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Poesias-->Morte Natural (aka Memento Mori) -- 13/03/2015 - 09:49 (Katz) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Todo mundo morre, é o que dizem, como se fosse algo natural. 


 


Quem dera se a morte se movesse ou aceitasse perder


como qualquer coisa natural que precisa se transformar para ser.


É natural aquilo que extingue a minha natureza 


até o vazio da inexistência


e desaparecimento de toda possibilidade real?


Ao que torna uma ação inexequível


damos o nome de impossível


e não de natural.


 


A morte é impossível.


 


Tira de mim a dúbia beleza só pra cumprir o que é certo.


Tão certa quanto espalhar minhas moléculas em novos corpos de incerteza. 


Um poço de novas tristezas, sem nenhuma garantia de realismo.


Fadada ao abismo do possível olho que nunca sairá da cara.


E acabará com tudo que há de existir


Sem que o universo testemunhe a si


com a consciência da existência mais rara, 


e acene nas curvas de seus planetas para a solidão de uma princesa, 


que espera que saibam dela com a luz do quarto acesa


e mais nada.


 


Nada como um novo sequestro após o resgate.


Antecipado quando quem mata não é a morte, mas a vida do mortal,


que dá ao fim da vida um recorte do caráter natural.


Com que credencial o fazem senão com a de um moribundo potencial


que só porque não morreu ainda acha que o óbvio é normal.


Se tivessem sorte igual não achariam nada, 


e quando só existia nada não achavam nunca. 


Mas quando a partir do nada surge a vida, 


fazem de suas beiras um hábito de despedida.


Pois, que a morte seja desde a origem da vida,


que ela tenha sido infinitas vezes antes de ser a minha:


uma história batida num feito tardio duma vazia estatística 


escrita na matéria do tempo que não sairá em jornal nenhum


que por tão mais descartável e certa for


ainda assim será inédita como a obviedade jamais sonhou.


 


Não deveria ser relutante.


A morte está por toda vida


então verdade seja dita 


morro de tempos mais distantes.


A cada passo sinto uma pá despejando terra sobre minha cabeça


um violino sem som acompanha a orquestra


enterrando meus instantes antes mesmo que deles eu me esqueça.


Que sugestão sombria de dizer adeus às pressas, não?


Devo me aprontar para partida, já vindo


ou viver como coisa que sempre esteve indo, fingida?


Eterna questão interna, que nunca se finda,


na terrena vida tenra, onde tudo termina.


 


E se houver algo após a vida,


algo como uma morte semi-erguida.


Que paraíso não seria um inferno?


Quem para disso não seria um enfermo?


Eu não quero viver pra sempre,


só queria que minha morte fosse minha.


Se ao menos a minha morte fosse minha, 


se ao menos eu morresse em mim mesmo, 


seria genuinamente só, e vindo de mim, seria eu!


Mas quando o espelho devolve-me envelhecido, 


sei que ela é que é sozinha, 


e eu, dela, estou a esmo,


num corpo que nunca é meu.


 


O que eu sou? O que sou já não é mais.


E morri tantas vezes para que hoje fosse


mas não consigo ser mais do que a soma de tudo que já não sou.


É como estar no rastro de onde não mais se está


avistando o que não será tão logo paro de avistar.


Mas como posso ser um mero fantasma com ambições proféticas


Se todos me percebem como coisa concreta?


Seriam fantasmas como eu? 


Não, sinto que sou real.


Sinto que sou.


Sinto.


Deve haver um cativeiro onde realmente estou.


Então cavo a mim para me encontrar


e encontro a única coisa que em mim há,


a qual se tento me agarrar me desmantelo,


e me vendo desmantelar me desespero 


e tento me agarrar.


 


Ponteiro do relógio irredutível a zero


que de tão fino não cabe ninguém


e ainda leva consigo tudo que eu nunca serei.


Com que ousadia se tira de alguém as coisas que ela nunca teve? 


Os sonhos sem vir, as sensações nunca sentidas, 


lembranças que se formariam nas lágrimas nunca produzidas.


O que há de ser vida, essencialmente vida


que não precise das muletas da despedida consumada


ou da essência metafísica forjada em um andrajo fajuto


vazado pela saída infinita de tudo para o nada.


Se nem uma coisa nem outra,


a vida deve mesmo ser a morte disfarçada.


Atriz calada que noite e dia encena a mesma piada


em um gole escarnecido de risada curta.


 


Divido-me... entre não saber o porquê e não ter um porquê.


Entre não saber quando e não querer saber.


Entre todas as formas do como e a única que vai acontecer.


Por todo território da consciência se estende a minha inteligência


pra se inscrever no impenetrável que me fez.


E sem respostas, transbordo em muitas vidas, 


que seguirão divididas


até estarem num único corpo de uma vez.            


 


Que farei de mim?


Que farei de mim antes de morrer uma última vez como tudo na natureza morre?


Uma parte de mim diz adeus e a outra me diz: corre!


Ignoro, fiel ao presente, mas tudo que vejo morre e morre.


Então corro com o adeus rasgando-me o peito


e os cabelos entregues ao vento que os descolore.


Uma ficção inconcebível em que tudo é movimento.


Não sei para onde estou indo mas sei que estou podendo


então sigo seguindo por um labirinto desvanecendo-se em cotidiano.


Os dias de todos os anos somados


constrangem um bravo segundo isolado


de pura lucidez insana no exasperado mergulhar do real


até que finco no topo naufragado um registro colossal - que também morrerá.


Mas até lá, se alguém o alcançar


verá que no fundo do oceano doente


ascende a montanha para o mundo dos deuses,


onde tudo é imortal.


O segredo acessível


na morte jamais natural.


 


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