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Discursos-->Discurso de Posse de Gilberto Gil -- 30/03/2003 - 00:22 (Silvio Alvarez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
(Uma sugestão de Silvio Alvarez)

Aos meus sessenta anos de idade, subo neste palco, minha alma cheira a talco como um bumbum de bebê, de bebê. Minha aura clara só quem é clarividente pode ver.

Hoje, Ministro da Cultura, bem que eu me lembro da gente sentado ali, na grama do aterro, sob o sol, observando hipócritas, disfarçados, rodando ao redor, amigos presos, amigos sumindo assim. Para nunca mais tais recordações, retratos do mal em si. O melhor é deixar pra trás.

Se Deus quiser, tudo, tudo vai dar pé.

Sente-se a moçada descontente onde quer que se vá; sente-se que a coisa já não pode ficar como está; sente-se a decisão dessa gente em se manifestar; sente-se o que a massa sente, a massa quer gritar:

A gente quer mu-dança;
O dia da mu-dança;
A hora da mu-dança;
O gesto da mudança.
Não, não chores mais.

Quantos muros ergam;
Como o de Berlim;
Por mais que perdurem;
Sempre terão fim.

Eu tive um sonho, que eu estava certo dia num congresso mundial, discutindo economia. Argumenta. Em favor de mais trabalho, mais esforço, mais valia. Apresentei estatísticas e gráficos, demonstrando os maléficos efeitos da teoria. Principalmente a do lazer, do descanso, da ampliação do espaço cultural da poesia. Demonstrei de mil maneiras como que um país crescia. Disse, por fim, para todos os presentes que um país só vai pra frente se trabalhar todo dia.

Se eu quiser trabalhar pela cultura do nosso país, tenho que ficar a sós, tenho que apagar a luz, tenho que ficar a sós, tenho que calar a voz, tenho que encontrar a paz, tenho que folgar os nós, dos sapatos, da gravata, dos desejos, dos receios. Tenho que esquecer a data, tenho que perder a conta, tenho que ter mãos vazias, ter a alma e o corpo nus. Tenho que aceitar a dor, tenho que comer o pão que o diabo amassou, tenho que virar um cão, tenho que lamber o chão dos palácios suntuosos do meu sonho. Tenho que me ver tristonho, tenho que me achar medonho e apesar de um mal tamanho, alegrar meu coração.

Mesmo com oito mil reais mensais, tenho que me aventurar, tenho que subir aos céus, sem cordas pra segurar. Tenho que dizer adeus, dar as costas caminhar.

Mas, se Deus quiser, tudo, tudo vai dar pé.
Ó mundo tão desigual, tudo é tão desigual.
Ó, de um lado este carnaval, do outro a fome total.

Pudesse todo o homem compreender, ó mãe, quem dera, ser o verão o apogeu da primavera, e só por ela ser. Quem sabe o super-homem venha nos restituir a glória, mudando como um Deus o curso da história.

Que a gente precisa ver pra crer, diz o dito popular. Uma vez que é feito só pra ser visto, se a gente não vê não há.

Pra que mentir e fingir que o horizonte termina ali de fronte e ponte acaba aqui. Vamos seguir, reinventar o espaço, juntos manter o passo, não ter cansaço, não crer no fim.
Finda a banda podre, linda a banda nobre, sobe a velha rampa e altiva vem reinar. Com imunidade. Contra o vírus da maldade, com certeza, com pureza, com limpeza, hospitalar, hospitalar.

Não me iludo. Tudo permanecerá do jeito que tem sido, transcorrendo, transformando, tempo e espaço navegando todos os sentidos. Ensinai-me, ó, Pai, o que eu ainda não sei. Mãe senhora do Perpétuo, socorrei. Não se iludam. Não me iludo. Tudo agora mesmo pode estar por um segundo.

Não se incomode. O que a gente pode, pode. O que a gente não pode, explodirá.
A força é bruta. E a fonte da força é neutra. E de repente a gente poderá.
Eu que empunho armas feitas de poesia e som. Eu que testemunho dramas da canção fugaz. Eu que experimento o quanto a poesia é bom alimento para a paz.

Se Deus quiser, tudo, tudo, vai dar pé.
Andá com fé eu vou, com fé não costuma faiá.
_________________________________________________________________________

Com todo o respeito que tenho pelo futuro ministro da cultura do Brasil, não poderia deixar esta idéia, mesmo que óbvia, passar em branco.

Tudo começou quando ouvia um CD de Gil para lembrar suas canções. Os trechos em itálico (que neste site não aparecem), são letras de sua autoria, de diversas fases de sua carreira, pesquisadas em seu fantástico site oficial.

Vi, a princípio, a indicação do cantor e compositor, para a pasta da cultura, devo confessar, com certa ressalva. Conhecer a fundo os problemas nem sempre é garantia de, na prática, saber resolvê-los.

Mas porque não, neste momento de total mudança, deixar o ceticismo de lado e ter fé que algo de bom possa ser feito?

Competência, sensibilidade, carisma, entre outras qualidades, tanto o nosso novo presidente quanto o seu ministro da cultura, possuem de sobra.

Agora é só agir democraticamente - como o PT sempre pregou - eu espero, soltar o verbo, quando preciso for, e confiar.

Que sejam ouvidos os anseios do povo faminto não só de pão. Que esqueçam o circo e nos dêem cultura. A nossa cultura.

Gilberto Gil sabe o que fazer e o que mudar.

Faça, Gil.
_________________________________________________________________________

(*) Letras utilizadas:

Palco (1980), Um Sonho (1977), O Eterno Deus da Mudança (1989), Não Chores Mais - versão (1977), Luar - A Gente Precisa ver o Luar (1980), Lar Hospitalar (2000), O Fim da História (1991), Super Homem - A Canção (1979), Se Eu Quiser Falar com Deus (1980), Andar com Fé (1982), A Novidade (1986), Realce (1979) e Tempo Rei (1984).


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