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Artigos-->BUKOWSKI: ANATOMIA DE UM VELHO SAFADO -- 04/02/2003 - 22:47 (PEDRO VIANNA NETO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
BUKOWSKI: ANATOMIA DE UM VELHO SAFADO





“minha contribuição foi aliviar e simplificar a poesia, tornando-a mais humana. eu mostrei a eles que você pode escrever um poema como quem escreve uma carta, que um poema pode ser um entretenimento, e que precisa haver necessariamente algo sagrado nisso tudo”.

Charles Bukowski




Nascido em 16 de Agosto de 1920 em Andernach, Alemanha, Bukowski foi trazido para os Estados Unidos com 2 anos de idade. Sua mãe, uma nativa alemã, e seu pai, um soldado americano, conheceram-se durante a ocupação americana na Alemanha após a Primeira Guerra Mundial. Depois de casados, o casal retornou para os Estados Unidos em busca de um futuro um pouco mais promissor. No entanto essa expectativa foi rapidamente frustrada, e evaporou com o começo da grande depressão americana. O pai de Bukowski, como muitos outros homens nesse período, bem como toda a família sofreu com o desemprego, e não há duvidas sobre a frustração que essa experiência causou em Charles. A maioria das lembranças que Charles guardou de seu pai, reencontradas em muitos de seus poemas e estórias como “The death of the father”, assim como na novela “Ham on Rye”, são más.

A infância e a adolescência de Bukowski podem ser tudo, menos agradáveis. Em casa a situação foi exacerbada por um caso extremamente raro de Acne Vulgaris que desencadeou uma infinidade de tumores sobre toda a face e toda superfície da costa de Bukowski, tumores tão dolorosos que tinham de ser drenados cirurgicamente. Esse mal foi obviamente impossível de ser mascarado, e graças a ele Bukowski foi permanentemente marcado por pústulas. Tal deformidade estética causou um constante escape emocional de suas amizades adolescentes, em um período da vida que a aparência desempenha um papel definitivo, Bukowski era totalmente excluído por seu aspecto monstruoso.

Esses dois fatores da vida de Bukowski – a experiência com o pai e a acne vulgaris – acabaram modelando a personalidade do poeta e transformando-o em um perpétuo solitário. Como solitário ele foi uma testemunha diária do tédio e da crueldade, da superficialidade, e da falta de simpatia nas interações humanas, mas ao invés de guardar rancor de sua tumultuosa e solitária infância, Bukowski utilizou as experiências e percepções adquiridas com sua condição de excluído em vantagem própria.Assim como muitos adolescentes de vida reclusa, Charles cedo descobriu a solitude e a magia das palavras, e através das palavras ele encontrou uma válvula de escape para expressar sua visão do mundo. Ele transformou experiências que poderiam ter aumentado sua carga de amargura em lições relevantes ao desenvolvimento de sua arte.

Totalmente desesperançado em relação a humanidade, ele rejeitou com veemência os objetivos perseguidos pela maioria, e encontrou consolo no álcool:”ficar bêbado era bom” diz ele em Ham on Rye, “eu decidi que sempre gostaria de me embebedar. Isso afastava o obvio e talvez se você pudesse se afastar do obvio o bastante, você mesmo não se tornaria obvio”. Beber e permanecer não-obvio tornaram-se suas vocações, até que ele começasse e escrever seriamente por volta de 1960. A partir de então beber, ficar não-obvio, e escrever foram suas vocações até o final de seus dias. Necessitado pelo fato de nenhuma de suas vocações pagarem o suficiente para sobreviver, ele trabalhou como lavador de pratos, caminhoneiro, carregador, vigia noturno, frentista, garoto do estoque, gigolô, balconista dos correios, atendente de estacionamento, operador de elevador, e várias outras ocupações.

Bukowski trabalhou nos correios de Los Angeles por 11 anos, o maior tempo que resistiu num emprego. Em 1969, tendo obtido algum sucesso como escritor em pequenas revistas e publicações underground, ele tomou a difícil decisão de abandonar os correios e tentar a vida como escritor. Ele tinha 49 anos e estava a beira de um colapso nervoso; ele pagava pensão alimentícia e vivia em uma casa alugada. Em uma carta para Carl Weissner, Bukowski explica que” tinha duas opções: ficar no correio e enlouquecer, ou sair de lá para tentar vencer como escritor e morrer de fome. Eu decidi morrer de fome”. Logo depois ele terminou sua primeira novela, Post Office, e através de Carl Weissner, um jovem editor ele vendeu os direitos das Notes from a dirty old man. Sua situação ainda era ruim, mas lhe permitia dispor do suficiente para escrever em tempo integral. E como ele escreveu! Até hoje, mesmo depois de sua morte em Março de 1994, foram mais de 60 livros publicados, e quase todos traduzidos em diversas línguas, incluindo o grego e o servo-croata. Em 1984, três livros de Bukowski estiveram na lista dos mais vendidos no Brasil de uma só vez.

Charles Bukowski é acima de tudo um poeta. Apesar de sua primeira publicação, aos 24 anos, ter sido um conto chamado “20 Thanks from Kasseldon”, não demorou a que ele abandonasse a escrita por 10 anos por achar que “não havia jeito de penetrar no circuito de publicações” das grandes editoras por uma pessoa que queria descrever o lado menos prazeroso da realidade. E ele estava certo. Depois de um hiato de 10 anos e próximo de um embate fatal com o alcoolismo que finalmente o levou ao hospital com uma ulcera no estomago, ele começou a escrever poesia e enviar os poemas para pequenas revistas. Desta vez seus esforços foram apreciados. E assim começou a gradual subida a seu status atual de mais aclamado poeta na história da pequena imprensa americana.

O estilo e as peculiaridades poéticas de Bukowski, surpreendentemente, variaram muito pouco em mais de 35 anos de intensa atividade literária. Suas duas primeiras coletâneas de poemas “It catches my heart in It’s hands” e “Cricifix in a death hand”, parte das quais continuam disponíveis em “Burning in Water Drowning in Flame”, ilustram grande parte, se não toda, a marca registrada das qualidades Bukowskianas de composição: uma habilidade extraordinária de atribuir significação ao desespero; um ouvido aguçado capaz de captar com maestria as qualidades musicais do cotidiano; o ritmo alucinado do dia-a-dia; sensibilidade para retratar momentos terríveis de sua vida, e dos outros, sem tornar-se patético ou sentimental; uma tremenda facilidade para listar e justapor detalhes da vida com abstração suficiente para vivificar qualquer tema; um distanciamento artístico de seus personagens que lhe permite encontrar humor e perolas de sabedoria até no mais sórdido cenário; além de sua propensão natural ao poema narrativo.

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