Maria ajeitou o menino no berço e sorriu. Como era bonito! Seus traços lembravam muito os de seu pai, mas os olhos eram os seus. Isso ninguém poderia negar! A casa agora estava cheia de vida. Aquele choro de neném novo soava como música para ela. Só Deus sabe há quanto tempo esperavam por aquele bebê. A gestação fora difícil, muito difícil. Pedrinho nascera antes do tempo, aparentemente um bebê tão frágil! Mas logo logo, mamando como mamava, ganharia peso. O pior já passara e Maria experimentava a melhor fase da sua vida, ser mãe. Dirigiu-se até a cozinha para esterilizar a chupeta enquanto cantarolava uma cantiga de ninar.
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-Que trânsito! – murmurava Antônio, que se perguntava como
uma chuva de apenas uma hora de duração poderia ter feito tanto estrago. A fila de carros estava quilométrica. Alguns veículos enguiçados atrapalhavam ainda mais o percurso. Já estava naquela fila há uma hora sem sair do lugar. Pegou o celular para ligar para casa, mas para completar a bateria havia descarregado!
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Homens surgiam de todos os lados enquanto uma multidão de curiosos se apertava para ver o progresso das buscas. Bombeiros e voluntários retiravam cuidadosamente a terra, vasculhando cada canto a procura de sobreviventes.
Oito, das quinze casas da rua foram atingidas por um deslizamento de terra do Morro Verde.
Várias emissoras cobriam a tragédia. Famílias inteiras choravam desesperadas. Algumas perderam tudo o que possuíam, outras viam entes queridos sendo retirados sem vida.
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Finalmente Antônio saíra daquele congestionamento. Em poucos minutos estava no seu bairro. Ao se aproximar da rua viu um movimento fora do comum. Luzes por toda parte iluminavam a noite fria. Buzinou, mas a multidão o impedia de prosseguir com o carro. Deixou o seu carro por ali mesmo, e foi em direção da sua casa o mais rápido que pode.
Enquanto tentava visualizar o local onde estaria a sua casa, o desespero começou a tomar conta de Antônio. Tudo estava coberto por terra e por escombros. Parou no meio da rua. Não podia acreditar no que via. Colocou as mãos na cabeça e começou a gritar de desespero: - Maria! Minha mulher! Onde está o meu filho? E nada o fazia parar.
Em poucos instantes uma equipe de apoio o cercou. Antônio tinha o semblante totalmente desfeito. Sua mulher e seu filho ainda não haviam sido encontrados.Em seu rosto estava estampado o horror. Chorava, gritava, e tentava escapar dos braços dos para-médicos. – Me larguem!!! Preciso procurar a minha esposa e meu filho! Mariaaaaa, Pedrinhooooooooo! Eu vou achar vocês!!!
Por toda noite as equipes trabalharam ali. Antônio, agora sedado, orava com outras pessoas da família: - “O Senhor é o meu Pastor e nada me faltará... ainda que eu ande no vale da sombra da morte não temo, pois Senhor está comigo...”
O resultado de mais de doze horas de busca fora positivo: seis mortos e 20 sobreviventes. Os homens agiam rápido. Mas para muitos ali, não havia mais esperança de encontrar alguém com vida depois de tanto tempo. A casa de Antônio fora a mais atingida, e um novo desabamento de terra era iminente. A chuva voltara a cair dificultando ainda mais o trabalho.
Antônio permanecia no local com os olhos atentos ao trabalho dos bombeiros –Enquanto não acharem minha mulher e o meu filho eu vou ficar aqui – dizia.
– Encontraram alguma coisa ali – gritou alguém.
Antônio se levantou, e viu o momento em que a sua mulher fora retirada com o bebê em seus braços. Seus olhos se encheram de lágrimas. – Maria! Pedrinho! Eles estão vivos!
Imediatamente os dois foram colocados em uma ambulância e levados dali. Antônio os acompanhava em uma outra viatura.
No corredor do Hospital, Antônio e sua família esperavam inquietos quando um médico chegou até eles trazendo boas e más notícias. Como por um milagre o bebê havia sobrevivido sem um arranhão sequer. Maria tivera lesões graves, mas infelizmente, morreu minutos depois de dar entrada no hospital.
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No dia seguinte a notícia estava estampada nas principais manchetes. No país e no mundo a matéria principal não era Pedro, o recém-nascido retirado vivo dos escombros após vinte horas de busca. Falavam sobre Maria que foi resgatada com o filho ao peito... uma mãe que amou tanto o seu filho a ponto de protege-lo da morte, aquecendo-o e alimentando-o mesmo nos últimos instantes de sua vida.