TELÚRICO
José Eurípedes de Oliveira Ramos
Telúrico refere-se à Terra e, por extensão, aos elementos principais de sua composição: terra, água, ar. Por alargamento, diz-se telúrico o tema escolhido pelos artistas, para o seu trabalho, que contenham como básicos esses elementos. Diz-se, ainda, telúrico o autor de obra que tenha por tema fundamental os mesmos elementos. Talvez por isso, telúrico foi o tratamento que me dispensou o amigo, pintor e músico, Dr. Rodolfo Chiaverini. Tenho que concordar quanto à minha inclinação à natureza e aos temas a ela relacionados que mais me atraem e sensibilizam: são exatamente os que respeitam à natureza: ar, água, lua, floresta, música, etc.
O ar que seduz e me fez aviador e pára-quedista; que na sua imensidão sem barreiras, é a liberdade plena, desgarrada dos grilhões que nos prendem, limitam e nos mantêm sujeitos à vida artificialmente construída pelo homem; vida acotovelada nas cidades que consagra o poder da força, tenha ela a feição que tiver; esse mesmo ar que todos respiramos em, talvez, única e integral comunhão. A água: do mar, dos rios, dos lagos; a água tão repleta de vida e tão silenciosa que nos arrasta à navegação, à pesca, ao mergulho profundo, ao isolamento e à meditação; e que, à s vezes, esbraveja e enfurece, força da natureza que é. A lua, com sua capacidade mágica de encanto a nos regar nas noites calmas com o sentimento do amor, comunicando serenidade. A música, que embora estilizada, representa os sons primordiais, os gritos alegres e tristes da alma, a paixão e as tragédias e que evoluiu a planos tão nobres que alcança a sublimidade. A floresta, mata espessa e inviolada, de árvores soberbas, recursos infinitos e palpitante de vida.
Não me atraem os temas ligados ao prosaico da vida social ou íntima. Igualmente, o desvendar irrestrito de aspectos da própria personalidade não me agradam. É certo que as dores do homem e do mundo são contadas -sempre foram- e cantadas em produções literárias da mais fina criatividade e beleza. Mas não me agrada deitar diante do leitor, por exemplo, a confissão pública de uma doença, de uma unha encravada, de uma infecção. Afinal, qual o valor literário e qual o interesse do leitor por declarações dessa natureza? Nenhum, é claro! Dizem que é moderno, naturalista, realista... Pra mim é abrir feridas no mútuo pudor.
José Eurípedes de Oliveira Ramos
Da Academia Francana de Letras
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