina, num shopping famoso como o Via Catarina, situado na rua de Santa Catarina, ele parasse um pouco para dar vazão a algns dados de sua memória.
Em rigor, não era para lembrar a biografia de Santa Catarina que viera até ali.
Mais importante para ele era curtir um pouco sua fantasia, descansar a mente, enquanto lia as notícias e via o movimento social do shopping.
Na verdade, o shopping merecia essa atenção e era entre os shoppings moderníssimos do Porto, um shopping tranquilo e da melhor qualidade. Estivera antes no Dolce Vita e no Shopping Norte, mas preferia este a todos os demais.
Primo do Souto tinha frequentado a Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Era um intelectual que integrava o movimento literário do Porto.
Ao me encontrar casualmente na banca de jornais do shopping via Catarina, Primo do Souto, desconfiou, com base no sotaque, que eu fosse brasileiro.
Perguntou-me se eu era brasileiro.
Ao responder-lhe que sim, falou-me entusiasmado do Brasil. E sem muitas delongas, mostrou-me rápido uma cópia xerox que trazia na mão de alguns poemas de Jan Muá. Ao que ele dizia, um luso-brasileiro que vivia no Brasil.
-Olhe, disse: li hoje isto num site lá do Brasil. O site chama-se Usinadeletras. Não sei se conhece. É de um tal Jan Muá. Deu-me o texto para a mão.Olhei e vi. Entre os vários, um deles intitulado "As quatro irmãs", tinha a preferência dele. Reli o poema. E ele me disse textualmente:
- Achei engraçado como é que um poeta consegue fazer um "quase-retrato único" falando de quatro irmãs!!! Mesmo sendo gêmeas, são quatro criaturas...Acho isso muito difícil. Mas, lá, o tal poeta, por algum mistério da linguagem, parece que conseguiu"...
Primo do Souto ficou satisfeito pela atenção que lhe dei e ao texto que colocara em minhas mãos. Sorriu e saiu do Shopping na maior conversa, como se fosse um velho amigo, não suspeitando nem sequer que falara com o próprio Jan Muá das "Quatro Irmãs".


João Ferreira
Porto, 25 de novembro de 2006
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