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Cronicas-->NAS TERRAS DE MIRANDA -- 05/01/2007 - 00:56 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
NAS TERRAS DE MIRANDA PROCURANDO AS RAíZES DA LíNGUA MIRANDESA
João Ferreira
4 de janeiro de 2007

Esta é uma crónica inteiramente cultural. Através dela pretendo relatar uma interessante viagem que fiz a Miranda do Douro - "um cachico de cielo na tierra" - um pedacinho de céu na terra ,como dizem os próprios mirandeses, no extremo nordeste transmontano. Esta viagem foi feita na companhia de minha filha Giselle Salgado Ferreira, jovem brasileira, acabada de se formar em Português para Estrangeiros na Universidade de Brasília, e de meu sobrinho Avelino Ferreira de Magalhães. Partindo da cidade Invicta no dia 4 de janeiro de 2007, pela A-4, rumamos em direção a Vila Real, sede da Universidade de Trás os Montes e Alto Douro - a UTAD -, que tem um pólo universitário em Miranda do Douro. Passando ao lado de Murça e de Mirandela, princesa do Tua e terra das alheiras, subimos plo IP-4 E 82, até Bragança, onde almoçamos. Bragança está uma cidade moderna, bem bonita e desenvolvida. Daqui tomamos o rumo de Espanha, por Quintanilha e Alcanices, aproveitando vantagens rodoviárias, para reentrarmos em Portugal por Constantim, Ifanes até Miranda do Douro, cidade histórica e sede do concelho onde se encontra o principal mapa da língua mirandesa, a segunda língua oficial existente em Portugal. A vontade da Giselle era a de levar para Brasília uma documentação básica sobre Língua Mirandesa. Assim foi. Já m plena tarde, entramos na cidade de Miranda do Douro, com muita emoção. Uma cidade bonita, que mistura a construção antiga com a moderna. Tem grandes lojas bem recheadas com artigos tradicionais e modernos, para atender os turistas em geral e sobretduo nuestros vecinos y hermanos españoles que estão ali, na raia, e que atravessam para o lado de cá para fazer suas compras. Vamos dizer que Miranda é uma cidade bem organizada em termos de oferta de seus produtos tradicionais, como roupas regionais, objetos artesanais em madeira, fumeiro, etc. Lá em baixo, cavado entre rochas, o profundo rio Douro retido pela barragem, numa paisagem serrana cheia de beleza e mistério, chama-nos a atenção. Estacionamos o carro perto da muralha e fomos a pé pela rua principal da cidade antiga até à casa da cultura. Depois visitamos o museu da terra, situado no centro histórico da cidade, instalado na antiga domus municipalis da cidade, em edifício do século XVII. Trata-se de um museu rico em variedades culturais, com objetos de grande significação arqueológica e histórica, e muita riqueza etnográfica. Há ali variedade de alfaias agrícolas tradicionais, sistemas de transporte, atividades agro-laborais, tecnologia têxtil, mobiliário popular e outras especificidades. É este museu um filme objectual que mostra a alma da tradição regional. Daqui fomos para a praça da Càmara Municipal onde encontramos, fabricada em bronze, a estátua austera e típica do casal mirandês, um homem e uma mulher jovens, paramentados com os respectivos trajes regionais, em roupas grossas, de frio. Fomos visitar a catedral, seu castelo e suas muralhas. Há na cidade o pólo universitário da UTAD, Universidade de Trás os Monte e Alto Douro, que cuida dos cursos de desenvolvimento sustentável e serviço social. Na informação sobre a região notamos vestígios de cultura castrense, e de romanização, espalhadas por Miranda e suas freguesias. Há vários grupos de pauliteiros, grande tradição no concelho de Miranda: grupo de pauliteiros de Sendim, de Duas igrejas, de Malhadas, de Fonte Aldeia, de Cércio, de S.Martinho, de Granja e de Picote. Tem até grupo de Pauliteiros e rancho folclórico dos Professores do Planalto Mirandês. O folclore é constituído por vários grupos de danças mistas mirandesas, de Sendim, Miranda, Paradela, Duas Igrejas. Há alguns grupos de gaiteiros, entre os quais o grupo "Lenga lenga" de Sendim, o Grupo "L Bombo", grupo de gaiteiros da raia e ainda o grupo de música tradicional Celta, Folk e Rock, com destaque para "Galandum Galandaina", que é dedicado à música tradicional mirandesa, com letra em língua mirandesa. A Càmara Municipal de Miranda faz larga propaganda da cozinha mirandesa, apresentando um elenco de vinte e sete (27) restaurantes para recomendar a comida mirandesa. No campo da música, há vários cds impressos e um centro de música tradicional "sons da terra", que é um projeto de recolhas musicais da tradição oral, o qual procura aproximar o passado do presente, fazer o registro e dar o testemunho do património cultural da terra. O artesanato reparte-se pelas várias localidades do concelho. No processo artesanal do município, registram-se trabalhos em madeira, peças em madeira, marfinite e gesso pintadas à mão, gaita de foles, castanholas e flauta pastoril, confeção de trajes regionais, peças em resina, cestaria, tecelagem artesanal, trabalhos em cobre, lata e zinco, rendas e tapetes, tapetes em lã, ferro forjado e chifre.
