Pérfida*
Francisca Júlia**
Disse-lhe o poeta: "Aqui, sob estes ramos,
Sob estas verdes laçarias bravas,
Ah! quantos beijos, trêmula, me davas!
Ah! quantas horas de prazer passamos!
Foi aqui mesmo, - como tu me amavas!
Foi aqui, sob os flóridos recamos
Desta ramagem, que uma rede alçamos
Em que teu corpo, mole, repousavas.
Horas passava junto a ti, bem perto
De ti. Que gozo então! Mas pouco a pouco,
Todo esse amor calcaste sob os pés."
"Mas, disse-lhe ela, quem és tu? Decerto,
Essa mulher de quem tu falas, louco,
Não, não sou eu, porque não sei quem és..."
* Seleção de Napoleão Valadares (Jornal da Ane, nº 66, outubro/novembro de 2015, p.2).
** Francisca Júlia da Silva, 31/08/1871, Xiririca (SP), falece em 01/11/1920. |