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Cronicas-->Um palco com acessibilidades e visibilidades -- 17/01/2007 - 13:22 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
UM PALCO COM ACESSIBILIADDES E VISIBILIDADES
João Ferreira
Lisboa, 17 de janeiro de 2007

Estou em Lisboa, na véspera de embarcar para o Brasil. Lisboa, última etapa de minha viagem na Europa. Pensei por isso em escrever uma crónica. Mas não tive tempo de percorrer a cidade toda, desta vez. Não fui às Amoreiras, não fui ao Estoril nem a Cascais, não passei o Tejo em barco cacilheiro. Mas estive no Parque das Nações, no Vasco da Gama, no Largo do Areeiro, na avenida João XXI. Fui à Livraria Barata, na avenida Roma. Visitei o Chiado, onde admirei mais uma vez a estátua em bronze de Fernando Pessoa. Entrei na Livraria Sá da Costa, depois na Bertrand. Descendo, entrei nos armazéns da Grandela, visitei a Livraria Portugália onde comprei a biografia de José Mourinho para o João Alexandre, e desci até ao Rossio, passando pela rua primeiro de Dezembro. Do Rossio, desci pela majestosa rua Augusta, linda numa manhã de sol. Ultrapassei o arco da rua Augusta, até à Praça do Terreiro do Paço.
Portugal hoje faz parte da União Européia. Seus cidadãos são portadores de identidade e passaporte europeus. Com a documentação européia, a fronteira política, económica e de identificação não existe. Portugal é um lindo país, desenvolvido e atraente. Apesar da insatisfação que rola na boca de muitos patrícios que sentem na pele certas dificuldades de sobrevivência ou insatisfações de ordem geral, o certo é que, a partir de dados de observação com outros países europeus e não europeus, pode se dizer que Portugal está bastante bem. Bem, no sentido global. Porque Portugal é um dos países do mundo com mais baixo índice de mortalidade infantil e porque ocupa no panorama dos países do mundo um vigésimo sexto lugar em termos de IDH. Entre as coisas positivas que encontrei nesta viagem está o sistema de transportes. Para um pequeno país de dez milhões e meio de habitantes, o sistema rodoviário com suas belas auto-estradas, IPs e estradas nacionais e vicinais, é um avanço tecnológico e social de enorme alcance. O transporte em comboio ou trem é mais do que bom. Há trens velozes como o Alfa Pendular, com preços muito acessíveis. Uma segunda classe de Lisboa ao Porto (340 km) custa 28 euros. Os maiores de 65 anos pagam apenas metade. Tem comboios suburbanos que servem as vizinhanças das grandes cidades muito satisfatoriamente, em preços populares. Os passageiros podem tirar seus bilhetes no balcão das principais estações ou podem tirá-lo diretamente nas máquinas automáticas, o que cada cidadão residente está mais do que habituado a fazer. O metro do Porto é moderno e excelente. Os bilhetes são tirados pelo próprio viajante em máquinas automáticas. O preço é variável dependendo da distància ou zona para a qual se pretende tirar o bilhete. Há escadas rolantes modernas, elevadores para acesso. As cidades de Lisboa e Porto, que conhecemos melhor têm uma rede de ónibus ou autocarros bem delineada em percursos, horários. As pessoas podem comprar seus passes válidos por ano, mês, semana ou dia.
No que depende de coleta de lixo, as càmaras municipais de cada cidade têm um sistema de recolha com conteineres situados em pontos públicos para lixo selecionado: lixo orgànico, papel e cartão, latas, vidros,etc. Isto existe nas mais recónditas vilas do país.
Os bancos são organizadíssimos. Em cada esquina de uma cidade portuguesa e nas próprias concelhias ou autarquias do interior temos inúmeras caixas do multibanco, do Millenium, do BPI, do Totta, etc. O cidadão tem toda a facilidade de tirar em plena rua, em online, seu estrato de conta, ou dinheiro, ou ainda pagar suas contas.
Haverá sempre mil maneiras de julgar um país. É natural. Critérios, interesses, insatisfações, ambições multiplicam as críticas muitas vezes.Mas há que se fixar em pontos objetivos. Há críticos sempre colocando Portugal no último posto da Europa. Na verdade porém, ninguém em rigor, sabe qual é o lugar de Portugal na Europa. É possível, porém, dizer que, em nossa opinião, Portugal, genericamente falando, e tomando em conta a desorganização do mundo e carências da humanidade, Portugal está relativamente bem. Comparando situações e modos de existir observados nos vários do mundo, sim, podemos dizer que Portugal está realativamente bem. Sabemos, por exemplo, que em termos de macroeconomia, quem manda na Europa são a Alemanha, a Inglaterra, a França, a Itália e a Espanha. Ao lado, potentíssima, em termos de combustíveis (a Europa depende quase totalmente do gás que vem de lá) está a Rússia, uma potência que importa não esquecer quando se fala de China, índia como emergentes. A Rússia é da Europa mas não é da União Européia. Além da macroeconomia dos maiores países mais ricos da União Européia, que se distinguem pela produção, pela distribuição e pela força do PIB, existe a microeconomia dos Estados. É aqui que eu coloco Portugal. Sem expressão de vitrine da grande produção e competição, Portugal tem apesara de tudo grandes empresários com empresas podertosas e prósperas na Espanha, na França, na Polónia, no Brasil, na Venezuela, no Canadá, na África do Sul, Angola e outros países. São portugueses de Portugal esses empresários. Da diáspora. Quando o discurso entra pelos labirintos da comparação na União européia, nunca me detenho na macroeconomia, embora Portugal tenha seus méritos relativos e