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Contos-->PARA NUNCA -- 27/06/2012 - 09:20 (Marcelino Rodriguez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Os humanos em geral não se amam, Parece ser coisa muito difícil para nossa espécie amar e valorizar a vida de seu próximo: principalmente o próximo diferente, ou estrangeiro. Imagina então o quanto um poeta solitário, feito de puro amor, já não sofreu estrangeiro por ai nesse mundo frio e em cidades estranhas.Foi numa dessas andanças do destino que deparei-me com a bela e doce senhora

de vestido negro.

Eu havia entrado numa casa espiritual para receber uma oração. Havia deixado a pouco tempo uma mulher perversa e quando percebi que era uma mulher lobo, comecei a fingir-me de pobra e esconder meus testouros, para livrar-me de vez daquele desconforto. Fui, mais uma vez, morar em uma caixa de fósforo.

Assim que saira da casa espirita, comprei um fogão duas bocas e tomava um café pingado com pão na manteiga na padaria da cidade. Estava ainda sem ferro de passar roupa e imagino que estava um cavalheiro bastante desgracioso quando reconheci a Dama De Negro, que entrara no ambiente.

Num impulso de humildade e inocência, abordei-a,  mesmo sabendo que ela poderia esquivar-se. Como era uma mulher bonita, não era-me confortável que ela visse-me daquele jeito vulnerável: por outro lado, as pessoas verdadeiramente nobres costumam ver  além das aparncias. 

-- Senhora, disse, fazendo um sinal com as mãos. A chamava de Senhora apenas para não parecer incoveniente e deixar claro

minha abordagem informal.

-- Pois não?

-- A Senhora estava no centro espiritual?

-- Sim.

-- Bem, desculpa abordá-la assim, mas eu estou numa situação um tanto embaraçada e precisando de amigos. Não sou da cidade. Sou autor de livros.

-- Escritor.

-- Sim. Com treze livros escritos e ainda nesse desconforto.

-- Em que posso ajudar?

-- Eu preciso conhecer as pessoas daqui , num primeiro momento. Comprei um fogão e geladeira, agora falta comprar a borracha

do fogão e, claro, a comida, -- disse, com um sorriso melancólico e verdadeiro.

Ela observava com seu rosto bonito e a expressão bondosa. Percebi também que usava alianças.

-- Já pensou  que pode ser um texte que você está passando? -- Disse-me.

-- Sim. Já pensei. Minha vida é cheia deles. O caso é que isso não deixa-me confortável.

Mesmo sabendo.

-- Procura lá no centro a Dona Nanda, ela pode te orientar. È uma boa pessoa. Está lá na segunda-feira.

-- Nossa! Segunda? Ainda é quarta-feira. Acho que vou precisar de algo mais urgente.

-- Você tem um telefone?

Eu já estava sentindo uma enorme gratidão apenas porque a Dama De Negro estava sendo atenciosa e tirando-me daquele desterro

solitário. Minha carência de afetos e atenções era abissal. Quando o artista parece pobre aos miseráveis olhos dos mortais,

ele sofre a indiferença; os espíritos bisonhos desconhecem o valor dos talentos. Aquela mulher, porém, tinha algo de especial.

Além de bela, solidária.

Estendi-lhe meu cartão.

-- Não pense que existe vida fácil. Eu tenho marido. Dois filhos. Não é mole.

-- Eu sei como é -- falei, pensando como um anjo que se aquela Dama De Paus fosse minha

eu a livraria do sofrimento com minha delicadeza.

-- Agora, deixa eu ir. Boa sorte para Você. Não tenho como comprar seu livro.

No momento, estou sem dinheiro aqui.

-- Tudo bem, com o tempo acho que vão me reconhecer.

Eu já estava feliz de tê-la conhecido e aqueles minutos de atenção me tiraram

da frieza das ruas. Voltei para meu pão com manteiga e minha média.

Parece que passamos na terra séculos sem ternura entre aqueles que parecem nossos semelhantes.

Já ia em outros devaneios quando ouvi chamarem meu nome. Era a Dama de Negro chamando-me para fora.

-- Toma aqui, seis reais para você comprar a borracha do fogão - Falou, estendendo-me uma nota de cinco e uma moeda.

Peguei o dinheiro como uma criança que ganhasse um brinquedo de Natal e sorri por dentro. No palco da ilusão, eu já

sabia que ela dava-me muito mais que uma nota e uma moeda. Eu também havia dado tudo que tinha: minha triste verdade

humana. Naquele momento, as cortinas de ferro que costumam separar o coração dos seres em convenções inúteis

estava aberta. A Dama de Negro deixou o sol entrar. Para mim, o rosto dela será sempre imortal e eterno.

Texto do livro "Café Brasil", direitos reservados.

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