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Cronicas-->VIDA DE PALHAÇO -- 11/01/2007 - 12:28 (Heleida Nobrega Metello) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Vida de Palhaço


Heleida Nobrega Metello, junho de 2004


Pelas ruas sem asfalto e esburacadas, o palhaço gargalha, os acrobatas fazem rápidas exibições, o homem fantasiado tenta equilibrar-se sobre as longas pernas de pau debaixo do céu, o trapezista exibe seu corpo e a mulher barbada se mostra sob um véu.

O circo anuncia a sua chegada na periferia da cidade.

Os poucos animais, em jaulas pobres e enferrujadas, rugem, levantam as trompas, batem no peito, os cães amestrados latem. A natureza assim exige.

Velhos e cansados, a maior parte deles arrasta o sobejo de força e vitalidade desfilando olhares tristonhos que transpassam as grades caindo no vazio.

A montagem tem início com a lona que sobe rápido de encontro ao céu, ao tempo em que os circenses assentam-se em pequenos "traillers" no terreno baldio, moradia temporária num pedaço de terra, no canto da cidade grande.

As crianças extasiam-se com a recente novidade. Os dias mudam sua rotina. No término das aulas, passam pelo local e assistem com um largo sorriso toda a movimentação. Retornam para casa, contando as horas, minutos e segundos para a chegada do sábado ou domingo - dia de apresentação.

O bairro se agita. O pequeno comércio vislumbra um acréscimo na venda. As famílias se programam para a grande estréia . Reservam as melhores roupas, com entusiasmo pouco habitual.

Finalmente, chega o dia da promessa de agitação fora da rotina. As pessoas vêm de todos os lados. Umas, dirigem-se diretamente para a bilheteria. Outras, não resistem às pipocas, guloseimas, bolas, etc.

Como não me sujeito à estas tentações, entro logo sob a lona. Sinto a mesma emoção de quando criança. As imagens puxadas de minha memória são absolutamente simples e verdadeiras. As luzes se apagam. As longas e gastas cortinas se abrem. O foco principal começa a ser iluminado.

Adentra ao palco rolando, tropeçando, derrubando balde d´água, etc... aquele palhaço que tanto divertiu as crianças na rua. Seus movimentos são rápidos e engraçados. Até eu, que sou considerado sisudo, pus-me a rir.

Percebo que sua pintura cobre-lhe todo o rosto, menos os olhos. A grande bola vermelha faz às vezes do nariz e não permite ver ao certo, se é alegria ou tristeza que se esconde atrás daquela máscara.

O espetáculo prossegue. Finalmente, a mulher barbada tira o véu. Que horror! Ainda bem que a encenação não se estende por muito tempo.

Certamente esse quadro ainda tem vestígios da idade das pedras.

Tambores rufam para a entrada dos animais. Os movimentos adestrados são lentos, no entanto, persiste o ar de majestade. Todos desempenham habilmente o papel que lhes cabe. As crianças vibram, na inocência.

Os trapezistas como sempre, oferecem emoção: balançam e rodopiam no ar, com absoluta precisão. Quem não aprecia um bom desafio?

Outras lembranças eclodem quando homens vestidos em coloridas roupagens dão largos passos sobre as pernas de pau e fazem muitas peripécias. Não perdem o equilíbrio nem por um segundo.

Dentre retalhos de sua história de vida, minha mãe relata vez ou outra, quando se reporta ao passado, que essa brincadeira fazia parte de sua infància na vila onde morava à beira da linha do trem, numa cidadezinha apelidada de Flor da Montanha , interior do Estado de São Paulo, onde aliás, nasci.

O palhaço retorna. Espirra água de sua flor na lapela. Agita os pequenos espectadores da platéia, dá um salto e deixa que suas calças se desprendam dos suspensórios. Encerra em meio às gargalhadas.

Enfim, mais um dia de apresentação.

Desço com cuidado banco por banco da arquibancada. Gosto de assistir mais do alto, o espetáculo.

Em terra firme, aproveito a claridade do fim do dia para dar uma volta ao redor do circo. Sempre fico emocionado com a vida que fervilha nos bastidores. O outro lado da moeda! Dou uma volta rápida. Não tenho a pretensão de ser tão invasivo, porém, não resisto e olho o palhaço por uma pequena fresta da lona.

Em ritmo lento ele tira a fantasia e começa a limpar a pintura do rosto. Procuro alegria nalgum canto escondido, contudo, não encontro sequer uma pequena fatia.

No fundo da lona, uma criança prostrada numa velha cadeira de rodas, olhar triste e parada, não expressa qualquer movimento.

Dentre sobras da maquiagem, uma densa lágrima cai dos olhos daquele que não tem mais vontade de fazer rir ou até mesmo, sorrir...
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