proporcionais. Cada país tem a força económica que tem. Fico na microeconomia. E aqui faço uma excursão de pensamento, tudo em termos relativos. Há um grande boom de construção em Espanha e os operários portugueses estão indo para a Espanha trabalhar. Ganham bem, segundo dizem eles próprios. Dois mil euros por mês ou mais, se trabalham horas extra. Há gente que pega aqui. E coloca a Espanha nos cornos da lua. Tudo bem. Fruto da força da macroeconomia, inegável como força na União Européia. Mas o Correo Gallego diz que cerca de oitenta por cento das famílias espanholas depois de pagarem a prestação da casa própria ficam sem dinheiro para poupança no fim do mês. O El País, grande porta-voz do país vizinho de Portugal, trouxe por estes dias uma extensa e detalhada reportagem, acompanhada de mapas estatísticos, sobre a pobreza extrema de quatrocentos mil galegos. Apesar disso, muitos portugueses continuam a pensar que a Espanha é o Eldorado. Quando se pergunta eles, não saberiam como iriam transformar esse Eldorado em proveito próprio se emigrassem para lá. Na Itália, há os mesmos problemas da globalização. Na Irlanda, a mesma coisa. Hoje, com a facilidade dada pelos bancos em termos dde crédito no mundo globalizado, o cidadão aproveita e entra no consumo provocando por vezes desequilíbrio nas contas familiares. Consumismo. No mundo todo. Portugal, Espanha, Brasil ou outro país qualquer. Um item que é próprio de nossos tempos. Estive em Milão. Uma cidade encantadora. Mas mostrando a Itália, com os problemas da imigração árabe, marroquina, latino-americana e o rosto do mundo globalizado, com graves problemas de desemprego, pequenas pensões das pessoas mais antigas, tráfico e consumo de droga,etc.
Ora bem. Agora estou no palco do Rossio. Neste palco, vejo uma coisa clara. Portugal, talvez longe do que muita gente que vive longe, pensa, é hoje e vai ser com mais verdade um país supermicegenado. Um país micegenado e talvez crioulizado.Daqui a vinte e cinco ou trinta anos, será muito visível.
Ao lado do Rossio, ali em frente da Igreja de S. Domingos é a praça dos africanos. Muitos negros de Guiné-Bissau, de Angola, de S. Tomé, de Cabo Verde e de Moçambique, com seus trajes típicos se reúnem ali. Para tudo: para encontros, negócios, confraternização. Assim, de uma maneira caseira, revitalizando a função que tinham as praças nas cidades da colonização, há um lugar público onde todos se encontram. Há muitos operários, muitos imigrantes negros africanos em Portugal. Muitos deles, servidores do antigo império colonial, incluindo ex-combatentes. Isso fica muito claro no Rossio e no Largo de S. Domingos, no metro, nos comboios de Sintra e de Cascais e até nos barcos cacilheiros do Tejo. É uma realidade que se estende para fora de Lisboa, para o Norte, embora em menor escala, esta presença negro-africana em Portugal.
E assim, fica este contraste. Ao lado das majestosas auto-estradas portuguesas e dos Shoppings exuberantes e moderníssimos de Lisboa, Porto, Gaia e de outras cidades portuguesas, onde as multinacionais dominam o comércio de roupas, eletrodomésticos e aparelhos de comunicação, com muitas FNACs espalhadas pelo país, temos esta realidade antropológica, bonita, cheia de realismo, onde Portugal, de vez, chega ao vértice da universidade, não no sentido pregado pelo Padre António Vieira em História do Futuro,
como realização de um Quinto Império, mas em termos de democrática universalidade onde todos os sangues se juntam, europeus ,portugueses, africanos, ucranianos, brasileiros, latino-americanos, franceses, espanhóis, macaenses, timorenses, chineses, indianos e outros.
Lisboa é uma Babel de Línguas. Às dez da manhã podemos comprar o Daily Mirror, Financial Times, The Wall Street Journal, The Daily Telegraph, ou La Republica, Il Corriere della sera, El Pais, Le Monde, etc. Pela rua Augusta desfila o turista. E as podereosas multinacionais Zara, H&M, Bruxelas, Bershka, Intimissimi tomam conta dos pontos estratégicos para vender. Raças, roupas, costumes, comidas, exibições. Baixinho, nas redes da comunicação e da TV fala-se do descontentamento dos portugueses com as reformas da saúde e do ensinmo. Eu passo e vejo o palco. E me lembro que em Milão, na Itália, os jornais mostravam a indignação dos reitores das Universidades contra a nova reforma universitária italiana. No fundo, na União Européia, para entendermos bem, temos de pensar em duas capitais e dois percursos: os mandatos vindos de Bruxelas, frios, e apátridas, planejados abstratamente, e os mandatos dos governos dos próprios países,e juntando a estes, as opiniões, as alegrias e os sofrimentos expressados e soltos nas ruas reais da vida, nos cantinhos sofridos das aldeias, pelos mais idosos que não foram preparados para este palanque desenvolvimentista da União Européia. Que a juventude se prepare e encaixe no processo e seja feliz. Para a geração antiga e velha, há dificuldades, haverá sofrimento ainda com reformas baixas. A Previdência não se preparou para isso. Mas se virmos tudo junto, globalmente , há desenvolvimento e as coisas melhoraram muito. Não há o que negar. Esta Europa ainda é, no mundo, alguma coisa que os homens criaram de bom em termos urbanos, em termos de organização democrática e em termos de vida social.
Descontados os termos de desprazer e de descontentamento pessoal, que todas as sociedades absorvem, o saldo é mais positivo do que negativo.
João Ferreira
Lisboa, 17 de janeiro de 2007
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