O que porém mais moveu a Giselle a demandar estas regiões raianas de Miranda do Douro foi a curiosidade de ter uma informação básica sobre a região e as formas mais expressivas da língua mirandesa, uma língua que existe hoje, de verdade, no Nordeste Transmontano Português e que recebeu da União Européia incondicional proteção. A Giselle Salgado Ferreira acaba de chegar de Brasília, neoformada, com o curso de Português para estrangeiros feito na Universidade de Brasília. Está no Porto visitando parentes e daqui seguirá para Brighton, na Inglaterra, para fazer um curso de inglês que lhe servirá para suas aulas de professora de inglês em Brasília. Entretanto, enquanto fica aqui pela cidade do Porto, visitou a Faculdade de Letras do Porto, que quis conhecer e porque ali existe também um grupo de pesquisa que se dedica ao estudo da Língua Mirandesa.
Ora bom. Na loja que vende produtos da terra, ainda em Miranda, Giselle, entrevistou a Rosa, que é uma moça cidadã nativa de Duas Igrejas. Giselle gravou a fala de Rosa, para depois analisar o texto com mais tranquilidde em Brasília. Mas foi já comprando bons materiais para um arquivo sobre Miranda em língua mirandesa. Além de muitas fotografias tiradas no local, adquiriu na casa da cultura um Dicionário Mirandês-português. Comprou "Çcursos Mirandeses* (=Discursos Mirandeses) da autoria de Marcolin Augusto Fernandes, que pertence ao "grupo dos professores que dançam há muitos anos". Estes discursos são falas da "lhéngua materna" de Miranda. Em prosa e verso. Giselle adquiriu os nn. 5e 6 de "Lhéngua mirandesa", uma revista dos alunos de língua e cultura mirandesa, publicada pela Càmara de Miranda do Douro. Essa revista contém preciosas entrevistas com pessoas conhecedoras da tradição mirandesa, sobre as coisas de Miranda. E contém também histórias de alunos de várias graus contadas em mirandês. Comprou "La Prova de ser sendinês -II", de Emílio Pires Martins, em verso. Muito importantes são "Bozes de L Praino", que é uma recolha de textos de Literatura oral mirandesa,(Lisboa:Edições Nordeste 2004). "Miranda Yê La Mie Tierra" de José Fràncico Fernandes. 2@. Bragança: 1999. E um cedê do conjunto "Galandum Galandaina", com música e letra mirandesa.
Regressamos ao Porto, via Ifanes, Alcanices e Quintanilha e Bragança. Giselle terá tempo agora de fazer uma bela leitura das fontes que está levando com ela para Brasil. Ainda poderá consultar os pesquisadores e especialistas que existem na UTAD, e nos Centros linguísticos do Porto e de Lisboa sobre a Língua Mirandesa. E esse ambiente de leitura, pesquisa e consulta pode avançar com uma idéia concreta do que representa a Língua Mirandesa em relação à outra língua que existe em Portugal, a Língua Portuguesa.
João Ferreira
Porto, 4 de janeiro de 2006
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